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O que foi o Domingo Sangrento?

Protesto pacífico virou campo de batalha e acirrou tensões religiosas

Por Julia Moióli
Atualizado em 30 jan 2019, 14h38 - Publicado em 22 dez 2011, 18h21

Foi uma passeata civil na cidade de Derry, na Irlanda do Norte, violentamente reprimida pelas autoridades britânicas, deixando 13 mortos e 14 feridos. Os manifestantes protestavam contra a política britânica de prender, sem julgamento, qualquer suspeito de fazer parte do IRA (Exército Republicano Irlandês), grupo terrorista que queria a independência da Irlanda do Norte. Esse território, que possui uma expressiva minoria católica, integra o Reino Unido, que é protestante. O conflito vem de longa data: os primeiros protestantes foram introduzidos na região no século 16, pelo rei Henrique VIII, levando os católicos a se refugiar no norte da ilha. O problema se agravou quando a República da Irlanda (no sul) conseguiu se tornar independente, no século 20, mas o norte continuou sob o domínio britânico.

Ruas sujas de sangue

Protesto pacífico virou campo de batalha e acirrou tensões religiosas

1. No ensolarado dia 30 de janeiro de 1972, entre 5 mil e 20 mil pessoas se reúnem na área residencial de Creggan, em Derry, Irlanda do Norte, para reclamar contra as prisões arbitrárias de supostos membros do IRA. Era o segundo dia de marcha pacífica, apesar de o governo ter proibido, em 18 de janeiro, qualquer protesto na Irlanda do Norte até o final daquele ano.

2. Às 15h25, os manifestantes já estão na rua Westland, próxima ao centro da cidade. Vinte minutos depois, encontram uma das barricadas do Exército na rua William. Aconselhados pela organização do evento, se desviam pela rua Rossville para se reunir na praça Free Derry Corner. No entanto, parte do grupo continua pela rua William, onde estão tropas britânicas.

3. O estopim do conflito é incerto. Posteriormente, o general Robert Ford, comandante das tropas inglesas, afirma que elas foram recebidas a tiros pelos civis, mas nenhuma arma é encontrada no local. O fato é que houve o confronto – manifestantes com paus e pedras, soldados com balas de borracha, gás lacrimogênio e jatos de água. Dois civis levam tiros e ficam feridos.

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Trágica inspiração

A música “Sunday Bloody Sunday” (1983), do grupo irlandês U2, teria sido inspirada por este evento histórico. Nos shows, Bono a canta com uma bandeira branca

Roteiro errado

Parte dos manifestantes seguiram por uma rua barricada e bateram de frente com o Exército

4. O Exército recebe instruções para prender o maior número possível de manifestantes. Uma unidade do Primeiro Batalhão do Regimento de Paraquedistas avança pelas ruas William e Rossville, inclusive com carros blindados e rifles SLR. Após 25 minutos de tiroteio, o saldo já era de 13 mortos e 14 feridos (um deles morreu meses depois por causa dos ferimentos).

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5. Nos dias seguintes, em represália, o IRA convoca uma greve geral, atendida por 90% da população local. Manifestantes atiram pedras e bombas e incendeiam carros. Em Dublin, na Irlanda, é ateado fogo à embaixada britânica. O ressentimento dos católicos aumenta, bem como a luta armada por direitos civis – jovens não politizados passam a simpatizar com o IRA.

6. O primeiro inquérito pós incidente acusa os civis de terem dado o primeiro tiro (ainda que um legista de Derry afirme que a morte dos manifestantes tenha sido “puro assassinato”). Mas, em 2010, um novo relatório conclui que os disparos do Exército não tiveram justificativas. O primeiro ministro britânico David Cameron se desculpa publicamente no Parlamento.

CONSULTORIA: Pedro Paulo Abreu Furnari, professor do departamento de história da Universidade Estadual de Campinas; Tania Regina de Luca, professora de história da Unesp.

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