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Amazônia , do verde às verdinhas

A empresa Muaná Alimentos, na ilha de Marajó, prova, com sua produção de palmito e polpa de açaí, que é possível ganhar dinheiro respeitando a flora da Amazônia.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h06 - Publicado em 31 Maio 2002, 22h00

Rodrigo Cavalcante, de Muaná, PA

O barco que parte de Belém numa viagem de sete horas até a pequena Muaná, na ilha de Marajó, não costuma levar turistas a bordo. Afinal, a cidade de 6 000 habitantes não tem campos de búfalo, ecoturismo, nem os belos pássaros guarás que atraem anualmente milhares de visitantes para a maior ilha fluvial do mundo. Muaná, um lugarejo isolado no meio da floresta, é sede de um projeto de extração do açaí que se tornou um exemplo no mundo de como é possível preservar a Amazônia gerando renda e emprego para os moradores locais.

Criado pela Muaná Alimentos, empresa produtora de palmito e polpa de açaí, o Projeto Açaí Marajoara vem disseminando a exploração sustentável da planta em mais de 4 000 hectares de florestas de várzeas. “Queremos provar que o desenvolvimento local não é incompatível com a preservação da biodiversidade e tornar essa preservação uma vantagem competitiva para os nossos produtos”, diz Alexandra Almeida, uma das agrônomas responsáveis pelo projeto. “Se queremos salvar a floresta, temos que produzir rendimento e emprego na Amazônia”, diz Paulo Nogueira Neto, um dos pioneiros do movimento ambiental no Brasil e membro da comissão julgadora do prêmio. “O Projeto Açaí Marajoara é uma prova da viabilidade econômica da região.”

É provável que nem o surfista que toma a polpa da fruta do açaí nem o chefe de cozinha que usa o palmito em suas receitas, imagine as conseqüências que a extração indiscriminada da planta pode trazer à flora e à fauna da Amazônia. Como o açaí cresce mais em locais ensolarados, os palmiteiros costumavam derrubar sem nenhum critério qualquer árvore que fizesse sombra sobre a planta. O resultado era o desmatamento de quase toda a vegetação nativa, assim como o desaparecimento das espécies animais que viviam dessa vegetação. “Antes, o que interessava era a quantidade de palmito, não a qualidade”, diz Helios dos Santos Rodrigues, técnico florestal da Muaná Alimentos. “Hoje os fornecedores são orientados a produzir dentro dos padrões ambientais.”

Esses padrões de extração do palmito desenvolvidos pela empresa começam com a demarcação das terras dos açaizais e a delimitação de uma área de vegetação nativa que deve permanecer intocada. “É por meio da análise dessas reservas que podemos avaliar o impacto ambiental da cultura do açaí na vegetação nativa”, diz Alexandra. Nos outros pontos onde estão concentrados os açaizeiros, segue-se rigorosamente a norma de que pelo menos 10% da vegetação nativa permanecerá intacta. O passo seguinte é a extração correta do palmito, preservando as touceiras jovens para que a mesma planta possa produzir mais, em períodos alternados, durante o ano inteiro (a touceira é o tronco da árvore, de onde se tira o palmito. Cada açaizeiro tem várias touceiras).

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A técnica de extração do palmito sem devastar o ambiente fez com que a Muaná Alimentos fosse a primeira empresa do Brasil e a segunda do mundo a obter a certificação para produtos não-madeireiros do Conselho de Manejo Florestal – o FSC na sigla em inglês –, o selo que garante que a extração de madeira e de outros recursos da floresta foi realizada de forma não-predatória. O compromisso ambiental garantiu à empresa uma injeção de 1,5 milhão de dólares do fundo internacional Terra Capital, o primeiro no mundo destinado a capitalizar projetos empresariais para preservar a biodiversidade. “Como o açaí precisa da floresta, nosso futuro depende da preservação”, diz o presidente da empresa Georges Schnyder. “E não há como garantir essa preservação sem o apoio da comunidade.”

Para conseguir esse apoio, a Muaná Alimentos vem ajudando os trabalhadores na regularização das terras, além de fazer um levantamento das necessidades das famílias ribeirinhas. As informações são repassadas ao governo do Estado que, com esses dados em mãos, sente-se pressionado a levar alguma assistência para essas pessoas. A empresa também investe na educação ambiental. “Antes de trabalhar com palmito, eu cortava madeira”, diz Alcindo de Brito Costa, um dos moradores locais. “Agora dá para viver sem cortar árvores.”

Para as empresas que ainda acham que a preocupação ambiental desvia o foco na produtividade, é bom dar uma olhada no balanço da Muaná Alimentos. No ano passado, a empresa faturou 4 milhões de dólares com a produção de palmito e polpa do açaí. Os planos para este ano são de um faturamento de 4,2 milhões de dólares.

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Os finalistas

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O Açaí Marajoara derrotou, na sua categoria, dois grandes projetos de empresas de papel e celulose. A Veracel preserva uma área imensa de floresta no sul da Bahia – a maior reserva privada da Mata Atlântica. Já a Klabin concorreu com o projeto Monte Alegre Fitoterapia, um inovador trabalho de conservação de mata nativa no Paraná, aliado à extração de matéria-prima para a produção de remédios naturais. O projeto envolve o atendimento médico e fitoterápico às populações locais.

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