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Sócrates: “Só sei que nada sei”

Entenda o que ele quis dizer com isso - e por que uma frase aparentemente tão simples atraiu inimizades em Atenas

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 26 Maio 2023, 15h28 - Publicado em 16 out 2015, 19h00

“Só sei que nada sei”, Sócrates

Sócrates é para a filosofia o que Jesus representa para o cristianismo. Assim como o profeta, veio de uma família pobre, nunca escreveu uma palavra, incomodou muita gente e foi admirado por uma legião. Perambulava pelas ruas, onde parava desconhecidos e fazia perguntas embaraçosas. Como Jesus, Sócrates morreu de forma trágica. De origem pobre, seguiu a mesma profissão do pai, escultor. Mas o ofício logo foi abandonado com a convocação para a guerra do Peloponeso, onde defendeu Atenas contra Esparta. Foi também nessa época que o sábio encontrou o amor — ou melhor, os amores. Não que ele fizesse sucesso com as mulheres — pelo contrário, dizem que sua feiúra era incomparável —, mas a escassez de homens depois das batalhas fez os governantes criarem uma lei extraordinária que permitia o casamento com duas mulheres. Sócrates escolheu Xantipa e Mirton como esposas.

Se lhe faltavam atributos estéticos, sobrava lábia. Sócrates falava dia e noite sem parar, inquerindo quem quer que cruzasse o seu caminho. A sede insaciável de diálogo ficou conhecida como método socrático, ou dialética. Passava os dias formulando questões e perguntando insistentemente, sem desenvolver uma teoria sequer. Dos diálogos, tentava estimular pensamentos sobre o que é o bem, o justo, o bom e o belo. A vida e a moral eram as grandes preocupações do pai da filosofia ocidental. Ele definiu o que acreditava ser uma vida virtuosa, onde a paz de espírito era atingida fazendo o certo, o que não era a mesma coisa que seguir o código moral da época. Fazer a coisa certa era uma questão de consciência — Sócrates acreditava que ninguém deseja fazer o mal. Esse princípio levaria à famosa máxima “Conhece-te a ti mesmo”, inspirada na inscrição do Oráculo de Delfos, centro de consulta aos deuses gregos. Certa vez, perguntou se ser enganador correspondia a ser imoral. “É claro que sim”, respondeu o interlocutor. Sócrates, então, indagou: “Mas e se um amigo estivesse muito triste e quisesse se matar e você roubasse a faca dele? Não seria um ato imoral?” Sim, ouviu como resposta. Sócrates concluiu: “Mas seria moral em vez de imoral, já que seria uma coisa boa e não ruim”. A essa altura, enquanto os neurônios do cidadão se debatiam, Sócrates dava-se por satisfeito. Ele próprio comparou esse método com a profissão de parteira da sua mãe. Sua mãe usava a habilidade para trazer à luz a vida. Ele paria a verdade. Um dia, um amigo de Sócrates consultou o Oráculo de Delfos. Desejava saber se existia alguém mais sábio que o filósofo. A resposta foi direta: “Não, ninguém é mais sábio que Sócrates”. Quando soube da resposta, Sócrates ficou pasmo com a afirmação e foi procurar políticos e poetas para provar o erro do Oráculo. Foi em vão.

Conta-se que, ao conversar com outros sábios, Sócrates concluiu que todos acreditavam que tinham um conhecimento profundo sobre algum assunto, quando, na verdade, não era bem assim. A sabedoria do pensador estava em não alimentar ilusões sobre o próprio saber. Foi dessa lógica que Sócrates extraiu a histórica frase “só sei que nada sei”, pensamento que lhe rendeu vários inimigos em Atenas, que o acusaram de ser, na verdade, um sofista interessado em se aproveitar da retórica para mentir. O filósofo foi levado ao tribunal, acusado de colocar em risco a moralidade ateniense e dissuadir a crença nos deuses. Recusando-se a abrir mão de suas ideias, o sábio tomou um cálice de cicuta — veneno extraído de uma planta que paralisa gradualmente o corpo. Morreu aos 70 anos. Durante o julgamento, disse uma de suas frases mais marcantes: “A vida irrefletida não vale a pena ser vivida”. Segundo relatos de Platão, seu maior discípulo, Sócrates preferia a morte do que viver sem questionamentos, na completa ignorância. Teria declarado ainda que, se corromper a juventude significava ensinar a cuidar menos do corpo e mais da alma, então era culpado. Sócrates não escreveu nada, mas disse muito. Poucos minutos antes de cumprir seu destino, se despediu dos discípulos: “Já é hora de irmos. Eu para a morte, vocês para a vida. Quem de nós segue o melhor rumo? Isso é segredo. Exceto para Deus”.

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