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Caça aos Nazistas, parte 2: A vida boa de Herbert Cukurs no RJ

Ele matou milhares de judeus queimados e afogados e depois se escondeu no Brasil... até se descoberto pelo serviço secreto israelense

Por Luiz Romero
Atualizado em 22 fev 2024, 10h31 - Publicado em 4 jan 2016, 15h52
Herbert Cukurs

ILUSTRARenato Faccini

1. Herberts Cukurs nasceu na Letônia em 1900, quando parte dessa pequena nação báltica ainda integrava o Império Russo. Nos anos 30, era visto como herói nacional pelas conquistas como piloto. Chegou a ganhar medalhas pelos longos voos que realizou: da Letônia, no norte da Europa, até Gâmbia, no oeste da África; e da capital, Riga, até Tóquio, no Japão

2. Mas Cukurs logo mudaria de trabalho. Nos anos 40, durante a ocupação nazista na Letônia, ajudou a liderar o Comando Arajs, unidade policial dedicada a assassinar judeus, ciganos, deficientes mentais e civis. Muito por causa desse grupo, o Holocausto na Letônia foi um dos mais mortais na Europa: nove em cada dez judeus locais perderam a vida

3. Em 1941, ele ordenou que fosse queimada uma sinagoga em Riga com 300 judeus trancados lá dentro, e que fossem afogados 1.200 judeus num lago no interior do país. Também participou do fuzilamento de outros 13 mil na floresta de Rumbula: as vítimas eram levadas do gueto de Riga e, quando chegavam à mata fechada, eram forçadas a se deitar nas valas onde seriam enterradas

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4. Pouco se sabe sobre como Cukurs driblou os Aliados no fim da guerra. É possível que tenha se misturado a soldados alemães de baixa patente, que fugiam dos soviéticos em direção à Alemanha. Depois, seguiu viagem para a França e, como era admirador de Santos Dumont, decidiu mudar-se com a família para o Brasil. Em 1946, eles aportaram no Rio de Janeiro

5. Em terras brasileiras,Cukurs voltou a trabalhar com aviões. Mais especificamente, hidroaviões (aqueles que pousam na água). No finzinho dos anos 40, ganhou a vida organizando passeios turísticos na Lagoa Rodrigo de Freitas. Depois, viveu brevemente em Santos e mudou-se para São Paulo, onde oferecia lanchas, aerobarcos e hidroaviões na Represa Guarapiranga

6. Tudo mudou com uma ligação telefônica, em 1965. A voz no outro lado da linha, que se apresentou como um conhecido, convidou Cukurs para uma viagem a negócios a Montevidéu. Segundo a polícia uruguaia, primeiro Cukurs se hospedou num hotel na capital. Poucos dias depois, foi levado por um carro preto para uma casa numa região vizinha, próxima da praia

7. Após uma hora, um grupo de homens, sem Cukurs, foi embora da casa. Dias depois, uma carta em tom judicial chegou a três agências de notícias alemãs. Ela contava que o ex-nazista havia sido condenado à morte e executado no Uruguai. Primeiro, os jornalistas não acreditaram, mas, após uma ligação anônima que perguntava sobre a carta, avisaram a polícia uruguaia

8.Cukurs foi achado com a cabeça esfacelada e envolto em sangue. Uma das armas do crime, um martelo, também foi encontrada. Em 2005, em entrevista ao jornal israelense The Jerusalem Post, um agente aposentado e participante do assassinato confirmou a antiga suspeita de que o Mossad, serviço secreto israelense, havia organizado a execução

Herbert Cukurs rota
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Rota de fuga

1. Letônia

2. Alemanha

3. França

4. Brasil (Rio de Janeiro)

5. Brasil (Santos)

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6. Brasil (São Paulo)

7. Uruguai

A CARTA NA ÍNTEGRA

Confira o texto chocante do Mossad sobre a execução

“Levando em consideração a gravidade da denúncia levantada contra o acusado, que teria supervisionado a matança de mais de 30 mil homens, mulheres e crianças, e levando em consideração a crueldade extrema com que executou suas tarefas, Herbert Cukurs é sentencidado à morte. O acusado foi executado por aqueles que nunca poderão esquecer 23 de fevereiro de 1965. Seu corpo pode ser encontrado na Casa Cubertini, no departamento de Canelones, em Montevidéu, no Uruguai”

ELES ESCAPARAM

Ainda há nazistas à solta no mundo

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Todo ano, o caçador de nazistas Efraim Zuroff faz uma lista de criminosos ainda não encontrados. Apesar de muitos já terem passado dos 90 anos, Zuroff acredita que ainda há tempo para se fazer justiça. “Nos últimos 14 anos, pelo menos 102 condenações foram obtidas”, diz. Conheça três ainda à solta:

Gerhard Sommer:Segundo a Justiça italiana, participou do massacre de 560 italianos numa vila da Toscana. Considerado senil, foi liberado do julgamento na Alemanha e hoje vive num asilo em Hamburgo

Algimantas Dailide:Capturou cerca de dez judeus que tentavam escapar do gueto lituano de Vilna, em 1941. Foi condenado pela Justiça do país em 2005, mas a Alemanha não o deportou por não considerá-lo mais uma ameaça

Alfred Stork:Mandou matar 117 militares italianos que haviam se rendido aos nazistas em uma ilha grega. Condenado na Itália, nunca foi processado na Alemanha, onde ainda vive em liberdade

ESTA É A SEGUNDA PARTE DA MATÉRIACAÇA AOS NAZISTAS. CONFIRA AS OUTRAS:

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Parte 1: O exílio do Doutor Morte no Egito

Parte 3: A pena do Corvo Negro

Parte 4: O carrasco que foi condenado pelo acaso

FONTESSitesBBC,Opera Mundi,Reuters,Enciclopédia Britannica,Buzzfeed,Memorial do Holocausto,Simon Wisenthal Archive,Simon Wiesenthal Center, blogherbertcukurs.blogspot.com; livrosThe Execution of the Hangman of Riga, de Anton Kuenzle,The Real Odessa, de Uki Goñi,The Eternal Nazi, de Nicholas Kulish e Souad Mekhennet,Hunting Eichmann, de Neal Bascomb,Eichmann in Jerusalem, de Hannah Arendt,Eichmann Before Jerusalem, de Bettina Stangneth, eHunting Evil, de Guy Walters; jornaisThe New York Times,Haaretz,Times of Israel,The Jerusalem Post,O Globo,Corriere della Sera,The Guardian,The Telegraph,Chicago TribuneeThe Jewish Chronicle, revistasTime,Spiegel,Foreign Affairs,Vice,The Atlantic,New StatesmaneSalon

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