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Ecologia , o dever de preservar

O almirante Ibsen de Gusmão Câmara é nosso homenageado este ano, por dedicar sua vida às baleias, às florestas e à biodiversidade.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h06 - Publicado em 31 Maio 2002, 22h00

Bernardo Esteves, do Rio de Janeiro, RJ

No começo dos anos 60, um jovem oficial da Marinha, chamado Ibsen de Gusmão Câmara, costumava voar pelos céus do Brasil a bordo dos bimotores da força. Nesses sobrevôos, uma coisa chamou sua atenção – a paisagem lá embaixo mudava a cada ano. As florestas de araucária, que, em 1961, tomavam o Paraná, no final da década tinham praticamente sumido. A Mata Atlântica nordestina, exuberante nos primeiros vôos, dava lugar ao verde monotônico das plantações de cana. Em 1967, o oficial se mudou para a Amazônia, a serviço da Marinha, e lá morou por dois anos. Formava-se ali, acompanhando de perto a devastação, um dos mais influentes – e dos primeiros – ambientalistas brasileiros.

Naquela época, a palavra de ordem era “desenvolvimento”. Ninguém parecia se preocupar com o efeito que aquilo teria sobre o ambiente. Mas o marinheiro Ibsen se preocupava. Naquele ritmo, a natureza que ele aprendera a amar não duraria muito. Por ter sido um dos primeiros a perceber esse risco, por dedicar as três décadas que se seguiram a tentar evitar que ele se concretizasse e, principalmente, pelas conquistas que obteve nessa luta árdua e desigual, o almirante Ibsen de Gusmão Câmara mereceu o Prêmio Especial, o reconhecimento do Prêmio Super Ecologia 2002 ao trabalho de uma vida toda. “Mais que uma bandeira, a preservação da natureza é um dever ético da espécie humana”, disse à Super em entrevista realizada no lindo jardim de sua casa no Rio de Janeiro.

Em todos esses anos dedicados à causa ambiental, o almirante se envolveu em campanhas de proteção a espécies ameaçadas, trabalhou nos bastidores do Congresso pela criação de reservas ambientais, fundou e inspirou várias ONGs, conheceu a fundo os problemas ambientais brasileiros. Admirado pela esquerda, respeitado pela direita, sempre teve trânsito em Brasília, mesmo no período militar.

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Ibsen nunca concebeu conservação sem a existência de um sistema estruturado de unidades de conservação. A instituição de reservas foi uma de suas principais frentes de batalha, seja na mobilização de parlamentares para a criação dessas áreas, seja na delimitação e no estudo dos territórios protegidos. Exemplo emblemático é a criação da reserva do Atol das Rocas, em 1979, grande vitória política do almirante, a primeira unidade de conservação marinha do Brasil. A medida foi vital para várias espécies migratórias de aves e peixes que freqüentam o atol.

Os ecossistemas marinhos e costeiros sempre mereceram carinho especial do almirante (“o mar ainda é muito negligenciado”, afirma). Ibsen teve atuação determinante para acabar de uma vez com a caça às baleias no país, em 1989, contrariando poderosos interesses econômicos. “Os japoneses, que financiavam uma empresa brasileira que capturava baleias nos anos 80, fizeram grande pressão para que o Brasil continuasse caçando”, diz. Hoje, graças em grande parte à sua atuação, o país é uma liderança na luta pela proibição mundial da caça – com o Japão comandando o campo oposto.

O interesse pelos cetáceos levou-o também a coordenar uma expedição que, em 1982, identificou baleias francas – então consideradas extintas em águas brasileiras – no litoral catarinense. A população sobrevivente desde então é monitorada e hoje ocorre em toda a costa sul do país. “Mas defender uma espécie não basta”, afirma. “O importante é preservar o ambiente em que ela vive.” Sem isso, é impossível conter a assustadora escalada das extinções.

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Ibsen não se satisfez com a atuação política e ambiental – enveredou-se pela ciência e estudou Paleontologia por conta própria. Apesar de autodidata, recebeu reconhecimento internacional. Tanto que foi convidado para integrar cinco sociedades científicas, incluindo a Sociedade de Paleontologia de Vertebrados dos Estados Unidos e a prestigiosíssima Associação Americana para o Avanço da Ciência. Entre as muitas outras honrarias que o ambientalista recebeu, estão o reconhecimento da Academia Brasileira de Ciências por sua contribuição individual e o título de cavaleiro concedido pela realeza holandesa.

Aos 78 anos, Ibsen contempla os frutos da sua trajetória com um misto de realização – pelas batalhas ganhas e pelo aumento da conscientização para a causa – e de decepção com a devastação que não pára de crescer. O trabalho compensa? “Sim, mas o resultado não é proporcional ao esforço.” Isso bastaria para frustrar muitos aprendizes de ambientalista. Mas não um obstinado como o almirante. Ainda bem.

Os finalistas

Cada membro da comissão julgadora tinha direito a indicar uma pessoa ou instituição para o prêmio especial. Os mais votados, além do veterano almirante, foram duas lideranças relativamente novas: Virgílio Alcides de Farias, que se destaca pela defesa dos mananciais ao redor de São Paulo, e a senadora acrea-na Marina Silva, ex-seringueira tida como herdeira política de Chico Mendes. Também houve duas ONGs indicadas: a Fundação Biodiversitas, de Belo Horizonte, e O Instituto Ambiental, do Rio de Janeiro.

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