Como é a mitologia maia?
Civilização da América Central tinha mais de 160 deuses
Ilustra Tamires Para
Edição Felipe van Deursen
Politeísta. E bota politeísta nisso! São pelo menos 165 deuses, que evoluíram, travaram guerras, casaram entre si e até podiam morrer. Todas essas crenças estão no Popol Vuh, a bíblia desse povo, que viveu seu auge entre 250 e 900, englobando uma grande área nos atuais Guatemala, Honduras, Belize e El Salvador, além do sul do México. O livro sobreviveu ao tempo, mesmo sofrendo modificações ao longo dos anos.
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Origem de tudo
São três tipos de humanos!
1. O mundo era um oceano escuro, onde os deuses viviam imersos. Kukulcán, a Serpente Emplumada, Huracán e Tepeu (mais sobre eles abaixo) deram forma à Terra, com vales e montanhas. Depois, vieram as plantas e os animais – que tinham um problema, do ponto de vista dos criadores: não falavam nem louvavam os deuses. Por isso, foram condenados a se comerem uns aos outros
2. O trio queria uma criatura que o adorasse. Fez um que cumpria isso, mas fracassou: o homem de barro derretia ou se quebrava em pedaços nos primeiros passos. Depois, fez um modelo mais forte, o homem de madeira. Mas eles o irritaram porque só louvavam a si próprios. Os deuses, irados, enviaram uma tempestade de lava que matou praticamente todos
3. Misturando farinha de milho, água e sangue divino, o trio fez quatro homens, belos e capazes de demonstrar gratidão. Eram tão inteligentes quanto os deuses, o que os inquietou. Eles desceram uma nuvem sobre os olhos dos homens de milho, reduzindo sua sabedoria pela metade. Para compensar, deram a eles quatro mulheres. A humanidade descende dessa geração
Panteão da América Central
As principais divindades maias
Árvore da vida
O nosso mundo fica expremido entre nove inframundos (Xibalba) e 13 extratos celestes. A ceiba (árvore comum na América Central) sagrada liga essas camadas. Quanto mais elevada, mais poderosos são os deuses
Itzamná
Fez o Universo, é senhor dos céus, da noite e do dia. Assume formas animais, como a de jaguar. Deu aos homens a escrita, o calendário e os poderes de cura
Huracán
Senhor das tempestades, destruiu a primeira raça humana. Seu nome originou a palavra espanhola para “furacão”
Kukulcán
É associado ao vento e aos nobres. É um guerreiro causador de hecatombes sangrentas
Tepeu
Arquiteto que idealizou os três tipos de humanos
Vuqub Kaqix
Demônio do Xibalba (o “inferno” maia), o pássaro tinha olhos de prata, dentes incrustados de jade e penas cintilantes. Por isso, acreditava ser o Sol e a Lua. Os gêmeos sagrados (leia mais abaixo) o mataram devido à sua soberba
Ixchel
Deusa do arco-íris, relacionada ao amor, medicina, tecelagem e maternidade. Também tem um lado obscuro, representado pela serpente na cabeça. Provoca dilúvios
Ixtab
Deusa dos suicidas, era popular, já que tirar a vida era visto como uma prática nobre, a fim de alcançar uma existência mais próxima dos deuses
Ah Puch
Deus da morte, francamente malévolo e relacionado a desgraças e sacrifícios humanos. Senhor supremo do último inframundo
Gêmeos sagrados
A maior saga heroica maia
Na era das pessoas de madeira, os irmãos Hunahpu e Xibalanque jogavam um tipo de futebol maia, o que irritou as entidades do Xibalba. Os deuses chamaram os gêmeos para uma série de desafios, que culminaria em um jogo contra eles.
Os irmãos venceram desafios, como cruzar um rio de escorpiões. No jogo contra os deuses, ganharam. Mesmo vencendo, foram queimados vivos. Mas, antes da execução, eles conheceram xamãs e os convenceram a ressuscitá-los.
Deu certo. Os deuses ficaram surpresos e queriam ter o mesmo poder. Eles se dispuseram a morrer para ganhar o talento, mas os irmãos os enganaram de novo e não os ressuscitaram. Após o triunfo épico, eles viraram o Sol e a Lua.
Consultoria Marcelo Lambert, historiador especializado em civilizações pré-colombianas, e Lídice Meyer, professora de antropologia da Universidade Mackenzie (São Paulo)
FONTES Smithsonian National Museum of the American Indian; livros Ancient Maya, de Arthur Demarest, e As Melhores Histórias das Mitologias Asteca, Maia e Inca, de A.S. Franchini