Como estereótipos influenciam o interesse de meninas por ciência?
Novo estudo da Disney buscou entender em que fase da infância as questões de gênero afetam a preferência das crianças
Você já viu esta cena: uma loja de brinquedos repleta de opções para meninos e meninas. Do lado deles, jogos eletrônicos, carros, armas, robôs e todo tipo de gadgets. Do lado delas, bonecas, animais de pelúcia e simulações de atividades do lar, como lavar louça e passar roupa. Duvida? Basta pesquisar por “brinquedos de menina” no Google e checar os primeiros resultados.
A questão dos estereótipos de gênero não é de hoje, e é possível detectá-los desde a infância. Uma pesquisa patrocinada pela Disney e realizada na América Latina em 2017 tentou entender esse problema e encontrou um resultado que chama a atenção: tais estereótipos podem influenciar a afinidade que meninas terão com ciência e tecnologia ao longo da vida.
O estudo foi coordenado por duas organizações da Argentina: a ONG Chicos.net e a Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais (Flacso), que desde 2001 oferece o programa Cadeira Regional UNESCO Mulher, Ciência e Tecnologia na América Latina. Baseados no STEM, novo campo de estudo que interliga ciência, tecnologia, engenharia e matemática, eles entrevistaram pais, professores e crianças, de seis a dez anos de idade, nas três cidades mais populosas do continente — São Paulo, Buenos Aires e Cidade do México.
“Por que tão poucas mulheres na área de ciência e tecnologia?”, questionou Gloria Bender, coordenadora de Gênero, Sociedade e Políticas na Flacso, ao mencionar as perguntas que motivaram esta pesquisa. Além de dar uma visão geral sobre o ensino dessas disciplinas na América Latina, o relatório trouxe informações acerca da questão da desigualdade entre meninos e meninas. Clique nas imagens para entender:
Como isso pode ajudar no futuro
Além de crianças e pais, os pesquisadores também ouviram 600 professores, que contribuíram com relatos sobre suas experiências em sala de aula. Eles se mostraram otimistas quanto à igualdade entre gêneros no futuro e, nas três cidades, apontaram o papel central que a tecnologia tem na vida dos jovens, principalmente com relação a jogos e atividades de lazer. “Nós entendemos os riscos da tecnologia da infância, mas também sabemos do seu potencial”, disse Belén Urbeja, diretora de Cidadania Corporativa e Gestão de Marca da Disney América Latina.
Há uma série de recomendações que a pesquisa indica para a educação de jovens com o objetivo de diminuir os estereótipos. Fora as medidas que devem ser aplicadas na escola ou em casa, há a preocupação também com o entretenimento que as crianças consomem. “Devemos nos perguntar quais responsabilidades temos como empresa de entretenimento para romper com esses estereótipos”, acrescenta Urbeja.
E parece que algumas coisas já começaram a mudar. Por causa da pesquisa, os desenvolvedores de conteúdo da Disney deverão, criar produtos que façam com que as crianças comecem a pensar diferente. De acordo com Urbeja, as campanhas de marketing da marca, por exemplo, precisam ter tanto meninos quanto meninas aparecendo, para evitar qualquer tipo de direcionamento.