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O Navegador Paul Watson

O ambientalista cuja vida vai virar filme tem um jeito simples de proteger as baleias: afundando baleeiros

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h01 - Publicado em 31 out 2000, 22h00

Denis Russo Burgierman

– Sierra, Sierra… – chamou uma voz pelo rádio.

–Aqui é o Sierra.

– Seu maldito! Matador de baleias filho da puta, sua carreira vai terminar hoje.

O diálogo, transcrito do livro Ocean Warrior, aconteceu na manhã de 16 de julho de 1979. A ameaça vinha de um capitão descabelado que estava no timão da traineira Sea Shepherd aproximando-se a toda velocidade do Sierra. O nome dele: Paul Watson. Antes que o Sierra pudesse fugir, o Sea Shepherd, mais rápido e mais pesado, se espatifou na sua proa, destruindo o arpão. Depois deu a volta e atacou de novo, abrindo no casco um rombo de 2 por 3 metros. Terminava ali a história do Sierra, um navio pirata que arpoara mais de 25 000 baleias desde 1968.

Watson, um navegador canadense que ajudou a fundar o Greenpeace em 1971, inaugurou assim a Sea Shepherd. Hoje, a maioria das ONGs trocou as capas de borracha por ternos e os confrontos violentos pela mesa de negociações. Mas a radical Sea Shepherd continua abalroando baleeiros, prendendo caçadores de focas e atacando barcos pesqueiros com helicópteros, inclusive no Brasil.

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Aos 49 anos, o ambientalista terá sua vida retratada em uma superprodução de 50 milhões de dólares – o filme Ocean Warrior, que estréia em 2001, com James Marsden, o Ciclope de X-Men, no papel de Watson. O capitão conversou com a Super por telefone, de sua casa, onde se recupera de uma pneumonia apanhada recentemente nos mares nórdicos.

Super – Quando você decidiu dedicar sua vida às baleias?

Tive uma revelação em 1975. Na época, eu estava no Greenpeace e tive a idéia de entrar com botes infláveis entre baleias e baleeiros. Imaginávamos que não matariam seres humanos para pescar baleias – líamos muito Mahatma Gandhi (risos). Então, ficamos na frente de um navio russo e percebemos que eles não estavam preocupados com nossas vidas. Os soviéticos lançaram um arpão sobre nossas cabeças, atingindo uma fêmea de um grupo de baleias. Ela gritou e, em seguida, o maior macho do grupo submergiu. Sentimos que ele iria nos pegar por baixo para proteger os demais, já que éramos o alvo menor. De repente, o macho surgiu por trás de nós e se jogou na direção dos russos, que atiraram um arpão na cabeça dele. Ele mergulhou olhando para mim e vi inteligência naqueles olhos enormes. Em seguida, surgiu uma trilha de bolhas de sangue vindo em nossa direção. Achei que ele fosse nos atacar, mas isso não aconteceu. De alguma maneira, ele sabia que estávamos ali para ajudar. Por isso nos evitou. Desde então me sinto na obrigação de proteger as baleias.

Houve outros momentos em que você achou que ia morrer?

Em 1984, um barco da Marinha da Noruega tentou nos atropelar e atirou em nós. Tivemos confrontos com a Marinha soviética e a dinamarquesa. Felizmente, nesses 25 anos, nunca provocamos nem sofremos nenhum ferimento grave.

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O que você faria numa situação em que a única forma de salvar uma baleia fosse matar um pescador?

Tomamos todas as precauções para não machucar ninguém. Mas, se restassem poucas baleias no mundo e o único jeito de evitar que alguém matasse uma das últimas fosse atirar no pescador, eu aceitaria a alternativa. A sobrevivência da espécie é anterior aos direitos de um indivíduo.

Quantas vezes você foi preso?

Dúzias. Faz parte do trabalho. Quem entra na frente de um navio e de interesses privados sabe que está se metendo em encrenca.

Quantos baleeiros você afundou?

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Oito. Em 1979, afundamos o Sierra, em Portugal. Em 1980, foram mais dois espanhóis, metade da frota do país na época. Em 1986, nos livramos de dois baleeiros islandeses, também metade da frota da Islândia. Desde então afundamos três noruegueses.

Você participou como navegador da primeira ação do Greenpeace em 1971. O que mudou na ONG desde então?

Hoje o Greenpeace é uma corporação burocrática que arrecada 200 a 300 milhões de dólares por ano e está mais interessada em levantar dinheiro vendendo produtos do que em salvar a Terra. Os ativistas deixaram a entidade, que foi tomada por burocratas, contadores e advogados. Nas campanhas, eles mostram fotografias de 20 anos, porque não têm nenhuma nova. Me sinto como o doutor Frankenstein – criei o grande monstro verde. Eu os chamei, numa entrevista, de “garotas-Avon do movimento ambientalista”, porque vão de porta em porta pedindo dinheiro. Nunca me perdoaram por isso.

Qual a situação da pesca de baleias no momento? A posição de países como Noruega e Japão é a mesma de sempre?

Sim, eles fazem o que bem entendem. Há uma moratória na pesca de baleias, mas o Japão e a Noruega continuam matando indiscriminadamente. Vamos ao Japão no próximo verão para tentar evitar isso. A Islândia e a Rússia, que tinham parado, querem voltar à atividade. É ridículo: quanto mais diminui o número de baleias, mais gente quer se envolver.

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E os governos protegem os baleeiros?

O governo protege a indústria e não se importa com mais nada. A Marinha norueguesa, por exemplo, está a serviço dos baleeiros.

Você vê isso como uma guerra?

Sim. Uma guerra para salvar o planeta de nós mesmos. E ela só será ganha quando houver desespero. Daí veremos movimentos muito mais violentos para proteger o ambiente. As pessoas vão reagir. Qual a alternativa? A morte?

O que aconteceu com os proprietários do Sierra? Eles não podem simplesmente comprar outro navio?

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Nós os aposentamos. Eles tinham outros três barcos. Fizemos com que o governo sul-africano apreendesse dois e oferecemos uma recompensa de 25 000 dólares para quem afundasse o terceiro. Para evitar mais prejuízo, eles largaram o negócio. Nossos críticos dizem que destruir baleeiros não adianta porque basta comprar navios novos. Não é verdade. Em 1986, afundamos metade da frota baleeira islandesa. Desde então, eles não mataram uma só baleia. Levaram todo esse tempo para se recuperar do prejuízo de 10 milhões de dólares que provocamos. Por nossa causa, os noruegueses tiveram que fazer um seguro de guerra, que é caríssimo. Assim, tornamos a pesca da baleia uma atividade pouco lucrativa. Como é o comércio que move o mundo, esse tipo de argumento é mais convincente do que falar de biodiversidade.

Para saber mais

Na livraria: Ocean Warrior

Paul Watson, Key Porter Books, Canadá, 1994

Na Internet: Sea Shepherd

https://www.seashepherd.org

Sea Shepherd do Brasil

https://www.seashepherd.org.br

Site do filme Ocean Warrior

https://www.oceanwarrior.com

drusso@abril.com.br

Frase

Se a única forma de salvar as baleias fosse matar um pescador, eu aceitaria essa alternativa

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