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Descartes: “Penso, logo existo”

O soldado que se tornou um gigante da matemática e da filosofia - e estruturou as noções mais básicas do pensamento racional

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 28 ago 2019, 13h24 - Publicado em 23 out 2015, 17h09

“Penso, logo existo”, Descartes

Aos 24 anos de idade, René Descartes se alistou no Exército holandês, passando a integrar as tropas de Maurício de Nassau. Não seria sua única experiência bélica: o jovem que depois ficaria famoso por seu legado à matemática e à filosofia ainda pegou em armas pelas legiões da Bavária, e chegou a participar de uma batalha nos arredores de Praga, em 1620, durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). O gênio nascido na França enveredou para a carreira militar tentando provar a si mesmo que não tinha os pulmões fracos. Quando veio ao mundo, os médicos garantiram que seus dias estavam contados: a mãe morreu de tuberculose pouco após o parto, e o pequeno René dificilmente teria um destino muito diferente. Mas seu pai, Joachim, contratou uma ama de leite e garantiu que o filho passasse os primeiros anos em casa, longe do contato com outras crianças — e, principalmente, suas doenças.

Deu certo. Descartes chegou à idade adulta e pôde até virar soldado, mas não tinha jeito para a trincheira. Introspectivo e com gosto pela leitura, logo conseguiu ser dispensado para se dedicar em tempo integral àquilo que já vinha fazendo nas horas vagas — desenvolver ideias revolucionárias, que reuniria mais tarde no Discurso do Método, sua obra-prima que trata da prática científica, do pensamento humano e até mesmo de Deus, entre outras questões. Descartes ganhou fama por criar e emprestar o nome ao sistema de coordenadas cartesiano, que abriu caminho para o surgimento da geometria analítica — e dos pesadelos de muitos estudantes do ensino médio pelo mundo afora. Longe dos números, fundou o pensamento racionalista, influenciando gerações de estudiosos e ganhando a alcunha de pai da filosofia moderna.

Conforme a doutrina cartesiana, é a razão, e não a experiência empírica, que deve ser a fonte do conhecimento — assim, nós entendemos o que é real e o que não é por meio da dedução, e não dos cinco sentidos. Com a conhecida frase “penso, logo existo”, Descartes resumiu o conceito de que nossa própria existência seria comprovada pelo fato de que podemos duvidar e pensar a respeito dela. Por extensão, ele concluía que a existência de Deus podia ser comprovada pelo método racionalista: o simples fato de podermos ter a ideia de perfeição e de infinito, sendo imperfeitos e finitos, garantiria a verdade dessa ideia. E, se Deus existe, também existe o mundo sustentado por Ele.

Por ironia, os dias do filósofo francês foram abreviados justamente por conta de seus pulmões — quando ele acreditava já estar a salvo do problema. Em setembro de 1649, Descartes foi convidado a lecionar para a rainha Cristina, da Suécia, numa maratona de aulas que começavam às cinco da manhã. Abatido pelo congelante inverno escandinavo, o pensador contraiu uma pneumonia e faleceu apenas seis meses depois.

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