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Conheça o lado bom da educação pública brasileira

Estivemos em quatro escolas brasileiras públicas, pobres e excelentes

Por Por Thaís Zimmer Martins, Gabriela Portilho e Renata Massetti / editado por Tiago Jokura
Atualizado em 8 mar 2024, 11h32 - Publicado em 25 nov 2015, 18h30

O cenário da educação no Brasil desanima. Só metade de quem ingressa na escola pública termina o ensino médio. O nível de aprendizagem é baixo: 65% dos alunos de 5º ano não diferenciam formas geométricas, como círculos, triângulos e retângulos, e quase 70% no 3º ano do ensino médio não identificam a informação principal em uma notícia curta.

Os índices educacionais nos deixam atrás de Cazaquistão, Albânia e dos vizinhos Uruguai, Argentina e Chile. Mas a 2ª edição da pesquisa Excelência com Equidade (EE)*, divulgada este mês, revela que existe excelência onde não se espera: há 147 escolas públicas fundamentais dos primeiros anos (1º ao 5º ano) e 31 que incluem os últimos anos (6º ao 9º ano) com nível de aprendizagem superior à média de Canadá e Suíça**.

“Mais que mostrar que é possível driblar as adversidades, queremos identificar as boas práticas das escolas e mostrar como podem ser replicadas”, explica Ernesto Martins Faria, coordenador da EE.

A SUPER viajou 6.500 km em duas semanas para visitar quatro dessas escolas públicas que estão entre as melhores do Brasil. Com poucos recursos e muito trabalho – compartilhado entre pais, mestres e autoridades -, esses recantos de excelência educacional colecionam lições para semear pelo País. 

Existe um discurso de que alunos de comunidades pobres estão fadados ao fracasso escolar. A EE mostra que isso nem sempre é verdade. Várias escolas conseguem ser excelentes

Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann

A escola é uma família

Em Pedra Branca (CE), com pouco mais da metade dos 40 mil habitantes alfabetizados, uma escola se destaca como uma das melhores do país. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) nos anos finais da EEF Miguel Antonio de Lemos é o mais alto das quatro escolas que visitamos: 8.9.

A “escola de Amaral”, como é conhecida, não aparece no GPS. Fica em um sítio a 18 km da cidade, no meio do sertão. Porcos, jumentos e bois rodeiam a escola, e a agricultura local é de subsistência, com vários alunos ajudando os pais – na maioria, não alfabetizados – na lavoura:

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Quebrando muros

O que quase ninguém sabe é que, em meio aos condomínios de luxo da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, está uma das melhores escolas públicas da cidade. Avaliada no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) com nota 6,7, a Rodrigues Alvez fica acima da média das escolas particulares no Brasil. Quem frequenta as aulas, na maioria, são filhos de porteiros, empregadas domésticas e vigias que trabalham na região.

Estudando em turno integral, os 228 alunos alunos têm acesso a disciplinas extras, as chamadas “eletivas”. Apesar da Rodrigues Alves ser destaque no país, os estudantes enfrentam preconceito dos moradores da região. Mas eles e os professores se uniram para mudar isso:

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Uma escola não é uma ilha

Até 2007, as escolas de Novo Horizonte, a 410 km de São Paulo, não eram diferentes do estereótipo da escola pública no Brasil: grades nos corredores, cadeiras quebradas, muros pichados, alunos fora das salas e índices de desempenho baixos. A mudança começou quando as escolas passaram das mãos do Estado para as do município.

Um dos pioneiros na mudança foi o colégio Profª Hebe de Almeida Leite Cardoso. Os alunos ocuparam a escola, reduzindo a evasão. Em 2014, nenhum aluno largou a escola – no Brasil, em 2014, cerca de 450 mil alunos deixaram a escola nos anos finais:

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Oásis no sertão

Em 2001, quando uma avaliação estadual mostrou que 48% das crianças entre 9 e 10 anos de Sobral não sabia ler nem escrever, e, ainda assim, avançava nas séries, criando uma bola de neve de deficiência na aprendizagem. Para isso, o Estado articulou uma grande reforma na política educacional.

Hoje o município é referência em educação. E a escola municipal Gerardo Rodrigues se destaca entre as 21 de Sobral. Mas fora dos portões, o desafio persiste. A cidade aparece no Mapa da Violência entre os 100 municípios com as maiores taxas de homicídios entre adolescentes de 16 a 17 anos. Na escola, o tema da violência é recorrente entre os alunos que relatam histórias de colegas ou conhecidos que perderam a vida nas disputas entre traficantes:

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No momento em que você acredita numa escola de qualidade, você tem que começar a fazer parte daqueles que vão modificar essa realidade

coordenadora Maristela Motta (Rio de Janeiro - RJ)

 

* Pesquisa realizada pela Fundação Lemann, com apoio do Itaú BBA e do Instituto Credit Suisse Hedging-Griffo ** Saeb 2013 e Pisa 2012
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