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17 projetos mirabolantes da 2ª Guerra Mundial que nunca saíram do papel

Na busca pela vitória, alemães e britânicos elaboraram ideias que soavam devastadoras na teoria, mas que não tiveram chance de ser postas em prática – ou foram, com resultados desastrosos.

Por Fábio Marton
Atualizado em 8 jan 2021, 10h35 - Publicado em 30 nov 2019, 17h28

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A ideia é a mais óbvia possível: criar um bombardeiro capaz de chegar aos Estados Unidos. E começou antes da guerra: em 1938, o líder da Aeronáutica nazista, Herman Göring, já havia anunciado em público que desejava um avião capaz de levar 4,5 toneladas de bombas até Nova York, ida e volta. Que isso iria “fechar a boca da arrogância do outro lado do mar”. O maior bombardeiro operacional da Alemanha, o He 177, não chegava nem perto: seu alcance máximo era 1.540 km. Entre Berlim e Nova York, são 6.360 km. Saindo da França ocupada, por volta de 5.500 km. O projeto, assim, foi lançado oficialmente em 27 de abril de 1942. O plano previa o ataque saindo do arquipélago Açores (os alemães ainda contavam com boas relações com os portugueses), a menor distância de um ponto ainda considerado parte da Europa – a 3.961 km de Nova York. Com isso, o interior dos EUA também ficaria acessível. Da primeira versão do Amerikabomber, surgiram quatro projetos: o Messerschmitt Me 264 (retratado acima), o Focke-Wulf Fw 300, o Focke-Wulf Ta 400, o Junkers Ju 390. O primeiro e o último foram os únicos a ganhar protótipos operacionais. Ambos máquinas formidáveis, comparáveis aos mais avançados bombardeiros Aliados – o 264 era até fisicamente parecido com um B-29. Ambos não indo adiante devido à falta de materiais conforme a Alemanha ia perdendo a guerra. O projeto Amerikabomber também levou a ideias mais exóticas, que nunca saíram da prancheta. O Huckepack Projekt (“Projeto Carregando nas Costas”), no qual um bombardeiro pesado He 177 levaria um bombardeiro médio Do 217 em cima, separando-se no Atlântico. Sem combustível para voltar, o piloto do 217 saltaria no mar após o ataque, para ser recolhido por submarinos.Também foi cogitada uma versão gigante da já futurista asa-voadora a jato Ho-229. E um incrivelmente futurista bombardeiro orbital. (Bundesarchiv/Wikimedia Commons)
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Versão gigante do caça futurista Ho 229, que ficou na prancheta. Se fosse construída, seria uma formidável ameaça: o formato reflete ondas de rádio, tornando a detecção por radar difícil, e sua velocidade o tornaria impossível de interceptar pelos caças a hélice. O B-2 americano é um herdeiro do conceito: os planos foram capturados pelos americanos na Operação Paperclip. Em 1947, eles basicamente construíram o H.XVIII: foi o Northrop YB-49, candidato a bombardeiro atômico rejeitado em favor do B-36. (myself/Wikimedia Commons)
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O maior bombardeiro terrestre feito na guerra (75 toneladas, versus 60 do B-29) não viu combate. Mas era realmente promissor, foi bem nos testes, e poderia muito bem ter mesmo atacado Nova York (há relatos de que chegou ao litoral dos EUA, visitou a África do Sul e o Japão, nenhum confirmado). Mas, na metade de 1944, a Alemanha decidiu desviar suas atenções para os mais impressionantes jatos. (Reprodução/Domínio Público)
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Talvez o mais ambicioso projeto aéreo de toda a guerra: uma nave espacial para bombardear os EUA. Funcionaria assim: o “pássaro de prata” (significado do nome) seria acelerado em um carro a foguete, em trilhos, a até 1.920 km/h, decolando e ativando seus próprios foguetes, para chegar a 21.800 km/h e 145 km de altitude. Mas não entraria em órbita. No lugar disso, ao descer de volta para a atmosfera, o avião iria ganhar sustentação e “quicar” de volta para o alto, repetindo o processo até lançar sua carga nos EUA e, finalmente, pousar em território amigo no Japão. (Eugen Sänger/Wikimedia Commons)
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A frente cheia de janelas lembra muito o B-29 americano, mas foi um caso de evolução convergente, de visibilidade aos pilotos, essencial em missões longas sem apoio de caças. A versão alemã tinha muito menos armas, dada a necessidade de extrema autonomia (15.000 km, mais que um B-52 moderno; compare aos 5.230 km do B-29). (Bundesarchiv,/Wikimedia Commons)
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O Japão também tinha sua versão do Amerikabomber e seu nome era Projeto Z. Antes mesmo do ataque de Pearl Harbor, eles já haviam produzido o bombardeiro pesado Nakajima G5N – que voou a contento, mas não havia motores capazes de fazer cumprir sua missão, então os quatro protótipos foram convertidos em transportes mais modestos. As coisas que ficaram no papel incluíram uma versão japonesa do B-29, o Kawasaki Ki-91, e o Nakajima G10N, um delírio capaz de decolar com 160 toneladas, depois reduzido a mais realista de 70 toneladas – ambos com a ideia de atacar até Nova York, com um alcance de até 19.400 km. A fantasia foi abandonada em março de 1944. (Reprodução/Domínio Público)
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Em 1943, o líder da Luftwaffe, Herman Göring, pediu pelo impossível: um bombardeiro capaz de se mover a 1.000 km/h, com um alcance de 1.000 km e capaz de levar 1.000 kg de bombas. Os irmãos Horten, Water e Reimar, se saíram com a coisa mais futurista a cruzar os céus até então: uma asa voadora a jato. A ideia não era escapar do radar: isso é um efeito colateral do formato de asa voadora que ainda não era entendido. Eles queriam diminuir o atrito com o ar ao maximizar a superfície útil, sem partes que não servem para sustentação, como a cauda. O Ho 229 foi uma das últimas esperanças do Reich. Em março de 1945, às vésperas do fim da guerra, o terceiro protótipo estava sendo montado com urgência, para dar início às 20 unidades encomendadas. Não deu tempo. (US Gov/Domínio Público)
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O cone no nariz do avião, com 400 kg de explosivos, é sua arma. A ideia era soltá-lo de um bombardeiro alemão, ligando seu motor a foguete e disparando na direção da formação de bombardeiros inimigos, mergulhando a 45°. O cone então se separaria, explodindo no ar, de preferência, para atingir o maior número de aviões inimigos, ou acertando algum diretamente. E o piloto teria que se virar para escapar à própria explosão e aos destroços dos bombardeiros. (Xufanc/Wikimedia Commons)
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Matar na trombada. É a ideia nada sutil por trás do “caça-aríete”. Como o 344 acima, ele iria na asa de um bombardeiro até a formação inimiga, ligaria seus motores a foguete, e então faria um ataque duplo: o primeiro, convencional, lançando seus 14 foguetes no nariz. O segundo seria simplesmente abalroar um, ou até mais de um, bombardeiro inimigo. A ideia não era matar o piloto: o avião, com cabine e asas ultrarreforçadas, seria supostamente capaz de sobreviver ao impacto. Nunca foi feito, mas, na vida real, a estratégia mais ou menos funcionou com aviões convencionais. (Xufanc/Wikimedia Commons)
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Um míssil com um humano dentro. Que lança mísseis. E, ainda assim, um dos projetos mais sensatos do fim da guerra. A ideia era fazer o máximo com o mínimo: o Natter (“cobra”) era construído com madeira colada e pregada para economizar material. E a parte mais importante na economia: o piloto. O míssil guiava a si próprio até se aproximar da esquadrilha inimiga. Só então o humano precariamente treinado pegaria os controles, apontaria o avião na direção do adversário e dispararia seus 19 foguetes R-4M, o que exigia quase pontaria nenhuma. Depois disso, não precisava saber pousar: após o ataque, o piloto saltava de paraquedas e a aeronave também ativava o seu, podendo ser recuperada. O Natter seria lançado na vertical, de bases escondidas, de forma a superar a vulnerabilidade dos aeroportos, facilmente identificados e destruídos. O primeiro teste foi em 10 de março de 1945, matando seu piloto. Mais três testes foram feitos no mesmo dia. O Natter foi declarado um sucesso, uma bateria de dez deles foi posta de prontidão próxima a Stuttgart, mas nunca veio o ataque inimigo para o qual haviam sido projetados. (Deutsches Museum/Wikimedia Commons)
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Outra solução radical para os mesmos problemas do Natter: um avião com uma hélice gigante que decolava como um helicóptero e se reorientava no ar. A parte exótica é: no lugar de um motor central, cada hélice teria um motor a jato na ponta. Pode parecer ideia de criança, mas tinha uma função: como a propulsão ficava na ponta das hélices, não no avião, isso evitaria que ele tendesse a rodar na direção oposta, como acontece com helicópteros, que são, por isso, imensamente difíceis de pilotar. Nenhum protótipo foi feito. (Reprodução/Domínio Público)
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Talvez ainda mais radical que o Triblflügel, mais uma tentativa de criar uma máquina de decolagem vertical. É um “coleóptero”, um avião com asa em forma de anel e duas hélices, girando em direções opostas dentro desse anel. Depois da guerra, uma versão a jato, o Snecma Coléoptère, foi criada na França, e perdida num acidente após alguns testes. No final, os helicópteros acabaram ocupando o papel esperado. (Hubschrauber museum/Wikimedia Commons)
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O maior tanque já construído. Quão maior? Equivalente, em peso, a três tanques M1 Abrams atuais (65 t), e também quase três Tiger II (70 t), o maior que viu combate na Segunda Guerra. E, com intencional ironia, mas também numa manobra de disfarce, batizado de “camundongo”. A ideia era simples e óbvia: fazer algo que destruísse qualquer tanque Aliado e fosse completamente imune a suas armas. Imune a ponto de nem sofrer dano nos seus sistemas internos. O Maus, dotado de um canhão de 128 mm (os dos Aliados tinham 76 mm), seria capaz de destruir adversários a até 3.500 m. Os Aliados já penavam para fazer qualquer dano ao Tiger II, bem menos protegido que seu sucessor, a menos de 1.000 m. Com tanta blindagem, o Maus seria invulnerável também de perto. Mas a guerra real não é história em quadrinhos. O projeto começou em 1942, estava pronto para sair da fábrica em 1944, a tempo de enfrentar os Aliados na invasão da Normandia. Mas considerações mundanas barraram sua estreia. Uma: na prática, ele não era muito eficiente. Depois de testar vários motores que pudessem mover a monstruosidade, ela conseguiu andar a 20 km/h, suficiente para ser acompanhada andando rápido. Isso enquanto a principal arma antitanque americana, o caça-tanques M18 Hellcat, ia a 80 km/h, e o soviético T-34, 53 km/h. Quase uma peça de artilharia fixa, que, mesmo se invencível, chegaria tarde demais aonde fosse necessária. Isso se chegasse: com esse peso todo, não podia cruzar pontes, precisava ir pelo fundo do rio, podendo submergir até 8 m com um snorkel. A baixa velocidade também tornaria fácil atingi-lo pelo ar. O Maus chegara a ser encomendado em julho de 1944, e logo cancelado. Testes de uma versão 2 começaram em setembro. Mas o fim da guerra e a falta de recursos não permitiam mais delírios de grandeza. (Domínio Público/Wikimedia Commons)
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A hilariamente chamada Bat Bomb seria lançada de um avião contendo morcegos. Cairia de paraquedas e se abriria no ar, soltando os animais. A ideia é que eles buscassem abrigo nas casas de madeira japonesas, quando as bombas contendo napalm presas em seus rabos explodiriam, causando uma catástrofe. Catástrofe aconteceu: em 15 de maio de 1943, morcegos escaparam de seus algozes na base de Carlsbad, Novo México, que terminou incinerada. No final, o projeto foi abandonado em favor da bomba atômica. (Andy Faria/Superinteressante)
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O Maus, acima, surgiu de um estudo das indústrias Krupp, sugerindo soluções para a superioridade numérica soviética, apresentado a Hitler em junho de 1942. O mesmo estudo propôs seu irmão ainda maior, o Ratte (“rato”). Um navio de solo, um “cruzador terrestre” (landkreuzer). O canhão principal, de 280 mm, seria adaptado de encouraçados – que esperava-se poder ser, usando dez motores, movido a 40 km/h. Hitler se encantou com o projeto e deu sinal verde, junto com o Maus. Mas o Ratte, em 1943, foi bloqueado por Albert Speer, o ministro dos Armamentos, chamando-o de “fantasia”. Em dezembro de 1942, a Krupp havia proposto o P. 1500, com quase 2.000 toneladas, carregando a arma Gustav. Mas essa seria uma peça de artilharia, não um megatanque. (Reprodução/Wikimedia Commons)
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Nem só os nazistas tinham mania de grandeza. Os Aliados planejaram uma verdadeira ilha móvel no mar, uma forma de patrulhar o Atlântico para além do alcance de seus bombardeiros. A ideia veio da cabeça do inventor George Pyke: um iceberg seria aplanado para criar uma ilha porta-aviões. Churchill deu sinal verde. A parte prática caiu nas mãos do físico Max Perutz. Ele logo descartou o iceberg, porque sua área sobre a água é pequena e eles tendem a tombar. Então um modelo artificial, de 9 metros por 18 metros, e 1.000 toneladas de gelo, foi feito no Canadá, refrigerado artificialmente e reforçado com aço. Ele durou o verão inteiro, mas o gelo acabou se revelando muito frágil. Teria parado por aí, mas a equipe de pesquisas descobriu que, ao misturar pó de serra ao gelo, ele se tornava tão sólido quanto o concreto, e muito difícil de derreter. O material foi batizado de “pykrete”, em homenagem a George. Perutz, porém, notou que, por pura física, mesmo o poderoso pikrete começava a perder a forma sob seu próprio peso e, para ser estável, teria que ser mantido a -16° C. E assim o Projeto Habakkuk chegou à sua colossal forma final: uma fortaleza de pykrete de 1.200 m por 180 m, 2,2 milhões de toneladas, usando de quilômetros e quilômetros de tubos para mantê-la refrigerada. Poderia abrigar centenas de aviões convencionais, não adaptados a porta-aviões. A matemática falou mais alto. A essa altura, estava claro que fazer o Habakkuk exigiria mais material, máquinas e mão de obra que uma esquadra inteira de porta-aviões – só em aço já daria o volume dos navios. Em dezembro de 1943, o projeto foi, perdoe a piada, posto no gelo. (IWM/Domínio Público)
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Difícil decidir o que é mais ridículo: o nome da arma, seu aspecto ou seu resultado. Duas rodas movidas a foguetes, com seu “eixo” sendo com uma carga enorme de explosivos – 1.800 kg. Posta para rodar a 97 km/h na direção das fortificações alemãs na Normandia. O nome é de um poema cômico de Samuel Foote e não quer dizer basicamente nada. A geringonça andava, mas era completamente incontrolável. Em um de seus testes, os foguetes se soltaram e ele deu meia-volta na direção dos generais assistindo, que correram para se esconder, antes de virar de novo e se despedaçar no mar. (IWM/Domínio Público)
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