É verdade que existem campos de concentração nos EUA?
Muitas pessoas no país temem que o real propósito da agência federal Fema seja aprisionar, escravizar e até matar cidadãos de bem
Ilustra Estevan Silveira
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ALERTA GERAL
Em 1979, o presidente dos EUA, Jimmy Carter, criou a Agência Federal de Gestão de Emergências (Fema, na sigla em inglês). O objetivo dela é coordenar respostas e esforços do país em situações de grandes tragédias no território, como desastres naturais ou atentados terroristas. Mas essa seria uma função de fachada
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PRIMEIROS RUMORES
Em 1982, o movimento de extrema direita Posse Comitatus, caracterizado pela postura antigoverno e antissemita, divulgou uma tese que dizia que o propósito da Fema era aprisionar patriotas exaltados e pessoas conservadoras e antigovernistas. A agência só estaria aguardando o momento certo para instaurar a lei marcial no país (quando autoridades militares assumem o controle do Estado em momentos cruciais)
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TERRORISMO DOMÉSTICO
Em 1995, a teoria ganhou força após o atentado de Oklahoma, em que o americano Timothy McVeigh matou 168 pessoas. A Fema foi acionada para lidar com a tragédia, e a comissão do Senado que discutia terrorismo doméstico abordou a possibilidade de a agência administrar campos de concentração. Na mesma época, o documentário America Under Siege (“EUA sitiados”) mostrava um suposto campo da Fema
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GRUPOS PERSEGUIDOS
A Fema também estaria grudando misteriosos adesivos nas caixas de correio, cada um indicando o destino das pessoas. Ponto azul: campo de concentração. Rosa: trabalho forçado. Vermelho: tiro na cabeça. Além disso, cerca de 500 mil caixões de plástico vazios teriam sido vistos em Atlanta, prontos para serem usados
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AUSCHWITZ AMERICANO
Até 800 campos estariam prontos para receber as pessoas. Vazios (por enquanto) e fortemente protegidos, eles se espalhariam por todo o território. Alguns teriam até câmaras de gás, como os campos nazistas. Vagões de trem já estariam sendo usados para sumir com cidadãos indesejados
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NÃO SERIA A PRIMEIRA VEZ
Após o ataque do Japão a Pearl Harbor, em 1941, o presidente americano Franklin D. Roosevelt realocou mais de 100 mil americanos de ascendência japonesa que viviam, em sua maioria, na costa oeste do país. Isso sem contar a expulsão dos indígenas de suas terras ancestrais, no século 19. Então, os campos da Fema teriam um precedente histórico no país
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CULPA DO OBAMA!
Durante o governo Barack Obama (2009-2016), a teoria ganhou mais força. Discursos de senadores e deputados, programas na Fox News e filmes postados na internet espalharam seus rumores. Foi o caso de Amerigeddom, de Mike Norris (filho de Chuck Norris). Blogs revelaram que Obama estaria construindo shoppings de fachada para aprisionar americanos e que todos os portadores de armas seriam presos
Por outro lado
Teoria é mais popular na direita dos EUA
- O Posse Comitatus espalha teorias conspiratórias há décadas e usa esse clima de paranoia em prol de sua agenda preconceituosa
- Nos anos 2000, as lendas dos campos se esvaíram porque os EUA estavam preocupados com o terrorismo internacional – o inimigo agora estava fora do país
- Os campos de America Under Siege são instalações da Amtrak, empresa ferroviária estatal dos EUA
- Outros campos divulgados na internet são, na verdade, bases de treinamento das Forças Armadas
- Os “caixões” existem. Mas eles são forros para sepulturas, usados para proteger caixões e evitar a degradação do solo de cemitérios
- A Fema já se pronunciou publicamente sobre o assunto, e o tratou como uma teoria da conspiração sem base alguma
- O próprio apresentador da Fox News que falou dos campos em seu programa disse que não acredita na teoria
- Os blogs que espalharam as informações dos shoppings e dos adesivos coloridos são comprovadamente divulgadores de notícias falsas
- A fase atual da teoria é fruto dos tempos de pós-verdade em que a internet vive. Quem quer acreditar em algo é servido por uma vasta gama de conteúdos, sem se preocupar com a veracidade
- Trata-se mais de uma inversão de papéis em um país onde a maior parte das pessoas encarceradas foram (e são) índios e negros, não a classe média conservadora (branca na maioria)
FONTES Fox News, Popular Mechanics, Newsweek, Salon e Southern Poverty Law Center