O que aconteceria se uma bomba nuclear caísse em São Paulo?
Todo mundo no centro velho seria evaporado. A avenida Paulista viraria um amontoado de destroços
O primeiro passo para começarmos a especular sobre os efeitos de uma bomba atômica é definir a potência desse “brinquedinho”. A Little Boy, que arrasou Hiroshima em 1945, tinha cerca de 15 quilotons, o equivalente a 15 mil toneladas de dinamite. Muito? “As bombas lançadas em Hiroshima e Nagasaki são estalinhos se comparadas às que existem hoje”, diz o físico Roberto Vicente, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).
Com o surgimento das bombas de hidrogênio, a potência dos artefatos foi multiplicada muitas vezes, chegando próximo dos 50 megatons (50 milhões de toneladas de dinamite). Como modelo, usaremos uma potência de 1 megaton, que é a capacidade da maioria das ogivas que integram o arsenal americano. Apesar de muito mais potente que a bomba lançada no Japão, ela é muito menor (45 kg contra 4 toneladas da Little Boy) e pode ser lançada acoplada a um míssil balístico, atirado de uma base a centenas de quilômetros do alvo. É muito pouco provável que alguém queira atacar a cidade de São Paulo, mas como existem cerca de 30 mil bombas espalhadas pelo mundo, o risco da catástrofe não pode ser 100% descartado.
Metrópole em chamas
Veja o estrago de uma bomba de 1 megaton (70 vezes mais potente que a de Hiroshima) atirada sobre a praça da Sé
NÍVEL 1 – Epicentro
Em Hiroshima, 89% das pessoas que estavam no local da explosão morreram na hora. Na praça da Sé, o epicentro do nosso ataque virtual, dificilmente alguém escaparia com vida. Se a bomba atingisse o solo (a de Hiroshima explodiu a 580 metros de altura e não formou cratera), ela abriria uma cratera de 300 metros de diâmetro e 61 metros de profundidade.
NÍVEL 2 – Raio de 960 m
Nesta área dificilmente algum prédio ficaria de pé – construções históricas como o Teatro Municipal e o Pátio do Colégio desabariam, assim como a atual sede da prefeitura. A bola de fogo, com temperatura semelhante à do Sol, faria com que pessoas e objetos próximos a ela se desmaterializassem, ou seja, simplesmente evaporariam.
NÍVEL 3 – Raio de 3,3 km
A onda de pressão gerada pela explosão derrubaria a maioria dos prédios desta área. A avenida Paulista, onde estão instalados edifícios de hospitais e grandes empresas, viraria um amontoado de destroços. Segundo o IBGE, 414,3 mil pessoas vivem nesta região. A radiação, somada à temperatura altíssima e aos fortes ventos carregados de destroços, mataria cerca de 98% destas pessoas.
NÍVEL 4 – Raio de 6,9 km
Nesta área os ventos ainda teriam velocidade semelhante à do furacão Katrina (cerca de 250 km/h), que varreu o sul dos Estados Unidos em agosto de 2005. Casas desabariam e os prédios que ficassem em pé certamente sofreriam danos. Este círculo demarca a chamada área letal, dentro da qual o número de sobreviventes é semelhante ao de mortos.
NÍVEL 5 – Raio de 15,28 km
Ventos de cerca de 65 km/h são incapazes de danificar prédios maiores, mas casas podem sofrer avarias. Cerca de um terço das pessoas nesta região poderiam ficar feridas. São Paulo certamente sofreria mais do que cidades acostumadas a ser atingidas por terremotos e furacões, como a própria Hiroshima atualmente, cujos prédios contam com estruturas mais robustas.
E a radiação?
A radiação lançada pela bomba causa morte celular e mutações. Seu alcance varia de acordo com a direção e a velocidade do vento, além do local da explosão (no chão ou no ar). Para se ter uma idéia, uma simulação realizada pela Federação dos Cientistas Americanos, com ventos de 24 km/h e uma bomba de 1 megaton, indicou que 50% das pessoas localizadas a até cerca de 16 km morreriam em 96 horas.
No caso de São Paulo, isso seria suficiente para atingir as bordas de municípios como Guarulhos, Santo André, São Bernardo, Osasco e Taboão da Serra. Quanto mais perto do epicentro, mais mortes. “Mesmo que a pessoa não morra nos primeiros seis meses após a exposição, ela pode vir a morrer de câncer resultante da mutação após algumas dezenas de anos”, diz a física Emico Okuno, do Instituto de Física da USP.