Com os minutos contados: os estragos ecológicos das atividades diárias
Não parece, mas do momento em que acorda ao minuto em que dorme, um único cidadão consome centenas de kilowatts de energia e produz dezenas de quilos de lixo.
Mal se levanta, e por mais que se esforce para evitar danos ao planeta, o cidadão comum começa a pressionar os recursos naturais e o já delicado equilíbrio ecológico. A responsabilidade de cada um é variável, mas pode ser significativa — é o que avaliam instituições européias que pela primeira vez tentam colocar em números precisos o papel do indivíduo no meio ambiente. Apenas no banho matinal, por exemplo, um cidadão utiliza 50 litros de água que depois terá que ser tratada. Além disso, a água é aquecida a 38°C por 1,5 quilowatt-hora (cerca de 1,3 milhão de calorias), e para gerar essa energia foi preciso perturbar o ambiente em alguma medida. O mesmo acontece ao café da manhã, quando aquela pessoa suja mais 10 litros de água e consome mais 1 kWh de energia. Tais números foram obtidos a partir dos hábi– tos de um morador de Barcelona, Espanha. Mas, como se verá, é no mínimo educativo acompanhar a cuidadosa agenda preparada pela Agência de Estímulo à Proteção Ambiental. Ela começa às 7h35, após o banho e o café, e termina 16 horas depois… com o planeta mais baqueado que no dia anterior.
7h35
Com exceção do próprio banho, nada do que se faz no banheiro exige muita energia elétrica. O ato de lavar as mãos ou escovar os dentes com água morna não consome mais que 0,1 kWh. Mas a água corre solta na higiene bucal e manual, além da indispensável descarga: são mais 15 litros de água para o esgoto.
Na hora de ir para o trabalho, o percurso médio dos moradores de Barcelona mostra que o carro libera 90 gramas do venenoso monóxido de carbono e 25 gramas de óxidos de nitrogênio, que causam chuva ácida e destroem a camada de ozônio. Ao mesmo tempo, o carro consome combustível equivalente a 8,9 kWh. Para se ter uma idéia, ir para o trabalho e voltar exige mais energia que deixar todos os eletrodomésticos ligados o dia inteiro. Vale lembrar que isso ocorre no civilizado trânsito europeu. Muito provavelmente, em São Paulo ou no Rio de Janeiro o estrago é bem maior.
8 horas
No escritório, bem mais moderno que o carro, o computador vai gastar só 2,9 kWh, mesmo se ficar ligado o tempo todo. Mas ele não está sozinho: é preciso contar impressoras, fotocopiadoras, telefones, fax e condicionadores de ar. No final a infra-estrutura exige 77 kWh. E o lixo produzido nos escritórios europeus — do apontar de um lápis ao papel usado do computador — chega a 7,6 quilos por pessoa.
9 horas
Um café com bolo vem em boa hora. Mas prepará-los demanda 0,5 kWh de energia e 0,5 litro de água. Para lavar as colheres, louça e bule demanda mais 1 litro de água e 0,1 kWh.
9h15
Nas próximas três horas, o europeu médio fará 12 chamadas telefônicas, enviará quatro faxes e receberá outros dois. O carteiro lhe trará três cartas e o office-boy fará trinta fotocópias de documentos. O computador, insaciável, consumirá três novos disquetes.
14 horas
Na hora de comer, um grande prato, com direito a almôndegas, batatas e cerveja sem álcool. Na sobremesa, bolo de chocolate. Como resultado, o almoço europeu exige 0,8 kWh e 10 litros de água por quilo de alimento. Parece exagero: mas considerados todos os gastos, desde o cultivo agrícola dos alimentos, é isso mesmo. Se garrafas e pratos forem descartáveis, adiciona-se à conta 12,6 kWh de energia. Se não, lavar os pratos significa mais 9 litros de água.
14h40
Na segunda pausa para o café, enquanto descansa e planeja suas férias, o cidadão pensa em tudo. Ou quase. Ele não sabe que o Jumbo 747 em que pretende viajar consome em média 6 140 kWh por passageiro ao mesmo tempo em que exala para o ar 1,5 tonelada de gás carbônico.
15h30
Até aqui, o serviço significou oito telefonemas, quatro faxes, quinze fotocópias e 214 quilobytes de memória do computador.
18 horas
Depois do trabalho, uma visita ao supermercado para providenciar o jantar. Incluindo a volta para casa, o gasto inclui 1 litro de gasolina e 9 kWh de energia. A ligeira aventura deixa ainda um rastro de 1 600 gramas de lixo, 25 gramas de óxidos de nitrogênio e 90 gramas de monóxido de carbono.
19 horas
Na hora de recolher o lixo doméstico, avalia-se o entulho de apenas um europeu médio. Se estiver acumulado por cinco dias chega a 4,5 quilos. Em cada quilo há aproximadamente 240 gramas de papel, papelão e embalagens; 80 gramas de plástico; 55 gramas de metal; 40 gramas de material biodegradável e 80 gramas de vidro Um prédio classe média — de quatro andares e apartamentos de 100 me– tros quadrados — produz 38 quilos de lixo por dia.
20 horas
Nada de vida sedentária; a noite é de ginástica. As duas horas gastas na malhação resultam no corpo empapado de suor, o que se resolve com um bom banho quente, na própria academia, a um custo de 3,5 kWh de energia e 120 litros de água.
22h30
Ainda sobra disposição para umas cervejas com os amigos. Bebida diurética, ela não tarda a produzir um resultado que irá sumir em meio aos 5 litros de água de uma descarga do vaso sanitário. Depois, entre a visita ao banheiro e a volta para casa, o dispêndio de energia soma preciosos 8,9 kWh.
0h10
A última higiene do dia: água no rosto, dentes escovados e mais uma passagem pelo vaso sanitário. No total, essas tarefas levam mais 0,5 kWh de energia e 22 litros de água. Com sorte, o cidadão médio dormi-rá como um anjo, sem pesadelos por ter produzido 51 quilos de lixo, exalado 138 000 litros de gás carbônico, consumido 330 kWh de energia e lançado gases tóxicos e produtos químicos no ar e na água o dia todo. E nem assim a história termina: dormindo, ele continua a expirar gás carbônico e os resíduos daquelas cervejas ainda fluem por seus poros.
Para saber mais:
Um cemitério para o lixo atômico
(SUPER número 9, ano 4)
Rebeldias da energia domada
(SUPER número 1, ano 5)
Sol e vento em alta tensão (SUPER número 1, ano 6)
A sujeira nossa de cada dia (SUPER número 7, ano 7)
Tremendo nas bases
(SUPER número 5, ano 10)
O mapa das novas forças (SUPER número 9, ano 10)