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Miombo-Mopane e Delta do Okavango

No sul da África, elefantes são os donos do pedaço

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h04 - Publicado em 30 set 2004, 22h00

O silêncio pode ser enganador nos cerrados e savanas da região de Miombo-Mopane, no sul da África. A monotonia raramente impera nessa área. Quando tudo parece calmo demais, os elefantes começam a surgir lentamente no horizonte. Não aos três, quatro, mas sim dezenas, às vezes até centenas, pisando firme no solo incrivelmente seco. Os majestosos elefantes africanos são, sem dúvida, os donos do pedaço: cerca de 280 mil animais da espécie vivem na região, 80% da população mundial de elefantes. Não se deixe levar, no entanto, pela memória de filmes da infância ou pela aparência amorosa desses bichos: encontrar uma manada de elefantes africanos é um dos maiores perigos escondidos pela área. Com força bestial, e facilmente chateados com a presença humana, eles podem matar um homem sem muito esforço, com um simples golpe.

Além deles, há os rinocerontes negros, um bicho feroz que já foi abundante no continente, mas, hoje, tem na região seu único grande reduto. A concentração de animais é maior nos vales, onde solos mais férteis e a boa qualidade de nutrientes da vegetação propiciam um ambiente melhor para a vida. Os pássaros também são abundantes e o número de peixes é particularmente impressionante no lago Malaui: entre 600 e 800 espécies vivem nessas águas, com um impressionante índice endêmico de 99%!

Uma parte dessa riqueza de biodiversidade pode ser atribuída à uma pequena porém perturbadora mosca tsé-tsé. Vilã dos homens, protetora involuntária dos animais, a picada dessa mosca não é lá muito doída, mas suas conseqüências podem ser fatais: é ela quem transmite a doença do sono (doença de trypanosomiais). Uma picadinha já é suficiente para transmitir esse mal que, se não for bem tratado, causa a morte principalmente de mulheres e crianças. O medo da tsé-tsé ajudou a manter afastados os homens de vastos territórios de Miombo-Mopane, especialmente na Zâmbia.

O convívio do homem com a vida selvagem, porém, é evento antigo nessas bandas: o leste e o sul da África são reconhecidos como berços da espécie humana. Hoje, 71 milhões de pessoas vivem na região, mas grande parte da área selvagem, não vivem mais de cinco habitantes por quilômetro quadrado. O sustento vem da agricultura de subsistência e da caça, e depende dos produtos naturais oferecidos pelo cerrado, que viram desde matéria- prima para construção de casas a plantas e ervas para a feitura de remédios. Mais de 250 tribos, e seus diversos grupos de dialetos, ainda vivem no lugar, mas a miscigenação está, aos poucos, apagando os grandes contrastes entre elas.

Os cerrados e savanas da variada vegetação de Miobo-Mopane circundam o delta do rio Okavango, uma das maiores áreas alagadas do mundo. É o pantanal africano, localizado em Botsuana, que cobre aproximadamente 16 mil quilômetros quadrados. O delta tem origem em Angola, com o nome de rio Cubango. Depois passa pela Namíbia com o nome de Kavango. Há milhões de anos esse rio desaguava num lago que secou e “obrigou” as águas a abrir um enorme leque em busca de um local para fluir. É alimentado por uma inundação anual, que tem seu pico depois dos meses de chuvas fortes no Angola. A enchente demora nada menos que cinco meses para atravessar todo o delta e, por sorte, alcança a parte sul na época de seca. É uma dádiva para o local, já que a terra, ressecada, recebe água. Mesmo assim, o ecossistema é extremamente frágil: uma mudança mais brusca em torno do rio pode acabar com o fluxo de água da região.

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O delta do Okavango pode ser facilmente chamado de “Arca de Noé” de Botsuana. A existência de uma grande fonte de água em um ambiente árido sustenta espécies de mamífero grande cada vez mais raras. São bichos que estão presentes em toda a região de Miombo-Mopane, mas que se concentram bastante nessa pequena área.

Elefantes africanos, búfalos, girafas, hipopótamos, zebras e impalas são grandes atrações, ao lado de ferozes predadores como o leão, o leopardo, o guepardo. Entre os répteis, o crocodilo-do-nilo é bastante comum, assim como seus ataques a humanos, com alto índice de sucesso – para os crocodilos, claro. A maioria dos crcocodilos vive e procria ao longo do Panhandle, onde águas profundas e abundantes em peixes compõem o perfeito hábitat para esses animais.

Área total – 1 176 000 km²

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Área intacta – 85%

Área protegida – 36%

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Conservação e ameaça

Uma das grandes ameaças ao meio ambiente é a pobreza extrema da população africana. Seis países da região estão entre os considerados menos desenvolvidos do planeta. Esse fator faz boa parte das pessoas levar a vida por meio da agricultura de subsistência, que empobrece o solo, destrói a vegetação. Com isso, há fragmentação e perda de importante área selvagem. O problema é que a falta de uma perspectiva de melhora política e econômica nessa região indica que esse tipo de agricultura continuará, no mínimo, a médio prazo. Aproximadamente 21% do território já foram transformados para cultivo. Outros perigos consideráveis para a região são: a derrubada de árvores: cerca de 87% das pessoas do lugar dependem de madeira para prover energia doméstica; e o aumento do comércio de carne de caça. Em contraponto, um terço da área considerada selvagem está localizada em santuários protegidos legalmente. Na região do Delta, a grande ameaça no futuro envolve a saída da água e interrupção do fluxo. A caça, a introdução de espécies forasteiras e a disseminação de doenças que afetam a vida selvagem também estão entre os problemas ainda distantes de uma solução.

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