O que restou da velha Mata Atlântica que um dia cobriu cerca de 108 500 000 hectares do território brasileiro, do Cabo de São Roque, no Rio Grande do Norte, até a região de Osório, no Rio Grande do Sul? Muito pouco, acusa o “Atlas dos Remanescentes Florestais do Domínio da Mata Atlântica”, primeiro mapeamento feito por satélite da floresta que Pêro Vaz de Caminha descreveu como repleta de “grandes arvoredos de muitas espécies”. Sobraram cerca de 9% da área original, ou seja 9 564100 hectares ou 95 641 quilômetros quadrados. Se serve de consolo, o atlas de espécies de animais, algumas em extinção.
Elaborado em dois anos e meio pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Fundação S Mata Atlântica, o atlas mostra que esse pedaço da mata conserva imensa variedade. Contém florestas de planície e de altitude, matas costeiras e de interior, ilhas oceânicas, restingas, dunas, manguezais, enclaves de cerrados e campos. Nesses domínios, podem ser encontrados mais de 10 000 tipos de plantas e centenas de espécies de animais, algumas em extinção.
Elaborado em dois anos e meio pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Fundação S Mata Atlântica, o atlas tem uma particularidade: compara o que havia de mata nativa em dez Estados em 1985 e o que restou em 1990. “Só não conseguimos informações do Nordeste, porque as nuvens impediram o trabalho do satélite”, conta a geógrafa Diana Hamburger, da S Mata Atlântica e coordenadora do projeto. “Mas lá existem apenas fragmentos esparsos da mata”.
Em quase todos os Estados foram feitos sobre-vôos para avaliar as causas dos desmatamentos. Descobriu-se que, em cinco anos, o Brasil perdeu 536 000 hectares de floresta, cerca de 6% do que havia em 1985. O campeão em destruição foi o Paraná, que desmatou 144 000 hectares, correspondentes a 8,76% da área do Estado. Os dados mostram que em São Paulo, Espírito Santo ou Bahia a situação não é muito diferente: perde-se, em média, 1% da área original da Mata anualmente, substituída por eucaliptos, monocultura de soja, cana e laranja ou por pastagens. No ano passado, quando estava terminando o atlas, a S Mata Atlântica conseguiu que o Congresso votasse uma legislação especial para proteger a floresta. Um passo importante, para que se possa publicar uma segunda edição.