Mulheres que mudaram a história: Tapputi
Especialista em perfumes, ela era uma autoridade dentro do palácio real. Ficou conhecida como a primeira química profissional da história
O que foi: Perfumista real
Onde viveu: Babilônia
Quando nasceu e morreu: 1200 A.C.
Na Babilônia, lugar de mulher era na cozinha. E isso significava um elogio: as cozinheiras eram também as especialistas em desenvolver novas comidas e bebidas na base da tentativa e erro – e um dos alimentos mais consumidos na Antiguidade, e que elas precisavam desenvolver, era a cerveja. Era também com utensílios usados para preparar comida, além do fogo, que os remédios e os perfumes eram criados.
Para tudo isso, era necessário entender como os elementos interagem, quais as dosagens necessárias, quais são diluíveis em que tipo de líquido e a que temperatura. Por isso mesmo, os fundadores da área da química são mulheres. Tapputi foi a primeira delas.
É a primeira de que existe notícia, pelo menos. Um tablete de argila preenchido com escrita cuneiforme e datado de aproximadamente 1200 a.C. informa que ela adaptou equipamentos de cozinha e usou diferentes plantas para criar uma série de essências aromáticas. Além disso, Tapputi era a responsável pelo dia a dia do palácio real, o que fazia dela chefe dos setores de cozinha, limpeza e consertos em geral. Entre os babilônios, a profissão era agregada ao nome. Por isso Tapputi ganhou o sobrenome Belatekallim.
CREME DE PETRÓLEO
Uma das mais importantes funções dos perfumes era preservar o corpo dos reis e nobres falecidos por várias semanas para que o odor se mantivesse suportável até o fim dos longos e elaborados rituais fúnebres. Mas há indícios de que homens e mulheres da nobreza se perfumavam muito, geralmente logo após se banharem, mas também para participar de ocasiões sociais. Alguns dos produtos criados por Tapputi funcionavam também como óleos e cremes para a pele. Para alcançar esses resultados, ela fervia água várias vezes, diluindo diferentes combinações de flores, folhas, mirra e até mesmo petróleo.
Outras civilizações mantiveram as mulheres no posto. “Na sociedade dinástica do Egito (de 3000 a.C. a 300 a.C.), elas eram tratadas como iguais. Egípcias continuaram liderando as atividades de química aplicada”, afirmam Marelene Rayner-Canham e Geoffrey Rayner-Canham no livro Women in Chemistry (“Mulheres na Química”, sem versão em português).
DIREITOS DESIGUAIS
Isso não significa que as mulheres fossem totalmente respeitadas. Elas até podiam trabalhar em diferentes profissões, mas havia certa separação entre os empregos tidos como femininos. Elas podiam ser sacerdotisas, mas não metalúrgicas. E os casamentos eram arranjados pelos pais e apenas o homem podia pedir divórcio. De toda forma, a guarda dos filhos sempre ficava com a ex-esposa.
O tablete de argila informa que Tapputi tinha uma colega. Mas seu nome está ilegível. É possível apenas entender o sobrenome Ninu, que indica a função – perfumista. As duas juntas foram pioneiras numa área em que muitas outras mulheres se destacaram, de Maria, a Judia, no século 1, à polonesa Marie Curie, no século 20 (leia mais sobre Curie na página 40).
SEUS GRANDES ACERTOS
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Inventou ferramentas
Para desenvolver seus componentes químicos, Tapputi adaptou panelas de barro e vasos de diferentes alturas e espessuras -
Documentou resultados
Todos os experimentos da pesquisadora foram anotados para serem debatidos e corrigidos, uma prática que todo cientista segue até hoje -
Criou uma ciência
A pesquisadora transformou a arte de desenvolver perfumes, bebidas e medicamentos em uma técnica precisa, capaz de ser repetida
SEUS GRANDES FRACASSOS
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Teve escravos
Sabe-se pouco sobre a vida de Tapputi. Ela não formou família porque a profissão não permitia. E manteve seus servos, incluindo outras mulheres. Podia fazer sentido na época, mas, do ponto de vista contemporâneo, é uma prática criticável -
Produziu venenos
Quando erravam, as químicas produziam componentes que podiam machucar a pele ou até mesmo matar pela inalação de substâncias perigosas. Muitos servos foram feridos no processo: os pesquisadores da antiga Babilônia testavam suas invenções em escravos
DICA DE FILME
Tapputi merece um filme sobre sua vida. Mas ela é citada na produção italiana A Rainha da Babilônia, de 1954