João Steiner
O efeito estufa existe naturalmente na Terra e em outros planetas. Mas aqui está sendo desequilibrado, com conseqüências imprevisíveis.
Plantas muito delicadas costumam ser cobertas por um plástico porque esse material tem característica valiosa: ele deixa a luz do Sol entrar e criar calor sob a cobertura, mas não deixa o calor sair. Ou seja, forma-se uma estufa que aquece a planta.
Alguns planetas também apresentam esse “efeito estufa”, só que em vez de plástico ele funciona com a ajuda da atmosfera. Vênus, por exemplo, possui uma atmosfera muito espessa, capaz de aprisionar grande quantidade de calor. Tanto que a temperatura da superfície ultrapassa os 400 graus Celsius. Vênus é o caso mais extremo que conhecemos de efeito estufa.
Na Terra, o efeito estufa natural é pequeno. Os gases da atmosfera mantêm a temperatura entre limites que consideramos confortáveis para a vida. Não fossem eles, estaríamos abaixo dos 30 graus negativos. Um dos principais responsáveis por isso é o dióxido de carbono, ou gás carbônico, que existe aqui em certa concentração natural. No entanto, a atividade humana está aos poucos alterando o balanço, especialmente pela queima de combustíveis como o petróleo e o carvão mineral. Os registros das médias de temperatura indicam claramente que a concentração de dióxido de carbono vem aumentando gradativamente. Assim como a temperatura média da Terra. Para muitos cientistas, os dois aumentos estão relacionados e denotam uma ruptura no equilíbrio do efeito estufa natural.
É possível que parte do aquecimento terrestre seja causado pelo aumento da atividade do Sol. Portanto, não sabemos precisamente em que proporção o excesso de calor se deve à atividade humana.
Mas se as transformações climáticas estão de fato sendo provocadas pelo desequilíbrio do efeito estufa natural, as conseqüências podem ser imprevisíveis. Correntes marítimas poderão ser alteradas e o clima do planeta inteiro poderá mudar, passando a chover mais ou menos nas diversas partes do globo. Apesar de a temperatura média aumentar, em algumas regiões poderá haver resfriamento. A conseqüência mais comentada relaciona-se aos oceanos, cujo nível poderia subir meio metro nos próximos 100 anos em função do descongelamento parcial das calotas polares.
É certo que não sabemos prever com segurança quais serão as conseqüências a longo prazo da crescente concentração de dióxido de carbono na atmosfera. O que parece certo é que o que nós chamamos de civilização está brincando perigosamente com o equilíbrio do único planeta, entre os vários que conhecemos, capaz de sustentar vida.
João Steiner é professor de Astrofísica do Instituto Astronômico e Geofísico da USP