A cura da terra pela terra
Um projeto inovador propõe a utilização de pó de rocha para fertilizar a terra, ajudando na reciclagem de entulho de pedreiras e minerações. Além disso, é uma solução perfeita para o pequeno produtor, como os agricultores do programa de reforma agrária
Lauro Henriques Jr., de João Pinheiro, MG
Na chegada ao assentamento Fruta D’Anta, no município de João Pinheiro, em Minas Gerais, estranhamos a presença de uma guarita abandonada na entrada. Logo saberíamos o porquê. Ninguém menos do que o braço direito do mafioso italiano Tomazzo Buschetta era o dono daquelas terras, desapropriadas pelo Incra em 1986. E foi justamente lá, no assentamento, que a equipe da Super conheceu de perto um projeto que, ao criar um modelo natural de fertilização da terra, apresenta uma alternativa viável para o meio ambiente e para o pequeno produtor rural.
Chamado de rochagem, o processo consiste na fertilização do solo pela adição de pó de rocha na terra. Nada de químicos. Simplesmente a terra fertilizando a terra. E o que é melhor: com um custo quase 20 vezes menor do que a aplicação de insumos convencionais – afinal, para obter o pó de rocha é só estender as mãos para o chão. Além de todas as regiões brasileiras contarem com depósitos de rocha vulcânica – rica em nutrientes –, o programa encontrou uma solução perfeita: a reciclagem de rejeitos de minerações e pedreiras, responsáveis por impactos ambientais por todo o país. E tem mais. As lavouras adubadas com o pó de rocha têm uma produtividade maior, com plantas mais desenvolvidas e resistentes a pragas.
Natural, eficaz e, principalmente, mais barato, o projeto tem outra vantagem: ajuda a garantir a sobrevivência da agricultura familiar, que responde pela maioria dos estabelecimentos rurais no país. “É a solução ideal para o pequeno agricultor, especialmente para os programas de reforma agrária. A maioria dos assentamentos está em terras degradadas, que geralmente são improdutivas e, por isso, desapropriadas”, diz a geóloga Suzi Huff Theodoro, coordenadora do projeto e pesquisadora do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília.
A história toda começou em 1997, quando 20 famílias do assentamento resolveram apostar na idéia. “Ficou uma beleza. Colhi 40 sacas de milho. Antes, eram só umas 25”, afirma o agricultor Nascimento Borges de Mendonça, de 56 anos. Com o tempo, os produtores também foram se conscientizando do ganho ambiental e da importância de se produzir em equilíbrio com a natureza. Como no caso de Manoel Nunes do Prado, o seu Manoelzinho, de 69 anos. Depois de pôr abaixo a vegetação nativa de seu lote para dar lugar a pastos – e penar com um solo a cada dia mais empobrecido –, ele aprendeu que é possível lidar com a terra sem ser preciso esgotá-la. “Só usávamos esses químicos porque não havia outra opção. O que queremos é ter uma vida saudável”, diz ele. “Eu não tinha fé com a terra e, hoje, me sinto muito orgulhoso com o que consegui.”