Assine SUPER por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Quem comeu a comida do jacaré?

Artigo do secretário do Meio Ambiente do Maranhão, Fernando César Mesquita, criticando o governador do Amazonas, Gilberto Mestrinho, pela caça indiscriminada ao jacaré.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h58 - Publicado em 30 set 1991, 22h00

Fernando César Mesquita

O governador do Amazonas, Gilberto Mestrinho, pegará em armas, se confirmar a ameaça de internacionalização da Amazônia, tida como certa por ele e pelo comandante do Exército na área, general de quadro estrelas Antenor de Santa Cruz. Estrategista, o militar combaterá os invasores com as táticas de guerrilha empregadas pelos vietcongs no Vietnã, conforme já antecipou à imprensa. Por outro lado, Mestrinho treinará suas tropas, antes de iniciadas as hostilidades, exercícios de tiro ao jacaré, com o que unirá o útil ao agradável: adestrará seu pessoal e vingar-se-á dos malvados répteis que estão devorando ribeirinhos desavisados. 

E quer fazê-lo a título de manejo ecológico. Se há perigo de intervenção estrangeira, somente o general e o governador tiveram acesso às informações oficiais. De qualquer modo, os dois riscos – à integridade territorial e aos caboclos -, verdadeiros ou não, demonstram o emocionalismo, o folclore e a demagogia que ainda contaminam as discussões a respeito do uso sustentado dos recursos naturais de um área com cerca de 5 milhões de quilômetros quadrados. São florestas, campos, cerrados e outros ecossistemas a respeito dos quais pouco se conhece. Por enquanto, ficamos com slogans tipo “integrar para não entregar” ou “o caboclo é nosso”, como disse Mestrinho. 

Seria ingenuidade afirmar que as nações ricas não cobiçam a Amazônia, principalmente por seu subsolo riquíssimo e pela biodiversidade de suas florestas. Seria, também, ingênuo achar que o governo, em qualquer época, administrou adequadamente suas riquezas. Planos foram implantados, sem preocupações ecológicas, haja vista a política de incentivos fiscais para projetos agropecuários. Erros foram cometidos, mas os governantes não aprenderam que é necessário mudar atitudes e práticas administrativas. Não é segredo para ninguém a carência de recursos para investimentos em pesquisas, fato que retrata uma triste realidade, pois entidades internacionais sabem mais sobre a Amazônia do que nós, brasileiros. Daí, talvez, a razão da cobiça. 

O país não faz o que deve e imagina que pode conquistar corações e mentes com surradas palavras de ordem ou pronunciamentos “soberanosos e nacionalisteiros”. Assim, enquanto o governo não leva a Amazônia a sério, com propostas realísticas e aloca recursos substanciais para estudos e pesquisas com começo, meio e fim, o único caminho é tentar reduzir os índices de devastação. Como também não se gasta o mínimo indispensável em educação ambiental, imprescindível para mudar hábitos e costumes da população, o remédio é aplicar a legislação contra quem pratica crimes ecológicos.

Continua após a publicidade

Já ouvi críticas à atuação do Ibama na Amazônia pela maneira dura como agem seus fiscais. Lamentavelmente, não há outro jeito. Na verdade, a maioria das pessoas que exploram recursos naturais na região o fazem em desacordo com as normas legais. Digo com a autoridade de quem, durante pouco mais de um ano, presidiu o Ibama e examinou centenas de atuações, participou de reuniões e percorreu os pontos mais agredidos pelo homem. Ninguém quer manter as áreas de preservação permanente; derrubam matas ciliares ou de galerias; desmatam e queimam, desprezando a orientação técnica do Ibama. E as minerações, que deveriam por lei reabilitar as áreas degradadas, só o fazem se intimadas. 

Quando o governador Mestrinho prega o extermínio dos jacarés famintos, esquece que é preciso investigar, por exemplo, quem comeu a comida do jacaré. Lembro-me de quando resolvemos fazer valer o defeso à pesca (proibição da atividade em certa época) no Rio Amazonas. Políticos, empresários e sindicatos encetaram campanha contra o Ibama. Mantivemos a proibição com muito esforço, demonstrando que os pescadores se prejudicariam mais tarde, com a extinção de algumas espécies de peixe. Reduziriam seus ganhos dois ou três meses, mas seria melhor que deixar de pescar de vez no futuro. Por fim, é obvio que o homem é o ser mais importante da natureza e não pode morrer de fome. Não admitimos é que se destrua a vida em nome de meias verdades. E, se não houver controle rigoroso, vão destruir mesmo.

 

 

 

 

 

 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.