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Nova Guiné

A bizarra ilha onde o tempo parou

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h04 - Publicado em 30 set 2004, 22h00

As vozes da colorida população de Nova Guiné falam mais de mil línguas e dialetos. São tribos que vivem a distância física e cultural que um relevo acidentado, cheio de vales, proporciona. Não bastam canoas para se encontrar no meio das serras que rasgam a paisagem: as línguas são tão diferentes umas das outras que é impossível determinar até se possuem a mesma origem. Uma verdadeira torre de Babel, em pleno século 21. Para entender esses idiomas, seriam necessários 850 dicionários em Papua Nova Guiné e 250 em Papua, a metade leste e a metade oeste da ilha, respectivamente. Uma em cada três línguas usadas atualmente pela raça humana é encontrada nessa ilha bizarra e magnífica. Isso porque há apenas 6 milhões de habitantes: 0,1% da população total do planeta!

A região mais densamente povoada que simboliza a diversidade cultural de Nova Guiné são as Highlands, que, curiosamente, foi a última a ser descoberta: só na década de 30. Nessa época, as tribos não se conheciam mesmo, tinham diferentes costumes e vestimentas. Hoje em dia, muitos povos, como os dani, mantêm suas tradições. Agressivos, robustos e ávidos por uma batalha, os homens da tribo vestem apenas um ornamento que cobre o pênis e as mulheres uma pequena saia feita de grama.

Em algumas vilas na região do rio Sepik – um lugar onde os humanos e crocodilos convivem tranqüilamente – tribos se encontram em total isolamento. Bom exemplo de local inóspito é a província da Sandaun, na Papua Nova Guiné, próxima à fronteira de Papua. Chegar lá é extremamente complicado: não há estradas, como em grande parte da ilha, mas os rios são tão estreitos que o transporte se resume a longas e estreitas canoas. Uma vez lá, o sacrifício vale a pena: a região é circundada por praias soberbas, lindos lagos, vilas pitorescas. Até meados do século passado, o canibalismo era praticado pelos clãs que povoavam a área como forma de proteção contra o espírito do inimigo morto na batalha, e também para incorporar seus poderes físicos e espirituais. Ainda hoje a bruxaria continua uma prática difundida e utilizada, especialmente entre as tribos mais isoladas, com os feiticeiros sendo muito respeitados e temidos.

Situada ao norte da Austrália, Nova Guiné é a maior ilha tropical do mundo em tamanho e em riqueza de espécies. Suas florestas tropicais constituem a maior área selvagem e mais despovoada na região da Ásia e do Pacífico, e perdem em tamanho só para as florestas do Congo e a Amazônia. O ambiente natural é tão variado como a população: inclui matas tropicais em baixadas e serras, florestas de monções, pantanais, savanas e pastos inundados sazonalmente, florestas subalpinas e imensos matagais alpinos. O clima é quente, úmido e chuvoso durante quase todo o ano e, mesmo assim, precipitações de neve podem ocorrer nas alturas mais elevadas.

O principal motivo de o ambiente ser selvagem é a dificuldade de chegar lá. O relevo jovem é marcado por picos que, em muitos lugares, excedem os 3 mil metros de altura e alcançam 4 884 metros no Pucak Jay (antigo Mt Carstensz), ao oeste. Isso significa mais uma penca de praias paradisíacas, fantásticas cachoeiras e vulcões ativos – o último caso de erupção foi em 1851.

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Como se não bastasse ter relevo peculiar e a diversidade de tribos, Nova Guiné ainda coleciona pássaros esquisitos. Há o venenoso pitohui (Pitoshui spp) que se defende quimicamente por meio das penas que levam um potente veneno, idêntico ao dos sapos mais tóxicos da América do Sul!

A relação dos pássaros com a cultura local também é singular. Muitos clãs tradicionais da Nova Guiné têm um pássaro como totem e cantam e dançam em devoção a ele. Outro bicho bastante intrigante da ilha é o marsupial de árvore. Bonitinho e vegetariano, ele sobe nos galhos para descansar e fugir dos predadores. É tão desconhecido que, desde 1990, duas novas espécies e duas novas subespécies foram descobertas por pesquisadores australianos. Infelizmente, esse mamífero está entre os mais ameaçados da ilha por ser caçado tanto para servir de comida quanto por sua valiosa pele.

De aparência nada fofa, o crocodilo de água salgada é considerado animal-símbolo. Esse bicho assustador pode atingir 6 metros de comprimento e tem a reputação de ser um devorador de humanos, com diversos casos já registrados. Mesmo assim, são cultuados por muitas tribos, como os pássaros. Em alguns grupos, os homens tatuam marcas circulares nas costas para imitar as escamas de um crocodilo. Incrível pensar que o interesse dos pesquisadores em relação a essa ilha é recente. Mas incrível mesmo é acreditar que Nova Guiné viva no mesmo tempo cronológico do resto do nosso planeta.

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Área total – 828 818 km²

Área intacta – 70%

Área protegida – 11%

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Conservação e ameaça

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As ameaças à biodiversidade da Nova Guiné são similares às que afetam outras partes dos ambientes tropicais do mundo. Isso inclui, em curto prazo, a caça, a instalação de indústrias, a construção de estradas, o desenvolvimento desordenado e a mineração. A grande preocupação dos ambientalistas a longo prazo é o crescimento da população e a conversão de áreas da floresta em terras para a monocultura (especialmente o óleo de palmeira), que pode se tornar inimigo da vida selvagem. As alterações climáticas e a introdução de espécies não-nativas também podem causar impacto nos ecossistemas da ilha. Não é de se estranhar que, numa terra de tão complicada comunicação, Papua Nova Guiné e Papua precisem de uma legislação clara – e atualizada – para a conservação do hábitat e de suas espécies. Mesmo com essa defasagem, a ilha foi beneficiada, na última década, com alguns projetos. Mais recentemente, a Conservação Internacional tomou a iniciativa do desenvolvimento de dois grandes programas: um deles visa a conservação e o gerenciamento sustentável dos recursos marítimos e do hábitat em uma zona marinha de 10 milhões de hectares na Província de Milne Bay; o outro é focado nas florestas e bacias hidrográficas do rio Mamberamo, no norte de Papua, em uma área de também 10 milhões de hectares, que vai do nível do mar a regiões com mais de 4 mil metros de altitude.

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