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Como o teste de QI foi criado? Ele ainda faz sentido hoje em dia?

A evolução dos testes reflete como a noção de inteligência mudou ao longo dos tempos. Confira argumentos a favor e contra o uso do QI

Por Julia Moióli
Atualizado em 22 fev 2024, 10h13 - Publicado em 7 jun 2017, 12h55

A criação do mais famoso teste para medir o potencial de inteligência de um ser humano foi um longo processo, que se iniciou no começo do século 20. Confira os principais momentos a seguir e, logo abaixo, a polêmica atual: o teste de QI ainda faz sentido? Ouvimos os especialistas para listar quatro argumentos a favor e quatro contra.

 

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(Bruno Miranda/Mundo Estranho)

1905-1911: A LARGADA
O psicólogo francês Alfred Binet, em parceria com o colega Théodore Simon, é um dos pioneiros na aferição técnica da inteligência. Seu teste para avaliar crianças com atraso mental, a partir da medição de habilidades como compreensão, razão e julgamento, serviu de base para o teste de inteligência mais comum hoje em dia, o Stanford-Binet.

 

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(Bruno Miranda/Mundo Estranho)

1916: O MAIS POPULAR
O psicólogo Lewis Terman, da Universidade Stanford (EUA), adaptou o teste francês, rebatizado como Stanford-Binet. Avaliando aritmética, memorização e vocabulário, o exame foi o primeiro a classificar as pessoas por um QI (quociente de inteligência), agrupando-as em diferentes patamares de capacidade.

 

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(Bruno Miranda/Mundo Estranho)

1927: PONTO G
O inglês Charles Spearman propõe o fator de inteligência geral (“g”), uma variável que relaciona as diferentes habilidades cognitivas de um indivíduo. Segundo ele, o “g” explicaria até 50% da inteligência nas medições, mas críticos acreditam que Spearman desvaloriza outras aptidões importantes.

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(Bruno Miranda/Mundo Estranho)

1949-1955: PARA TODAS AS IDADES
O norte-americano David Wechsler, que havia rejeitado o conceito de “idade mental”, publica suas escalas de inteligência para crianças e adultos, com avaliações verbais de desempenho em áreas como compreensão verbal e espacial, memória e velocidade de processamento.

 

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(Bruno Miranda/Mundo Estranho)

1983: ADAPTÁVEL… OU VAGO DEMAIS?
O Kaufman Battery for Children contém 20 subtestes que avaliam processamento sequencial e simultâneo, planejamento, aprendizado e conhecimento. Como é baseado em dois modelos teóricos, sua interpretação varia de acordo com a cultura e as habilidades verbais do examinado.

 

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(Bruno Miranda/Mundo Estranho)

1983: UMA É POUCO
No livro Frames of Mind, o psicólogo norte-americano Howard Gardner oferece pela primeira vez a Teoria das Inteligências Múltiplas, segundo a qual temos o potencial para desenvolver combinações de oito inteligências distintas. A ideia ganha popularidade ao longo das décadas seguintes.

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(Bruno Miranda/Mundo Estranho)

2011: FLUTUANTE
Estudos da University College London e do Centre for Educational Neuroscience, na Inglaterra, envolvendo ressonância magnética do cérebro de jovens, mostraram que o QI pode aumentar ou diminuir na adolescência. A descoberta derruba a percepção de que a habilidade intelectual é um limite fixo e imutável.

 

 

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(Bruno Miranda/Mundo Estranho)

AINDA FAZ SENTIDO APLICAR TESTE DE QI HOJE EM DIA?

Após um século de história, ele ainda gera debate e controvérsia

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Sim

  • Testes como o Stanford-Binet e as escalas de Wechsler são científicos: para serem usados em avaliações psicológicas, passaram por pesquisas rigorosas que atestam suas qualidades.
  • Os psicólogos não baseiam seu diagnóstico exclusivamente neles. “São instrumentos auxiliares na coleta de dados, que, juntamente com as demais informações organizadas pelo psicólogo, auxiliam a compreensão do problema estudado”, diz Ana Paula Porto Noronha, professora de pós-graduação em psicologia da Universidade São Francisco.
  • Esses testes medem habilidades que são relevantes para a sociedade. “A realidade é nua e crua: se você olhar ao redor, as pessoas que têm mais sucesso, em média, são as pessoas que têm QI mais elevado”, diz José Aparecido da Silva, professor de psicobiologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP.
  • Diagnosticar tanto crianças com problema de aprendizado quanto as que têm alta habilidade cognitiva permite a implantação da melhor tática de ensino em cada caso.

 

Não

  • “Testes de QI só avaliam as inteligências linguística, lógico-matemática e, às vezes, a espacial”, afirma Howard Gardner em seu site. “São um indicativo razoavelmente correto de quem se sairá bem em uma escola do século passado”.
  • Alguns críticos acreditam que elas podem estratificar injustamente os resultados por raça, gênero, classe social e cultura.
  • Há mais de dez anos, um relatório de uma comissão especial montada a pedido da Casa Branca (EUA) sugeriu que seu uso no diagnóstico de problemas de aprendizado fosse descontinuado, já que eles não dizem nada sobre a intervenção necessária. Além disso, observar o comportamento da criança na sala de aula e em casa seria um indicador melhor.
  • No Brasil, os testes muitas vezes não são normalizados com frequência. Isso é importante por causa do efeito Flynn, um fenômeno que mostra que há aumento no QI a cada geração.

 

 

FONTES Sites American Psychological Association, BBC, Britannica, Edutopia, Howard Gardner, Independent, Multiple Intelligences Research and Consulting Inc., New City School, Planeta Sustentável, Project Zero – Graduate School of Education e Universidade Harvard; livro A Psicologia da Inteligência, de Jean Piaget; e revistas Wellcome, NOVA ESCOLA e SUPERINTERESSANTE

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CONSULTORIA Ana Paula Porto Noronha, professora do programa de pós-graduação stricto sensu em psicologia da Universidade São Francisco (SP), José Aparecido da Silva, professor de psicobiologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP, e Rogerio Panizzutti, psiquiatra, neurocientista e professor da UFRJ

 

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