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Em Sobral, a educação combate a violência e o consumo de drogas entre adolescentes

Por Thaís Zimmer Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h06 - Publicado em 10 dez 2015, 17h00
Em Sobral, a 240 km de Fortaleza, as nuvens carregadas passam, mas não param. Às vezes por mais de seis meses. Castigada pelas secas, baixas colheitas e poucas oportunidades de trabalho, metade da população vive com menos de R$ 310 mensais. Ainda assim, virou referência em ensino. Das 178 escolas públicas de excelência no Brasil, 21 estão lá. As duas piores escolas da rede municipal ficaram com nota 6.9 no IDEB, 15% maior do que a meta brasileira para 2021.
 
Mas o cenário nem sempre foi assim. A atual diretora do colégio Gerardo Rodrigues, Maria do Socorro Aguiar, conta que no início de sua carreira há cerca de 30 anos, boa parte dos professores do município ainda assinava com a impressão digital, por não saber ler ou escrever. Eram os chamados professores leigos, que ministravam aulas nas escolas ou nos quintais das casas.
 
Hoje, nenhum professor da cidade pode dar aulas sem ter no mínimo, uma graduação. Muitos deles, aliás, já têm cursos de especialização e mestrado. A mudança começou em 2001, quando uma avaliação estadual mostrou que 48% das crianças entre 9 e 10 anos de Sobral não sabia ler nem escrever, e, ainda assim, avançava nas séries, criando uma bola de neve de deficiência na aprendizagem. “Percebemos que dentro das escolas estávamos produzindo analfabetos”, conta o secretário municipal Julio César da Costa Alexandre.
 
Para isso, o Estado articulou uma grande reforma na política educacional focada na produção de materiais didáticos, formação de professores, e planejamento pedagógico. “A ideia é deixar o professor tranquilo e preparado enquanto estiver na sala de aula, sabendo quem são seus alunos, qual o nível da sua turma e o que precisa fazer para avançar. Assim, ele consegue aproveitar de fato as 3 horas e 20 minutos em que estiver dentro da sala”, explica Julio.
 
O investimento municipal em educação tem sido recompensado e hoje o índice de leitores alfabetizados na idade certa chega a 97% dos alunos. Dentre eles, todos conseguem ler textos com ritmo, entonação e, principalmente, compreensão das informações.
 
Para Julio, um dos segredos é ensinar português e matemática com excelência. “É claro que um currículo diversificado é muito interessante, mas se o aluno não souber ler e compreender o que está lendo, ele não vai tirar de proveito das outras disciplinas e nem continuar avançando”, afirma. Para garantir assiduidade, um funcionário da escola Gerardo Rodrigues vai de moto buscar alunos em casa após três faltas seguidas:
 
 
“Analisamos os resultados de provas e quem vai mal tem reforço. O acompanhamento é diário e nenhum aluno fica para trás”, explica Maria do Socorro. Segundo o Secretário, é preciso entender a realidade do aluno que chega na escola pública hoje e pensar em políticas específicas para ele, sem necessariamente seguir a próxima moda da Educação. “O que o aluno do sertão precisa hoje é muito diferente do que o aluno da Finlândia precisa. O aluno que chega na escola pública de Sobral vem de uma formação cultural muito frágil. Precisamos, antes de tudo, cuidar do básico para que ele consiga avançar”, complementa.
 

Oásis no sertão

Na escola municipal Gerardo Rodrigues, localizada na periferia de Sobral, a receita é seguida à risca. Apesar das instalações simples, com salas muitas vezes adaptadas, uma equipe dedicada garante que todo o conteúdo seja ensinado com qualidade e que todos alunos estejam dentro da escola, levando à sério a lógica de aproveitamento máximo de todos os recursos presente na cultura sertaneja. “O segredo é fazer funcionar bem o que já existe”, diz Maria do Socorro.

Mas fora dos portões, o desafio persiste. Sobral aparece no Mapa da Violência entre os 100 municípios com as maiores taxas de homicídios entre adolescentes de 16 a 17 anos, na frente de capitais como São Paulo e Rio de Janeiro. Na escola, o tema da violência é recorrente entre os alunos que relatam histórias de colegas ou conhecidos que perderam a vida nas disputas entre traficantes.

Para lidar com a violência e com a ausência de muitos pais do cotidiano escolar dos filhos, a escola optou por um trabalho de empoderamento dos próprios jovens. “Os pais são figuras fundamentais na Educação, mas nem sempre temos a sorte de tê-los por perto. Por isso, apostamos em ajudar os jovens a desenvolverem a própria autonomia para gerir crises, avaliar os seus processos e também a escola.”

Para isso, a coordenação da escola incluiu no calendário avaliações anuais dos alunos sobre a escola, além de deixar à disposição uma caixa de sugestões onde eles podem sugerir mudanças e opinar na vida escolar. Além disso, semanalmente, os alunos participam de um curso de formação de líderes para fazerem a ponte entre as questões da sala de aula e a gestão escolar. Durante as aulas, eles discutem a vida e as estratégias de importantes lideranças políticas e religiosas da história da humanidade.  Para Evercleison Albuquerque do Nascimento, do 8o ano, as aulas trazem lições que vão além da escola. “Aprendo a resolver questões de sala de aula, mas também competências que vão permitir que eu resolva os problemas do meu bairro e até mesmo da minha cidade. É um aprendizado para a vida”.

 

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Boas práticas
– Acompanhamento de frequência
– Excelência no ensino de português e matemática 

 

 

 

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