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Espinosa: “Não chore, não ria, mas compreenda”

Ele foi rejeitado pela família, condenado como herege e teve de se virar para sobreviver - com um final trágico. Mas nunca abriu mão de suas convicções.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 28 ago 2019, 13h31 - Publicado em 23 out 2015, 17h10

“Maldito ele seja de dia e maldito seja de noite. Maldito seja quando se deita e maldito seja ele quando se levantar. Maldito seja quando sair, e maldito seja quando regressa”. Com essas palavras iradas e algumas outras a mais, a Sinagoga de Amsterdã anunciou para quem quisesse ler a condenação do “herege” Baruch de Espinosa, em 27 de julho de 1656.

Ser expulso da religião não foi o maior problema de Espinosa por aqueles dias. Envergonhados com a situação, seus parentes o deserdaram e o impediram de tomar parte nos negócios da família. O filósofo havia questionado a forma como víamos Deus e subitamente se viu sem o amparo da comunidade judaica e de seu lar. Para se sustentar, teve de arranjar emprego como lustrador de lentes, um trabalho que garantiu a renda, mas acabou debilitando sua saúde: Espinosa morreria aos 44 anos, provavelmente de uma silicose causada pelo pó de vidro que respirou em duas décadas de serviço. Não que tenham faltado oportunidades para tentar outra carreira. A Holanda vivia uma efervescência econômica, e Espinosa sempre esteve cercado por contatos influentes. Recebeu até mesmo um convite para lecionar na prestigiada Universidade de Heidelberg, mas se viu forçado a recusá-lo por conta da orientação para que não ensinasse teorias contrárias à religião.

De onde vinha tanta convicção? Muitos tacharam Espinosa de ateu, e seus textos chegaram a entrar no famigerado Index, a lista de livros proibidos para católicos. O filósofo não negava a existência de Deus, mas O enxergava como uma figura muito mais impessoal. Para Espinosa, Deus e a Natureza eram dois nomes para a mesma “substância” que fazia o Universo, e a vontade divina se manifestava nas leis naturais. Um conceito inovador que, de certa forma, obrigava a buscar explicações racionais para tudo, negando milagres, por exemplo. Em seu Tratado Teológico-Político, publicado em 1665 (sem assinatura, por medo de represálias), o filósofo dizia que o supersticioso era alguém incapaz de compreender essas leis do Universo – e que precisava criar explicações simples para aquilo que não conseguia entender. Seu exemplo fundamental: a ideia de um Deus raivoso, que precisava ser cultuado e agradado, não passaria de uma superstição. Espinosa defendia que essa imagem de Deus era conveniente para a Igreja, que podia prometer o perdão e, desta forma, ganhar poder. Ou seja, a superstição ajudaria a criar regimes autoritários baseados na religião. Esse pensamento virou uma bandeira cada vez mais forte nos séculos seguintes: a separação entre a Igreja e o Estado.

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