As vilãs do aquecimento
Árvores ajudam a esquentar o planeta, dizem cálculos de cientistas. E agora?
Texto Tiago Cordeiro
Quando planta uma árvore, você está ajudando a diminuir a concentração de CO2 na atmosfera e assim contribui para reduzir o aquecimento global, certo? Nem sempre. Na verdade, pode ser exatamente o contrário: se sairmos plantando árvores para todos os lados, o planeta pode acabar ainda mais quente. A conclusão é de uma pesquisa coordenada pelo físico indiano Govindasamy Bala, do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, na Califórnia. Para chegar lá, ele desenvolveu um software capaz de projetar diferentes cenários para o planeta. A seguir, perguntou ao oráculo digital: o que aconteceria se fossem cortadas todas as árvores do mundo – algo que, no atual ritmo, aconteceria por volta de 2100? Resposta: a Terra ficaria 0,3 grau mais fria do que hoje.
Motivo: árvores não interagem com a atmosfera apenas absorvendo gás carbônico e devolvendo oxigênio para fazer a fotossíntese. Também atuam de outras formas. Transpiram, por exemplo, e assim aumentam a formação de nuvens, que por sua vez limitam a passagem da luz do Sol e diminuem a temperatura aqui embaixo. Mas elas também têm um efeito aquecedor. Por exemplo: em lugares que passam boa parte do ano cobertos de neve, a luz se reflete na superfície branca e se dispersa. Se você planta árvores ali, escurece o chão, que assim absorve mais calor – como uma camiseta preta esquenta mais que uma branca.
Isso não quer dizer que devemos sair por aí fazendo justiça com a própria motosserra. “Árvores são fundamentais para a natureza, por razões que vão muito além do clima”, diz Govindasamy. “Plantá-las pode ser eficiente onde faz calor. Mas não ajuda em nada, e ainda atrapalha, em áreas temperadas e polares.” Govindasamy cita o exemplo de Rússia e Canadá, onde o desmatamento abaixou a temperatura média. “Nosso interesse é demonstrar que o planeta é muito complexo e que uma medida aparentemente simples, como plantar árvores, não funciona do mesmo jeito em todos os lugares. Plantar ou preservar não é o mais importante para reduzir o aquecimento”, diz. “Repensar a forma como produzimos e consumimos energia é mais decisivo.”