PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana

Deserto do Atacama

Paisagens do espaço, secura e poucos sinais de vida

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h04 - Publicado em 30 set 2004, 22h00

Difícil ver sinal de vida ao redor da paisagem de pedras e areia. O único barulho, além dos próprios passos, é o do vento, que chega frio e com leve gosto de sal. O imenso céu azul está tão próximo que parece ao alcance das mãos. No desolado centro do deserto do Atacama, a sensação é a de que estamos em outro planeta, muito distante do nosso. O solo extremamente ressecado, até mesmo, é o mais parecido com o de Marte. A umidade do ar é tão baixa que, aliada à limpeza da atmosfera e à altitude elevada em relação ao nível do mar, tornou o lugar um dos mais propícios do planeta para observações espaciais, tamanha é a nitidez com que se pode observar o céu. Astrônomos do mundo inteiro deslocam-se para lá e montam seus observatórios. É um dos principais campos de observação para o desenvolvimento de pesquisas da Nasa. Mesmo sem luneta alguma, porém, as noites do Atacama tiram o fôlego de quem gosta de uma imensidão pipocada de infinitas estrelas.

Ao todo, essa região árida estende-se por mil quilômetros do norte do Chile até a fronteira com o Peru e cobre uma superfície de 106 513 quilômetros quadrados – grande parte dos quais formados por deserto arenoso e rochoso. A área que engloba o deserto do Atacama, no Chile, a 1 300 quilômetros de Santiago, na costa oeste da América do Sul, esconde um dos meios mais rígidos para o surgimento e desenvolvimento da vida na face da Terra. Nas regiões centrais dessa estreita faixa espremida entre o oceano Pacífico, ao oeste, e a cordilheira dos Andes, ao leste, existem lugares nos quais nunca foram registradas chuvas. A precipitação anual tem sido abaixo de 3 milímetros nos últimos 50 anos, as marcas mais baixas do mundo. É o deserto mais seco da Terra, um lugar onde as espécies estão condicionadas a uma série de surpreendentes adaptações. As temperaturas oscilam bastante: em janeiro, a média fica entre 18º C e 25º C; em julho, entre 12º C e 16º C.

Os flamingos rosados, habitantes da planície de sal desse deserto, o Salar de Atacama, são um bom exemplo de espécie adaptada. Nesse local, a água que veio da cordilheira dos Andes, formando lagos azuis, evapora mais rapidamente do que é reposta pelas chuvas, e os sais minerais permanecem. O resultado é uma quantidade enorme de imensos lagos de sal que impregnam o organismo do flamingo. A saída que esses animais encontraram foi eliminar o excesso através de pequenas aberturas ao lado das narinas.

Tal qual o flamingo, algumas plantas também dão um jeito de sobreviver nesse local inóspito. A vegetação de loma, mais importante ecossistema da região, por exemplo, vive da umidade da névoa que se condensa na superfície das pedras. Essa neblina, chamada de “camanchacas”, é o resultado da ação da corrente de Humboldt, que esfria o ar quente do Pacífico durante o inverno. A conseqüência biológica também colabora para deixar a paisagem mais charmosa com a neblina matinal. Poucas espécies animais habitam os lomas. Alguns mamíferos, pássaros e lagartos.

A lhama, da família do carneiro, é um animal que atrai a atenção dos visitantes e é bastante presente na paisagem desértica. Infelizmente, um dos tipos de lhama, o guanaco, que era comum nos lomas e nas áreas costeiras, está cada vez mais sumido devido à caça.

Continua após a publicidade

Os vulcões, na maioria extintos, fazem parte do visual e alguns propiciam o encantador fenômeno dos gêiseres. No vulcão El Tatio, por exemplo, ele ocorre: as águas subterrâneas encontram-se com a lava vulcânica e, no nascer do sol, saem jatos quentes de vapor que chegam a 10 metros de altura.

Apesar da secura e pobreza de opções para o desenvolvimento, diversos grupos humanos ocuparam o deserto durante os últimos 12 mil anos. Hoje, moram 750 mil habitantes concentrados em cidades litorâneas, pólos de mineração, vilas de pescadores e oásis. São descendentes de espanhóis, escravos africanos e índios que saíram dos Andes. O processo de povoamento da região costeira foi favorecido pela riqueza de nutrientes das águas da corrente marítima de Humboldt, no Pacífico.

A área próxima ao rio Loa, no norte do deserto, foi ocupada pelos chinchorros, o primeiro grupo humano a desenvolver a mumificação artificial. Algumas das múmias mais antigas do mundo (com mais de 9 mil anos) foram encontradas lá. Não é difícil entender o porquê: a ausência de umidade faz com que artefatos e objetos fabricados há milênios permaneçam em excelente estado de conservação. Um tesouro para arqueólogos. O aspecto assustador dessas condições é que há cidades fantasmas nas áreas centrais com casas onde não moram ninguém, mas que permanecem, por anos, com a mesma aparência de quando foram abandonadas – a impressão que se tem é de que poucas horas atrás havia pessoas ali.

Continua após a publicidade

Para quebrar a estabilidade desse deserto, só mesmo fenômenos climáticos de larga escala, como o El Niño, que é o aquecimento das águas do Pacífico. Essa anomalia oceanográfica origina chuvas na área desértica do Chile e do Peru e afeta ecossistemas terrestres. O nome foi criado por pescadores e significa “Menino Jesus”, porque aparece geralmente no mês do Natal.

O “Jesus” dos chilenos e peruanos traz chuvas fortes o bastante para penetrar o solo e dá origem a um dos maiores espetáculos naturais que podem ocorrer no Atacama: como em um passe de mágica, sementes que permaneceram latentes por anos se manifestam com todo o esplendor, numa explosão de cores e tipos vegetais. É mais uma vitória da vida sobre o deserto.

Área total – 106 513 km²

Continua após a publicidade

Área intacta – 80%

Área protegida – 1%

Continua após a publicidade

Conservação e ameaça

A natureza única dos ecossistemas do deserto do Atacama, a presença de espécies com capacidade surpreendente de adaptar-se às extremas condições áridas e o número significante de plantas e animais endêmicos fazem desta uma região de grande importância para a conservação. No entanto, a área protegida é irrisória. Há muitas propostas para aumentar o número de áreas de lomas a serem protegidas, mas nenhuma foi aprovada. As atividades de mineração, que contaminam os rios e poços d’água, são um perigo constante, e o impacto da densidade populacional ameaça as vegetações de lomas e seu singular ecossistema. Felizmente, as pessoas tendem a fugir das regiões desérticas e concentrar-se nas áreas urbanas, o que significa que largas extensões desse santuário devem continuar intactas.

Publicidade


Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.