Como funciona a eleição para presidente nos EUA?
A eleição para presidente nos EUA envolve um longo processo de votos indiretos - que fica mais complexo com a autonomia de cada estado para criar regras
ILUSTRAS André Santos
1) Todo cidadão nascido nos EUA, maior de 35 anos e que resida há pelo menos 14 anos no país pode concorrer à presidência. A campanha pode começar a qualquer momento, e ele nem precisa ser filiado a um partido político. Mas, pela maneira como o sistema eleitoral é estruturado, só candidatos dos maiores partidos, Democrata e Republicano, têm chances reais de vencer.
2) O voto não é obrigatório e os eleitores podem participar até da escolha dos pré-candidatos de um partido – as chamadas prévias, entre fevereiro e junho do ano eleitoral. O voto é indireto, por meio dos delegados partidários (ativistas ou líderes políticos comprometidos com um pré-candidato). Em 2016, o partido Democrata nomeou 4.763 delegados, e o Republicano, 2.472.
3) Cada um dos 50 estados decide quando e qual sistema de votação será usado nas prévias. O mais simples é o das primárias, no qual os eleitores votam em um pré-candidato. Ao final, o partido nomeia seus delegados estaduais proporcionalmente ao resultado das urnas. Digamos que 120 mil eleitores votaram no pré-candidato X e 80 mil no Y. Seguindo a proporção, 60% dos delegados serão comprometidos com X, e 40%, com Y. As primárias podem ser abertas a toda população, ou fechadas, apenas para membros do partido.
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4) Já o formato do caucus acontece em sucessivas reuniões. Por exemplo: em uma associação de bairro, são debatidas as propostas de todos os pré-candidatos e um deles é escolhido. Essa decisão levada, por um delegado do partido, para uma reunião maior (municipal, por exemplo), com delegados de outros bairros. Novamente, as propostas são debatidas até um pré-candidato ser escolhido. Um delegado apresenta essa decisão (e a de outros municípios) em outra reunião (distrital, por exemplo). E assim sucessivamente até chegar na esfera estadual. Como nas primárias, há caucus abertos e fechados.
5) A definição do candidato rola na convenção nacional do partido – um evento de vários dias. Na Democrata, vence quem tiver a maioria dos votos dos delegados. Na Republicana, o processo é misto: alguns estados usam a votação proporcional, outros adotam o winner-takes-all, em que todos os delegados votam no pré-candidato com mais indicações.
6) Após as convenções nacionais, cada partido reinicia a campanha, agora focada no candidato à presidência escolhido pelos delegados (e no candidato a vice, geralmente o segundo colocado nas prévias). Entre julho e novembro, eles percorrem o país em comícios e eventos. Como o voto é facultativo, a campanha também busca convencer as pessoas a votar.
7) Por tradição, a eleição ocorre sempre na terça-feira seguinte à primeira segunda-feira de novembro. Em 2016, será no dia 8. Os eleitores registrados vão às urnas e escolhem um dos candidatos na cédula de papel, ou podem escrever o nome de alguém não listado. A votação é secreta e também consulta os eleitores sobre outros cargos e temas públicos.
8) Mas quem elege mesmo o presidente é o colégio eleitoral, com 538 membros nomeados pelos estados. Estados mais populosos têm direito a mais membros (a California é a campeã, com 55). Normalmente, eles votam segundo o sistema winner-takes-all. Por exemplo, se, no estado da Georgia, o candidato X teve 51% dos votos e o Y 49%, todos os delegados da Georgia votam no X. É por isso que a campanha dos candidatos foca esforços nos estados mais populosos – eles garantirão mais membros do colégio eleitoral.
9) Essa votação final só rola mais de um mês após a apuração das urnas. Os membros do colégio ficam comprometidos a votar no candidato escolhido pelo estado (mesmo que seja de outro partido), mas não são obrigados. Algumas vezes na história, já teve um “vira-casaca”, mas seu voto foi anulado. O candidato com a maioria dos votos eleitorais (270 ou mais) é eleito presidente.
10) O sistema, bastante complexo, tem suas falhas. Em três ocasiões, já foram eleitos presidentes que não haviam recebido a maioria dos votos da população. A mais recente foi em 2000, quando George W. Bush teve 50.456.987 votos populares, convertidos em 271 votos no colégio eleitoral. O democrata Al Gore teve 51.003.926 votos populares, mas 266 no colégio eleitoral.
FONTES Sites Departamento de Estado dos EUA, Biblioteca do Congresso dos EUA, CNN, Empresa Brasil de Comunicação, Observatório Político dos Estados Unidos, Folha de S.Paulo e Estado de S.Paulo