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Como era a vida no Brasil da hiperinflação?

Caótica! Entre a década de 80 e 90 os preços de produtos e serviços brasileiros subiram absurdamente.

Por Renata Marins
Atualizado em 7 mar 2024, 11h13 - Publicado em 5 ago 2014, 18h40
hiperinflação

ILUSTRA Romolo

PERGUNTA Rafael Fontenelle, Belo Horizonte, MG

Caótica! Entre a década de 80 e 90 os preços de produtos e serviços brasileiros subiram absurdamente. Para viver nessa época, além de gastarem todo seu salário rapidamente, as pessoas criaram hábitos que perduram até os dias de hoje, como o de fazer compras do mês. Foi nessa época que se consagrou o dragão como símbolo da inflação, por ser um monstro enorme, que solta fogo e representa perigo iminente.

1) FURA-FILA

Ao primeiro anúncio de alta de preços, todos temiam que tudo pudesse subir e, então, saíam correndo para as compras. Isso, é claro, causava filas gigantescas em diversos estabelecimentos, de mercados a postos de combustíveis.

2) AI, QUE LOUCURA!

Jornais da época registravam “Deu a louca nos preços”. De acordo com o livroSaga Brasileira, de Miriam Leitão, um fogão de brinquedo poderia custar maisdo que um fogão de verdade. Você poderia comprar um blazer de linho ou uma geladeira pelo mesmo valor. Ou escolher entre um carro zero ou 42 conjuntos de calcinha e sutiã!

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3) A CONTA GOTAS

O corre-corre para comprar tudo que era possível trazia alguns efeitos imediatos: o primeiro era o desaparecimento rápido de alguns produtos das prateleiras. A venda racionada também era frequente entre os comerciantes: para dar conta de atender a todos, cada um só podia levar uma garrafa de leite, por exemplo.Preços eram congelados por determinação do governo e os supermercados escondiam alguns itens para forçar o descongelamento.

4) PASSA A RÉGUA

Havia muita insegurança: não se sabia se o dinheiro seria desvalorizado com o passar dos dias. Por isso, muitas pessoas, principalmente as mais pobres, assim que recebiam o salário do mês, corriam para os supermercados para comprar tudo que pudessem. Enchiam os carrinhos e esvaziavam os bolsos em um único dia.

5) TEM, MAS ACABOU

Supermercados remarcavam diariamente os preços dos produtos. Era comum, ao pegar algo na prateleira, notar que havia etiquetas e etiquetas de remarcação de preços, umas sobre as outras – apontando para a oscilação do dia. Por muito tempo essa tarefa era feita “na mão”, visto que o código de barras como conhecemos hoje só foi adotado no Brasil em 1983.

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6) PÕE NA DISPENSA

Fazer a compra do mês é um hábito criado pela inflação exacerbada. Como as pessoas temiam não poder comprar tudo o que precisavam se deixassem para o dia ou a semana seguinte, faziam estoques de alimentos em casa. Havia quem comprasse, por exemplo, 20 latas de óleo de uma vez (suficiente para abastecer uma família de quatro pessoas por dez meses!)Entre novembro de 1989 e janeiro de 1990, se alguém tivesse estocado alimentos teria um patrimônio 43% maior do que se tivesse investido em ouro!

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7) PRO MOÇÃO E PRA MOCINHA

Se hoje as pessoas são seduzidas por promoções e compram coisas das quais não precisam, imagine nos tempos de caos econômico! De vassouras a freezers, o que fosse anunciado como oferta era comprado, pois não se podia perder esse tipo de oportunidade.Segundo o livro de Miriam Leitão, um garoto perguntou para a mãe se todos estavam virando bruxos ao ver pessoas saindo com vassouras do mercado.

8) UNS PERDEM, OUTROS GANHAM

Em toda crise, alguém sempre lucra. Assim foi com a hiperinflação. Fazer contas era tão necessário que as vendas de calculadoras da empresa brasileira Dismac dobraram em apenas um ano! Os bancos também se aproveitavam da hiperinflação, pois possuíam incentivos econômicos para abrir agências em municípios com poucos habitantes. Entre 1985 e 1994, 1.078 novas agências bancárias foram abertas!

Como surge a inflação?

A inflação nada mais é que o aumento contínuo de preços de bens, produtos e serviços em uma determinada região durante um período. Nela, ao mesmo tempo que os produtos se tornam mais caros, o poder de compra da moeda nacional diminui. Ela pode surgir quando o governo imprime mais dinheiro do que possui em bens (muito dinheiro disponível para poucos produtos), causando um desequilíbrio econômico, ou porque, por insegurança, comerciantes ajustam os preços ao verem outros aumentarem. A falta de harmonia entre a oferta e a demanda, ou seja muito dinheiro disponível e poucos produtos ou serviços à venda, também pode causar inflação.

FONTES Livros Saga Brasileira, de Miriam Leitão, e Macroeconomia Aplicada à Análise da Economia Brasileira, de Carlos José Caetano Bacha; IBGE e Banco Central e sites G1 Portal Brasil

CONSULTORIA Luis Carlos Berbel, economista formado e pós-graduado pela USP, Pedro Linhares Rossi, professor doutor do Instituto de Economia da Unicamp, Bárbara Caballero de Andrade, mestre em economia pela PUC-RJ, e assessoria de imprensa da Associação Brasileira de Automação

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