Espécie extinta: O fim do pequeno ula
Após derrubada de florestas, o encantador passarinho vermelho que atraía expedições científicas ao Havaí pode ter desaparecido por falta de alimentos
Carla Aranha
Só alguns poucos felizardos tiveram a sorte de ver um dos passarinhos mais bonitos do mundo, o ula-ai-hawane, nome que em havaiano significa “pássaro vermelho que se alimenta da palmeira hawane”. O pequeno ula, que media apenas 11 centímetros, vivia principalmente no alto das montanhas Kohala, na ilha americana do Havaí, apesar de habitar também as florestas de Hilo e Ieeward, repletas da palmeira da qual ele se alimentava. Os nativos adoravam a linda ave multicolorida de canto mavioso. Mas até para eles era difícil avistar o passarinho, que se escondia ao menor sinal de presença humana. O ula foi visto pela última vez em 1892, e depois disso foi considerado extinto.
Suas penas vermelhas, prateadas e pretas, que formavam uma combinação única, encantaram os primeiros ornitólogos europeus que começaram a explorar o Havaí, no século 19. O colorido das penas fazia um contraste surpreendente com os pés em tons de amarelo-claro e o bico preto do pássaro. O filhote era ainda mais bonito. O peito tinha uma coloração azul-acinzentada, enquanto o resto do corpo era marrom. As asas e o rabo eram pretos e a cabeça, esverdeada.
Tanto para os europeus como para os nativos, era motivo de orgulho conseguir pegar o belo e arisco ula. A maioria das expedições científicas ao Havaí tinha como um dos principais objetivos a observação do passarinho. Hoje, para ver de perto um deles, só indo a museus de história natural da Europa e dos Estados Unidos. Há cinco deles, empalhados – dois estão no próprio Havaí, um está em Londres, outro se encontra na Universidade Harvard, em Boston, e o último, em Nova York. O primeiro pássaro foi coletado em 1859. Poucos anos depois, em 1892, o último exemplar seria pego por nativos, que à época contaram ter visto outros ulas no mesmo lugar, nas montanhas Kohala. Várias expedições foram feitas até lá, mas o pássaro nunca mais foi encontrado. O ornitólogo britânico Henry Palmer chegou a oferecer, em vão, recompensas para quem avistasse a ave. Ninguém se conformava com o desaparecimento de um dos passarinhos mais encantadores do mundo.
O sumiço do ula tem a ver com a ação do homem, embora indiretamente. Não se sabe exatamente por que e como o pássaro foi extinto. Mas, como sua única fonte de alimentação eram as folhas da palmeira hawane, acredita-se que a escassez da planta, provocada pelo desmatamento desenfreado, tenha levado à extinção da ave. As populações do passarinho eram pequenas, e restritas a áreas geográficas bem definidas, o que deve ter deixado a ave sem opções de alimentos. Pouco antes do seu desaparecimento, os havaianos haviam sido incentivados pelo governo dos Estados Unidos (que anexariam o território em 1898) a plantar mais cana-de-açúcar e abacaxi, duas culturas bastante rentáveis na época, o que ocasionou a derrubada de muitas florestas. O delicado ula não resistiu à radical mudança de seu meio ambiente e foi uma das primeiras espécies havaianas a desaparecer.
Ula-ai-Hawane
Nome científico: Ciridops anna
Ano da extinção: 1892
Habitat: florestas do Havaí