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Você ainda vai voar de zepelim

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h16 - Publicado em 31 jul 1997, 22h00

João Luiz Guimarães

Não é a banda de rock. Desta vez é o próprio zepelim que está voltando. Depois de sessenta anos fora do ar, os dirigíveis voltam a ser fabricados. E aí vai ser como nos anos 30. Você compra uma passagem e sai para boiar no céu, feito bolha de sabão.

Um sonho em forma de charuto

A família acaba de almoçar, levanta-se da mesa e caminha até uma imensa janela de vidro. As crianças vibram e apontam para zebras e girafas. O pai avista um grupo de leoas que se aproxima da manada. Calma, não há perigo. A família não está em casa, mas flutuando lenta e confortavelmente sobre uma reserva na África, a cerca de 30 metros de altura. Ela está a bordo de um dirigível modelo 1997. Sonho? Sim, mas também realidade.

O charuto voador desapareceu dos céus há sessenta anos. Mais exatamente, no dia 6 de maio de 1937, quando o maior de todos os dirigíveis, o Hindenburg, incendiou-se em Nova Jersey, nos Estados Unidos, matando 36 dos 97 passageiros. Contrariando todas as normas de segurança, o Hindenburg não usou hélio, mas hidrogênio, um gás inflamável, para ficar mais leve que o ar. Essa falta de cuidado resultou numa tragédia que chocou o mundo. O trauma do acidente foi tamanho que ninguém podia mais ouvir falar em dirigíveis. Eles foram praticamente aposentados.

Agora, o choque já vai longe. E o velho risco não existe mais. O novo dirigível, o Zeppelin NT (de new technology), que fará seu vôo inaugural até o final de agosto na Alemanha, tem o seu balão cheio de hélio. Não pega fogo de jeito nenhum. Tem ainda computador de bordo e um sistema de navegação comparável aos dos aviões mais modernos. Não que ele vá competir com aviões. Sua velocidade máxima é de apenas 140 quilômetros por hora e a passagem não será barata (afinal, esse primeiro modelo transportará apenas doze passageiros em primeiríssima classe).

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O Zeppelin NT é silencioso, não polui a atmosfera e parece mesmo um sonho. Embora possa atingir uma altitude de 2 500 metros, ele é ideal para os rasantes em câmera lenta. Assim, numa ponte aérea entre o Rio de Janeiro e São Paulo, você vai ver as praias do ponto de vista das gaivotas.

Planando no céu.

Nostalgia e modernidade voam juntas

Nos anos 30, o dirigível era relativamente comum, mas a passagem era salgada: 450 dólares na época (o equivalente a uns 5 000 dólares atuais) para cruzar o Atlântico. Uma viagem de Paris a Nova York levava dois dias. Era chique. Algumas cidades brasileiras tinham até atracadouros especiais. No Recife, existe ainda hoje um “zepporto”, preservado como relíquia histórica. Quem sabe agora ele não seja reativado.

Em 1900, surgiu o mais famoso de todos dirigíveis: o LZ-1 Zeppelin. O nome era uma homenagem ao conde Ferdinand von Zeppelin (1838-1917), o maior construtor dos “charutos voadores” de todos os tempos. Dos 163 aparelhos fabricados até 1936, nada menos do que 135 saíram da empresa fundada pelo conde voador. Agora, a empresa continua. O novo Zeppelin NT será fabricado por ela. Até o ano 2000, serão construídas cinco unidades (todas para doze passageiros) destinadas a vôos turísticos e científicos na Alemanha. A reestréia do dirigível acontecerá em Friedrichshafen, a cidadezinha do sul da Alemanha onde nasceu o LZ-1. Depois, virão modelos bem maiores.

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Embora esquecidos desde a tragédia do Hindenburg, que também foi fabricado na empresa do conde, os dirigíveis jamais sumiram por completo. Mas foi só a partir da crise do petróleo de 1973 que se voltou a pensar neles como um transporte viável. Afinal, gastam três vezes menos combustível do que um avião, e dão conta de transportar até 200 toneladas. O engenheiro aeronáutico Sérgio Bittencourt Varella, com doutorado em dirigíveis na Inglaterra, garante que o zepelim é uma alternativa interessante para o Brasil: “Regiões como o Centro-Oeste e o Norte do país poderiam escoar melhor sua produção agropecuária pelo ar.”

Para saber mais

Internet: Home page oficial Zeppelin:https://spot.colorado.edu/~dziadeck/zeppelin.html

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Gôndola terá tecnologia de avião

Eis o veículo aéreo mais confortável e politicamente correto que existe: silencioso, estável, tem janelas enormes, poltronas relaxantes e, melhor de tudo, não polui.

Painel com luz própria

Além de computadores, radares e GPS, o NT tem a tecnologia chamada de fly-by-light (vôo comandado por luz). Traduzindo: várias partes da nave são ligadas ao painel por fibra ótica.

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Gôndola de mordomias

Ela acomoda doze passageiros e dois pilotos. Air bags protegem a cabine na eventualidade de um pouso difícil. Os motores ficam longe. Não há ruídos nem trepidação.

O sobe-e-desce

Uma bolsa de ar, associada à posição das hélices laterais, regula a flutuabilidade

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Para subir, esvazia-se uma câmara inflável, cheia de ar comprimido. Assim o hélio se expande. E o dirigível sobe.

Quando a câmara-de-ar é inflada novamente, o hélio se comprime. O dirigível ganha o peso do ar e começa a descida.

Por dentro do iate voador

Veja como funciona o Zeppelin NT, um prodígio tecnológico que tem sabor de nostalgia

Fazendo o gigante voar

O Zeppelin NT flutua porque está cheio de hélio, gás mais leve do que o ar. Com isso, consegue fazer seu enorme corpo levitar. Há também o fator empuxo. Isto é, o ar deslocado pelo corpo volumoso do dirigível tenta voltar a ocupar o espaço em que estava antes. Ao fazer isso, acaba exercendo pressão de baixo para cima e empurra a aeronave para o alto.

Esqueleto do “charuto”

A estrutura é formada por onze armações triangulares unidas por três barras horizontais, as longarinas. Uma liga de alumínio e fibra de carbono dá leveza e resistência ao esqueleto. A lona tem cinco camadas de tecidos sintéticos, reforçados e impermeáveis. Os dirigíveis antigos tinham aço e duralumínio, muito mais pesados.

Ela navega

São três motores de 200 HP (cavalos). Para você ter uma idéia, um motor de Fusca tem 44 HP e uma BMW 328 tem 193 HP. As duas hélices traseiras, ligadas a um motor só, fazem o Zeppelin NT andar para a frente, ajustam sua inclinação e ajudam nas curvas. A maior delas, além ser a responsável pela velocidade, é basculante. Com isso, consegue inclinar o NT em relação à linha horizontal. Inclinado, ele se comporta como uma enorme asa, cortando o ar para cima ou para baixo.

A hélice menor, que é fixa e perpendicular ao dirigível, é acionada para que o NT consiga fazer curvas muito mais fechadas que os dirigíveis antigos. Já as duas hélices laterais, cada uma ligada a um motor, também mudam de posição. Na horizontal, funcionam como freio. Na vertical, ventilam para o alto, reforçando assim a operação de descida.

Ficha técnica

Comprimento: 75 metros

Diâmetro: 14,2 metros

Peso: 6 950 quilos

Volume: 8 200 metros cúbicos

Autonomia de vôo: 36 horas (com peso mínimo) e 18 horas (com peso máximo)

Velocidade máxima: 140 km/h

Velocidade de cruzeiro: 115 km/h

Altitude máxima: 2 500 metros

Capacidade de carga: 2 toneladas (1 850 quilos)

Capacidade da gôndola: doze passageiros e dois pilotos

Motores: três Lycoming 200 HP

Custo: 6,8 milhões de dólares

Fabricante: Zeppelin Luftschifftbau

Parece enorme, mas já foi muito maior

Tão grande quanto um Boeing 747, o novo Zeppelin NT parece miniatura quando comparado aos dirigíveis históricos. Tem apenas um terço do tamanho do Hindenburg.

Boeing 747

68 metros de comprimento e transporta, em média, 430 passageiros

Hindenburg

245 metros de comprimento, 41 metros de diâmetro, 200 000 metros cúbicos de volume

Zeppelin NT

75 metros de comprimento, 14 metros de diâmetro, 8 200 metros cúbicos

Calculando o mínimo zepelim

Cada metro cúbico de hélio consegue erguer 1 quilo de peso do chão. Logo, quem pesa 80 quilos precisa de um dirigível com um volume mínimo de 80 metros cúbicos para começar a flutuar. Ou seja, o mesmo que uma sala com 8 metros de comprimento, 5 de profundidade e 2 de altura.

As 1 001 utilidades de um zepelim

Além de divertimento, lazer e turismo, há muito serviço “sério” para ser feito

Transporte de cargas

Escoamento de produção agrícola

Mapeamento topográfico pesquisa e prospecção de recursos naturais

Patrulhamento da costa e fronteiras

Experiências científicas

Publicidade (outdoors aéreos)

O tempo voa – e é mais leve que o ar

A história do dirigível caminha lado a lado com a do balão de ar quente – primeiro artefato construído pelo homem capaz de elevá-lo às alturas.

1884

O La France foi o primeiro dirigível bem-sucedido. Construído pelos franceses Charles Renard e A.C. Krebs, sobrevoou Paris num trajeto de 8 quilômetros.

1894-1904

Nesse período radicado em Paris, o brasileiro Alberto Santos Dumont construiu catorze dirigíveis.

1900

O conde Ferdinand von Zeppelin (foto), o maior construtor de dirigíveis, lança os “charutos voadores” que levaram seu nome.

1914-1918

Primeira Guerra Mundial. A Alemanha usa dirigíveis para bombardear a Inglaterra.

1919

Primeiro vôo transatlântico, da Escócia para os Estados Unidos.

1924

Estados Unidos fazem o dirigível Los Angeles, conhecido como “A Rainha do Ar”. Tinha 200 metros de comprimento.

1927-1928

Primeira volta ao mundo, no dirigível alemão Graf (conde) Zeppelin. A viagem durou 21 dias, com 54 passageiros a bordo.

1930

Zepelins fazem vôos regulares para cidades brasileiras. Recife conserva até hoje o mastro (foto) que amarrava a aeronave.

1937

Acidente com o alemão Hindenburg (foto) em Nova Jersey, nos Estados Unidos. Na falta de hélio, os alemães usaram o hidrogênio, altamente inflamável, para fazê-lo voar, contrariando as normas de segurança. O “Titanic aéreo”, como o acidente ficou conhecido, matou 36 pessoas e encerrou a era dos dirigíveis.

1993

Projeto russo de dirigível em forma de disco voador (foto). Usando um helicóptero acoplado a uma espécie de envelope discóide, este talvez tenha sido o dirigível de formato mais original. Mas não funicionou muito bem. Foi abandonado no ano seguinte.

Como serão os zepportos, os portos de dirigíveis

Silenciosos, pouco poluidores e com capacidade de pouso e decolagem na vertical, eles não precisarão de instalações complicadas para pousar e decolar.

Atracadouros com postes retráteis – como torres que sobem e descem, feito antenas de automóvel – poderiam ser associados a estações de trem, de ônibus ou de metrô, em qualquer centro de muito movimento. As soluções de transporte trazidas pelos dirigíveis são inúmeras.

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