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Como era um ritual de seppuku, em que o samurai se matava?

Esses poderosos guerreiros, que aturaram entre os séculos 12 e 19, se matavam em um longo ritual que visava preservar sua dignidade

Por Tiago Cordeiro
Atualizado em 22 fev 2024, 10h25 - Publicado em 20 Maio 2016, 17h39
samurais

ILUSTRA Ícaro Yuji

Esses poderosos guerreiros, que aturaram entre os séculos 12 e 19, se matavam em um longo ritual que visava preservar sua dignidade

1) Admitindo a culpa

O tradicional seppuku é um tipo de sacrifício humano raro: a autoimolação para preservação da honra. O samurai que falhava em batalha, ou cometia crimes como roubo ou estupro, costumava se apresentar voluntariamente e se declarar culpado para seu shogun (título do senhor de terras no Japão feudal, a quem os samurais serviam). Era o início de um longo processo até a morte

2) Parceiro na jornada

Em geral, o shogun aceitava o depoimento do samurai e o condenava. O guerreiro selecionava um assistente para o ritual, o kaishakunin, e se recolhia a um aposento especialmente decorado. Ali, ele iria passar seus últimos dias se preparando para o fim. O ritual só não acontecia se o samurai fosse preso em batalha – nesse caso, ele se matava rapidamente

3) A última refeição

Em silêncio absoluto, o samurai era banhado e ganhava um quimono branco. Sobre o sanbo (uma placa de madeira), ele recebia sua refeição favorita, duas doses de saquê, papel, uma pena e uma espada curta chamada tanto, embrulhada em papel. O samurai bebia cada dose em dois goles rápidos, segurando o copo com a mão esquerda. Depois, fazia sua alimentação final

4) Reflexão e inspiração

O condenado era obrigado a escrever um jinsei, poema que registraria seus últimos pensamentos para a posteridade e tinha um padrão fixo de rimas. Muitos foram preservados, como o de Gesshu Soko, que realizou o ritual em 1696: “Inale, exale/ Para a frente, para trás/ Vivendo, morrendo/ Agora, volto para minha fonte”

5) Corredor da morte

O sacrifício era realizado sempre no fim da tarde, ao cair do sol, em uma tenda posicionada em meio a um jardim ou na entrada de um templo budista. Para chegar a ele, o samurai saía do aposento onde estava isolado e passava sozinho por um corredor, caminhando lentamente, de cabeça erguida, sob o olhar de seus colegas samurais

6) Golpe final

Na tenda, sentado em uma almofada ou tatame, o guerreiro girava a espada no ar, em movimentos circulares. Depois, abria o próprio abdômen, da esquerda para a direita, de forma que seus intestinos caíssem sobre a almofada. Aí, esticava o pescoço para que o kaishakunin o poupasse de sofrer, aplicando um golpe preciso na garganta chamado kaishaku

7) Despedida com mérito

O corpo do samurai era então retirado do local para ser cremado. As cinzas eram enterradas com todas as honras militares. O poema escrito por ele era guardado e passava a fazer parte do acervo do shogun. Já a faca era descartada, por estar contaminada pela morte. O local era lavado com cuidado, para garantir que estivesse impecável para o próximo ritual

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CONSULTORIAWalter Burkert, professor de antiguidade clássica da Universidade de Zurique, Patricia Smith, antropóloga da Hebrew University, Miranda Aldhouse-Green, arqueóloga e professora da Universidade Cardiff, Jonathan Tubb, arqueólogo do British Museum, Jan Bremmer, professor de ciência da religião da Universidade de Groningen

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FONTESLivrosCity of Sacrifice, de David Carrasco,Dying for the Gods, de Miranda Green Sutton,The Highest Altar, de Patrick Tierney, eJapanese Death Poems, de Yoel Hoffmann, e filmeO Homem de Palha, de Robin Hardy

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