Espécie extinta: Lobo bom
Lobo com ares de raposa, ele era dócil, ingênuo e adorava brincar. Mas foi perseguido pelo homem e virou peça de museu
Leandro Steiw
Dócil e facilmente domesticável, o lobo-das-malvinas, também chamado de warrah, recebeu tranqüilamente os primeiros colonizadores do arquipélago próximo à Argentina, no século 17. Afinal, era o único mamífero terrestre da região, não temia predadores, vivia em harmonia com lobos-marinhos e focas e gostava de brincar. Tanto que recebeu o nome científico Dusicyon australis, que significa “cão bobo do sul”. Do que o animal não poderia suspeitar é que essa ingenuidade facilitaria sua extinção, antes do final do século 19. O último exemplar da espécie foi abatido a tiros em 1876. Carcaças e esqueletos de 11 indivíduos viraram peças de museus da Europa e dos Estados Unidos.
Pouco se sabe sobre os hábitos alimentares desse lobo com ares de raposa, mas tudo leva a crer que ele comia pássaros – ovos e filhotes que encontrava em ninhos próximos ao chão –, pingüins, insetos e vegetais. Segundo relatos de marinheiros britânicos que andaram por aquelas terras, o animal chamava a atenção por emitir um som similar ao latido de um cão e tinha cerca de 60 centímetros de altura. Comportamento social e outras características permanecem um mistério. Nem mesmo o pai da teoria da evolução das espécies, o inglês Charles Darwin, que conheceu o warrah em 1833, coletou muitas informações quando esteve nas Malvinas – ou Ilhas Falkland, como preferem os britânicos, donos do território. Mas, já naquela época, ele conseguiu prever que o Dusicyon australis estava com os dias contados.
A perseguição ao lobo-das-malvinas começou quando os espanhóis e os escoceses passaram a criar gado e ovelhas na região. Acreditando que os animais nativos representariam uma ameaça para seus rebanhos, eles decidiram exterminá-los como se fossem pragas. E não era difícil chamar o canídeo para a morte, pois seu instinto mandava que ele se comportasse como o melhor amigo do homem. Os colonizadores atraíam o lobo com alguma comida ou uma simples promessa de afago, seguravam-no com uma mão e o esfaqueavam com a outra. Os criadores de ovelhas preferiam o método de envenenamento, mas não descartavam a caça a tiros em campo aberto. Ironicamente, nunca se comprovou que esses mamíferos realmente atacassem rebanhos.
A partir de 1830, caçadores de peles de empresas americanas começaram a desembarcar na região para transformar o warrah em casacos. O Império Britânico oferecia recompensas a quem exterminasse esses lobos de pêlo castanho-acinzentado. Roupas confeccionadas com a pele densa dessa espécie exótica logo se tornaram um sonho de consumo da burguesia da época. O único exemplar levado vivo para a Europa passou uma temporada no Zoológico de Londres, em 1868, e resistiu pouquíssimos anos. Os esforços de preservação foram feitos tardiamente. O lobo-das-malvinas já tinha pagado um alto preço por ser bonito demais aos olhos humanos.
Lobo-das-Malvinas
Nome científico: Dusicyon australis
Ano da extinção: 1876
Habitat: Ilhas Malvinas