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Por que estamos aqui?

Para entender por que existe o Universo no lugar do vazio, seria necessário conceber uma ciência capaz de capturar evidências físicas de uma realidade que extrapola suas regras

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
6 jun 2018, 17h21

Desde Sócrates, a filosofia é a senhora das dúvidas desconcertantes. Mas talvez não exista pergunta mais desconcertante e antiga quanto “por que existe o Universo e não o nada?”. Tente responder agora. Você não está sentindo um comichão intelectual?

É comum arriscar uma resposta rápida dizendo que o Big Bang deu origem ao Universo. Ponto final. Ainda assim, você está a milhas de distância de responder por qual razão o Big Bang disparou. O problema da explicação científica, diz o filósofo Jim Holt, é a circularidade. “O Universo abarca tudo o que existe fisicamente. Uma explicação científica deve contemplar algum tipo de causa física, porém qualquer causa física é por definição parte do Universo a ser explicado”, conclui o autor do best-seller Por que Existe o Mundo?, que virou livro de cabeceira de filósofos e cientistas no mundo inteiro, lançado em 2013 no Brasil.

A ciência não tem meios para explicar a origem do primeiro estado físico saído do nada porque estará sempre partindo de algo e não do nada — exatamente como o cachorro atrás do próprio rabo. Para chegar lá, a ciência teria de abarcar as regras que explicam por que a física é desse jeito e não de qualquer outro — ou seja, a metafísica, um campo original da filosofia. É por esse motivo que a dúvida sobre a origem do Universo é a grande candidata a continuar para sempre na pauta dos filósofos.

Há ainda uma outra via, que consola parte dos cientistas. Ela postula que o mundo “apenas é”, um fato bruto, já que a questão extrapola a esfera científica. É uma forma de contornar a necessidade de explicar a existência de todas as coisas. Para Holt, porém, somos até capazes de aceitar um Universo sem propósito. Mas engolir que sua existência em si não tem explicação é mais nonsense que um filme do Monty Python. Para uma espécie racional como a nossa, é absurdo, escreve Holt.

Até mesmo instintivamente seguimos o que Leibniz chamou de Princípio da Razão Suficiente: para cada verdade, consideramos quase sem pensar que deve haver uma explicação para que ela seja assim e não de outra forma. E, se esse princípio funciona (e ele dá provas que sim, especialmente para a ciência), deve haver uma explicação para o mundo existir.

Mas, se a ciência não é capaz de encontrar uma solução, seria a filosofia a mais indicada para nos dar uma resposta? Não, mas é ela que não nos deixará esquecer que precisamos continuar perguntando.

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