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Como é feita uma escavação arqueológica?

Para driblar o sol forte e a chuva, alguns sítios arqueológicos são analisados só em alguns meses do ano, ao longo de vários anos

Por Gabriela Forlin
Atualizado em 22 fev 2024, 10h46 - Publicado em 22 jun 2012, 13h37


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1.
Um sítio arqueológico pode ser descoberto por acaso (por exemplo, durante uma obra pública) ou por meio de análises topográficas e cartográficas, fotografias aéreas, detectores eletromagnéticos ou outros métodos geocientíficos. A área costuma ser explorada por equipes que vão desde três a 80 pessoas, dependendo da extensão e da verba do projeto

2. O trabalho não costuma ter duração definida – para driblar o sol forte e a chuva, por exemplo, alguns sítios são analisados só em alguns meses do ano, ao longo de vários anos. Antes de iniciar a escavação propriamente dita, deve-se limpar o terreno, extraindo plantas e pedras, e nivelá-lo. Depois, são utilizadas estacas para delimitar a área, que pode variar bastante – em geral, entre 900 e 1,2 mil m2

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3. Em seguida, vem a sondagem, quando os arqueólogos procuram, na superfície, alguma evidência de ocupação humana. Por exemplo, cacos de cerâmica e artefatos líticos (feitos de pedra), como machadinhas, facas e talhadores. Nesta fase, a escavação não vai além dos 5 cm de profundidade, e é feita com colheres de pedreiro comuns

4. Os achados determinam o “potencial” de certas áreas. O terreno é então dividido em quadrados (geralmente, com 1 m de lado). Assim, fica mais fácil catalogar em que lugar cada peça foi encontrada. Cada quadrante é reponsabilidade de um arqueólogo (aluno ou professor-pesquisador), que trabalha sob supervisão de um coordenador – o mais experiente da equipe. Algumas equipes contam com engenheiros, arquitetos, geólogos, bioantropólogos, antracólogos e botânicos para contextualizar as descobertas

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5. Além das colheres de pedreiro, são usadas outras ferramentas leves, como espátulas. Eles também levam pá, peneira e balde porque toda terra retirada é peneirada e reservada. O solo é cortado em camadas muito finas (de 10 ou 20 cm, em média) para que nenhum material seja destruído. Outra opção é escavar até que se notem mudanças no tipo de terra encontrado, respeitando as camadas naturais do solo. A profundidade do sítio varia bastante – há locais na França onde as escavações avançam só 10 cm por ano!

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6. Todos os quadrados são aprofundados sempre até o mesmo nível. Quando um material arqueológico enfim é encontrado, os profissionais fazem um minucioso trabalho chamado decapagem. Eles limpam o objeto delicadamente com pincéis, depois tiram fotos em vários ângulos e/ou o desenham numa escala, medindo altura, largura e profundidade

7. Só então a relíquia é retirada do solo, acondicionada em um saco plástico, etiquetada, catalogada e enviada a um laboratório. Lá, será feita a datação (definição da “idade”), medindo a quantidade de carbono-14 presente: quanto menos o objeto tiver, mais antigo é. Em média, um mês de trabalho de campo rende material para um ano de pesquisa em laboratório

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8. Terminada a escavação, o sítio é coberto com lona ou brita. A terra retirada é devolvida sobre o local escavado. Isso serve para que, no futuro, outros estudiosos possam identificar se a área já foi alterada por intervenções arqueológicas. Todo o material colhido passa a pertencer à União, sob curadoria do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)

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Escavada de 1978 a 1988, a Toca do Boqueirão da Pedra Furada ajudou a reconstruir a história da presença do homem na região desde cerca de 60 mil até 6 mil anos atrás. É a mais completa estratigrafia (identificação de características distintas das ocupações humanas no solo) encontrada até hoje nas Américas. Outros sítios importantes no mundo são os de Sima de los Huesos (Espanha), Monte Verde (Chile), Yucatán (México) e Ilha de Páscoa

FONTES Levy Figuti e Paulo DeBlasis, professores-doutores do Museu de Arqueologia e Etnografia da USP, e Antonio Canto, presidente do Setor de Pesquisas Arqueológicas e Sociais (Sepas)

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