Além dos canaviais
Com o Projeto Natureza Vamos Proteger, o Grupo João Lyra tem ajudado a salvar o jacaré-do-papo-amarelo, já fora da lista dos animais ameaçados de extinção
Rodrigo Cavalcante, de Coruripe, AL
Verde é o que não falta na paisagem da rodovia AL-101 que liga Maceió ao litoral sul de Alagoas. De um lado da pista, estão os coqueiros espalhados por toda a costa. Do outro, os canaviais que alimentam a economia do estado. Um belo cartão-postal, não fosse por um problema: nenhuma das duas paisagens é natural. Isso mesmo: assim como os canaviais chegaram por aqui no século 16, os coqueiros também foram disseminados pelos colonizadores europeus. Quem pagou a conta, claro, foi a Mata Atlântica, quase totalmente extinta da região junto com os animais que viviam por lá.
Apesar da devastação que a cana produziu na vegetação nativa e na fauna do estado, ainda é possível ter uma idéia de como o cenário era antes da chegada dos colonizadores. Tudo graças ao Projeto Natureza Vamos Proteger, do Grupo João Lyra. Por ser detentor das maiores usinas de cana-de-açúcar de Alagoas, desde 1996 o grupo assumiu a responsabilidade de garantir a preservação de verdadeiros santuários do que restou da Mata Atlântica no estado. O mais importante deles é o Santuário Ecológico do Jacaré-do-Papo-Amarelo, em Coruripe, onde a espécie, Caiman latrilostris, vive solta num complexo de cinco grandes lagoas com quase 880 hectares de espelho d’água. Quem visita o santuário sente-se voltando no tempo e pode constatar como era a flora e a fauna local antes da invasão dos canaviais nos séculos 16 e 17.
“A região tem uma das maiores densidades da população de jacarés-do-papo-amarelo no país”, diz o professor Luciano Verdade, estudioso da espécie e professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP. “Apesar de ter sido recentemente retirada da lista de animais em risco de extinção, a preservação da área é fundamental para a espécie.”
Para assegurar a sobrevivência dos jacarés e outros animais, como lontras e diversas espécies de pássaros, o Projeto Natureza Vamos Proteger também tem feito parcerias com as secretarias de educação dos municípios da região, ajudando na formação dos professores em educação ambiental. “Com isso, eles conseguem sensibilizar os alunos e ajudam a diminuir a pressão da caça”, diz Marta Ribeira, engenheira agrônoma e consultora ambiental do grupo. Além do santuário em Coruripe, a empresa adquiriu outra área de 100,5 hectares no interior do estado, que é hoje Reserva Particular do Patrimônio Natural. Conhecido como Santuário Ecológico da Fazenda Santa Tereza, o local é sede de um criadouro de animais que abriga espécies apreendidas pelo Ibama – já que o órgão ainda não tem condições de mantê-los com saúde no estado. “O próximo passo é criar um programa de inserção desses animais na mata”, diz o médico veterinário Marcelino Barros. O primeiro passo, pelo menos, já foi dado.