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O Diário de Anne Frank é uma farsa?

Especulações alegam que o pai da menina ou um de seus funcionários forjou o mais famoso livro infantojuvenil sobre a 2ª Guerra Mundial.

Por Tiago Cordeiro
Atualizado em 21 jan 2023, 18h20 - Publicado em 6 out 2016, 18h36

ILUSTRA Gustavo Rodrigues

SUGESTÃO Bruno Alexandre, Taboão da Serra, SP

1) Nascida em 12 de junho de 1929, Anneliese Marie Frank passou dois anos da adolescência escondida com sua família em uma casa secreta, nos fundosde uma empresa, para fugir da perseguição nazista na Holanda. Lá, ela teria escrito um diário. Descobertos em agosto de 1944, os Frank foram levados para um campo de concentração, onde Anne morreu de tifo.

2) Único sobrevivente da família, o pai Otto voltou a Amsterdã e reencontrou Miep Gies, uma ex-funcionária que havia ajudado no período de reclusão. Ela guardara os pertences da família não levados pelos nazistas, incluindo os três cadernos do diário de Anne Frank. Eis a primeira desconfiança: céticos consideram improvável que a Gestapo não confiscasse qualquer tipo de manuscrito.

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3) Otto descobriu duas versões do diário. Nos primeiros meses, Anneescreveu livremente sobre o que pensava e sentia. Mas, quando ouviu no rádio clandestino que um membro exilado do governo holandês prometia publicar os relatos dos sobreviventes, ela reescreveu o texto, usando nomes falsos e reestruturando alguns trechos como se fossem cartas (para pessoas fictícias)

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4) Otto admitiu que fundiu as duas versões e retirou trechos mais pesados. Mas, por causa das alterações e do teor maduro, várias editoras recusaram a obra (chamada então de O Anexo). Críticos também usam esses dois argumentos como indício de que, na verdade, Otto inventou tudo. O livro só saiu em 1947 e depois foi lançado em inglês como O Diário de uma Jovem.

5) O escritor Meyer Levin, dos EUA, foi o primeiro a tentar adaptá-lo para o teatro. Uma teoria alega que, na verdade, ele foi o verdadeiro autor da obra original – o que ajudaria a explicar sua alta qualidade literária. E mais: o romancista teria processado Otto para receber pela autoria. O pai de Annesupostamente teria pago US$ 50 mil de indenização.

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6) Uma terceira teoria da conspiração alega que o real autor não seria nem Otto nem Meyer, e sim a funcionária Miep, que havia “achado” o diário. Além disso, há alegações de que havia marcas de edição no manuscrito original feitas com caneta esferográfica – que não existia na época. Ou seja, sua confecção teria acontecido bem depois da 2ª Guerra Mundial.

7) O fracasso inicial do livro também é citado pelos conspirólogos como sinalde que a origem da obra não é muito clara. Eventualmente, ela se tornou um best-seller e hoje sustenta a Fundação Anne Frank. A própria Fundação declarou, em 2015, que o livro é, na verdade, uma coautoria entre Anne e Otto. Seria a confissão de que a garota não escreveu livro algum.

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POR OUTRO LADO…

Análises dos originais comprovam a autenticidade da obra

– Via de regra, os céticos que duvidam da autenticidade do diário são neofascistas ou neonazistas, que também cometem graves atrocidades intelectuais, como defender o racismo e negar o Holocausto de 6 milhões dejudeus durante a 2a Guerra Mundial.

– Em diferentes ocasiões os diários foram submetidos a técnicos independentes, que puderam analisar a caligrafia de Anne Frank em cartas anteriores. Também puderam pesquisar o papel, a tinta e a cola usada na encadernação das páginas. Todos os laudos, desde a década de 1950, comprovam: o diário é autêntico.

– Os tais rabiscos de esferográfica simplesmente nunca foram encontrados nos originais. É pura boataria, que continua se propagando.

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– Meyer, de fato, processou Otto. Mas alegando que outra adaptação para a Broadway, autorizada pelo pai de Anne, era plágio da peça que ele havia escrito (e jamais havia sido encenada). Meyer venceu o caso, mas nada disso indica que tivesse sido o verdadeiro autor do diário.

– O argumento da coautoria, lançado pela Fundação Anne Frank, tem um objetivo claro: estender a duração dos direitos autorais exclusivos da obra, cujo prazo agora passaria a ser contado a partir da morte de Otto em 1980, e não da de Anne, em 1945.

FONTES Livros The Diary of Anne Frank: The Critical Edition, The Diary ofAnne Frank: A Critical Approach, e The Biography of Anne Frank – Roses from the Earth.

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