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Vida na profundidade escura dos oceanos

Robô submarino que desceu a 2 200 metros de profundidade no oceano revelou a existência de verdadeiros oásis biológicos, com estranhas formas de vida.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h59 - Publicado em 31 ago 1992, 22h00

Um mundo escuro, frio e inadequado para a vida. Assim os cientistas costumam dizer das profundezas oceânicas, desertos onde o homem só pode chegar a bordo de lentos sinos submarinos, capazes de suportar a monumental pressão de 200 atmosferas. As imagens de alta definição captadas pelo robô submarino Jason, no entanto, deram um novo colorido ao fundo do mar, revelando a existência de verdadeiros oásis biológicos, com estranhas formas de vida, a 2200 metros de profundidade. Os olhos eletrônicos desses robôs, desenvolvidos pela equipe de Dana Yoerger, professor da Woods Hole OceanoGraphic Institution. Nos Estados Unidos, são os mesmos que permitiram ao mundo enxergar o interior do navio Titanic, a 4000 metros de profundidade, na costa do Canadá.

Comandados por cabos ligados a computadores instalados a bordo de navios, os robôs são largamente utilizados para realizar trabalhos onde é impossível a ação humana direta, como a instalação e equipamentos para a exploração de petróleo em águas profundas. Eles também se mostram valiosos para a pesquisa cientifica, nos campos da Arqueologia, Geologia e Biologia Marinha. Isso porque, além de um alto grau de mobilidade e precisão de movimentos, eles podem utilizar sonares para mapear o fundo do mar, além de fotografar e filmar pontos de interesse para a pesquisa, obtendo imagens de alta definição a partir de processamento por comutador.

Assim é o sistema Jason Medeia, um robô de grande porte, criado pela equipe de Yoerger, que explora as Cordilheiras Meso-Oceânicas – o relevo submarino no Atlântico e no Pacífico que funciona como ponto de distensão entre as placas continentais. Jason mergulhou a 400 quilômetros da costa oeste norte-americana, onde existem cadeias de montanhas profundas fossas e picos escarados, semelhantes às serras no relevo terrestre. As câmeras fotográficas e de vídeo trouxeram à tona imagens inéditas de um mundo misterioso.

Em profundidades superiores a 2000 metros ocorrem erupções permanentes de água e sais minerais com temperatura em tono de 400°C, que formam colunas turvas, parecidas com fumaça, de até 50 metros de altura no fundo do mar. Em torno dessas colunas as imagens revelaram a existências de uma fauna diferente de todas as formas de vida conhecidas no planeta. São vermes tubulares, pequenos crustáceos e até peixes que integram um sistema ecológico no qual a cadeia alimentar baseia-se na quimiossintese – quando os elementos inorgânicos existentes na água são transformados, por algumas bactérias, em matéria orgânica. Além de acontecerem independentemente da presença da luz, essas reações não são afetadas pela alta pressão. Elas se tornaram possíveis devido à propagação de calor no ambiente.

Segundo a bióloga Denise Rivera Tenembaum, do Departamento de Biologia Marinha da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), bactérias quimiossintetizantes já foram encontradas em outros ambientes marinhos. “A existência dessas bactérias em regiões profundas é importante porque elas são a única fonte de energia para os organismos vivos”, explica. As descobertas do Jason abrem expectativas para o estudo de fontes alternativas de energia em organismos vivos e até para a pesquisa de um novo recurso alimentar para o futuro.

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