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Rios que matam e morrem

Há quem diga que as próximas guerras serão travadas pelo controle da água, cuja disponibilidade vem diminuindo por culpa do homem

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h05 - Publicado em 1 mar 2005, 01h00

Karen Gimenez

Os números são alarmantes. Segundo a ONU, há cerca de 1,1 bilhão de pessoas sem acesso adequado a água, ou 18% da população do planeta. Se nada for feito, esse número deve chegar a 3 bilhões em 20 anos. A contaminação das águas é responsável por mais de 10 milhões de mortes por ano causadas por doenças como cólera e diarréia, principalmente na África. No Haiti, um dos países mais miseráveis do planeta, muita gente mata a sede com o esgoto que corre a céu aberto. Alguns especialistas chegam a prever que as próximas guerras serão travadas pelo controle da água, em vez do petróleo. Não seria uma novidade. No Antigo Egito, o controle das enchentes do Nilo serviu de pretexto para a conquista de civilizações e territórios. Hoje, a maior expressão de luta armada envolvendo a água está no conflito entre Israel e Palestina, que tem como pano de fundo o estratégico vale do Rio Jordão.

Parece incrível que a água seja motivo de tanta disputa. Afinal, a Terra não é chamada de “planeta água”? De fato, as águas cobrem 77% da superfície do planeta, mas somente 2,5% são de água doce. E menos de 1% do total está acessível ao uso pelo homem. Embora a água existente na Terra seja suficiente para todos, há a dificuldade de distribuição, a população mundial não pára de crescer e a ação humana vem alterando drasticamente o sistema hídrico. O desmatamento e a impermeabilização do solo nos centros urbanos, por exemplo, quebram o ciclo natural de reposição da água, secando rios centenários. Alguns rios, como o Colorado, nos Estados Unidos, e o Amarelo, na China, muitas vezes secam antes de chegar ao mar. Isso sem falar nos freqüentes acidentes, como vazamentos de óleo, que causam verdadeiros desastres ambientais.

Para uma boa qualidade de vida, estima-se que sejam necessários 1 000 metros cúbicos de água per capita por ano. Cerca de 40 países vivem com menos do que isso – os Estados Unidos gastam o dobro. Até 2025, dois terços da população mundial deverão viver em países com moderada ou severa escassez de água. De acordo com a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizado na África do Sul em 2002, se forem mantidos os atuais níveis de investimento, o acesso universal a água de boa qualidade não deverá se concretizar antes de 2025 na Ásia, de 2040 na América Latina e Caribe e de 2050 na África.

A situação é preocupante, mas, com algumas mudanças no comportamento de empresários, do governo e da população, é possível reverter o quadro em pouco mais de uma década, segundo o geólogo Aldo Rebouças, professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo e um dos organizadores do livro Águas Doces no Brasil (Escrituras, 2002). As metas sugeridas por Rebouças podem ser assim resumidas: a agropecuária, responsável por 67% da água utilizada no mundo, deve reduzir seu consumo em 20%; a indústria deve diminuir em pelo menos 50% o esgoto lançado na natureza; e o governo deve fazer a manutenção adequada do sistema de distribuição de água.

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Nas zonas rurais, muitos produtores aplicam água em excesso ou fora do período de necessidade das plantas. A eficiência da irrigação nos países em desenvolvimento fica entre 25% e 40%. “O resto é desperdício”, diz Rebouças. Por parte dos governos há também muito desperdício. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) perde 40% da água que trata, por falta de manutenção das adutoras ou por não fiscalizar as ligações clandestinas. Quanto às indústrias, bastaria que seguissem a lei: 80% dos resíduos industriais nos países em desenvolvimento são despejados clandestinamente em rios, lagos e represas.

Já o usuário doméstico, embora represente a menor fatia do consumo, pode, com sua atitude, influenciar os volumes consumidos pela indústria e pela agropecuária. Para isso, basta que cada um siga algumas recomendações simples, como varrer a calçada em vez de lavá-la com a água da mangueira, não lavar a louça ou escovar os dentes com a torneira aberta e não transformar o banho diário em uma atividade de lazer.

Tendências

• ESCASSEZ

Cerca de 40 países vivem hoje com menos água do que é necessário para uma boa qualidade de vida. Até 2025, dois terços da população mundial deverão viver em países com escassez de água.

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• LONGO PRAZO

O acesso a água segura para beber para toda a população não deverá se realizar antes de 2025 na Ásia, antes de 2040 na América Latina e antes de 2050 na África. Essas três regiões representam mais de 80% da população do planeta.

• SAÍDA

É possível impedir o agravamento desse quadro por meio de uma gestão mais adequada dos recursos hídricos e da racionalização do consumo por parte da agricultura, da indústria e dos usuários domésticos.

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