Quem escreveu As Mil e Uma Noites?
Não foi um único autor e sim uma legião de narradores anônimos, cujas histórias foram reunidas durante séculos até formarem a coletânea que é clássico da literatura fantástica. Alguns estudiosos acreditam que boa parte desses contos teria surgido na Índia por volta do século 3 – o que explicaria a presença de tantas metamorfoses animais, […]
Não foi um único autor e sim uma legião de narradores anônimos, cujas histórias foram reunidas durante séculos até formarem a coletânea que é clássico da literatura fantástica. Alguns estudiosos acreditam que boa parte desses contos teria surgido na Índia por volta do século 3 – o que explicaria a presença de tantas metamorfoses animais, semideuses e gênios lembrando o populoso panteão hinduísta. Dessa origem indiana, as histórias viajaram até a Pérsia (atual Irã), transmitidas pelas conversas entre mercadores que viajavam de um lugar para outro. Na Pérsia, então, uma obra intitulada Hezar Afsaneh (“Os Mil Contos”) teria constituído a primeira compilação dessas lendas, já apresentando personagens importantes da versão definitiva de As Mil e Uma Noites, como o sultão Chahriar e sua esposa Cheherazade, que fazem a amarração entre as histórias.
Por volta do século 8, os povos árabes já tinham traduzido o Hezar Afsaneh, acrescentando valores islâmicos, forte carga erótica e citações pejorativas a cristãos e judeus. O título As Mil e Uma Noites também teria sido adotado nessa época por causa de uma superstição árabe em relação a números redondos, que trariam azar. Nos séculos seguintes, a essência da obra como a conhecemos hoje apareceu em diferentes manuscritos, cada um com sua própria variação na seleção de histórias. Os pesquisadores dividem os manuscritos em ramos como o sírio, o egípcio antigo e o egípcio tardio. “Nas primeiras 280 histórias do ramo sírio é possível observar uma unidade estilística e temática que aponta para um único autor-escriba”, afirma o lingüista Mamede Mustafa Jarouche, da Universidade de São Paulo (USP). As Mil e Uma Noites só ficariam conhecidas no Ocidente após 1702, quando o francês Antoine Galland traduziu um manuscrito do ramo sírio do século 13.
Galland eliminou trechos eróticos, ofensas a cristãos e judeus e há quem acredite que tenha acrescentado novos contos árabes – entre eles, Ali Babá e os Quarenta Ladrões, Aladim e As Viagens de Simbá. Para quem deseja uma versão adulta e fiel ao original, enriquecida por incontáveis notas de rodapé sobre as culturas persa e árabe, a tradução mais respeitada é a do explorador inglês Sir Richard Burton, composta de 16 volumes lançados entre 1885 e 1888.
Histórias reunidas no Oriente ao longo dos séculos tornaram-se patrimônio universal
1 – A SENHA DE ALI BABÁ
Numa cidade na Pérsia, viviam dois irmãos, Cassim e Ali Babá. O primeiro havia se casado com uma mulher rica, enquanto o segundo arrumou uma esposa muito pobre, passando a viver quase na miséria. Um dia, ao cortar lenha num bosque, Ali Babá ouve um estrondo. Amedrontado, sobe no topo de uma árvore e vê 40 homens chegando a cavalo. O chefe do grupo olha para uma montanha e diz: “Abre-te, Sésamo”. De repente, uma rocha se move, abrindo uma passagem pela qual o bando some dentro de uma caverna oculta. Ali Babá repete, então, as palavras mágicas e entra na caverna, que se revela um covil de ladrões, incluindo um fabuloso tesouro.
2 – CHERAZADE, RAINHA DO SUSPENSE
Um fio condutor amarra as histórias da coletânea: a personagem Cheherazade, filha do grão-vizir (equivalente a primeiro-ministro) de um reino na Pérsia. Ela resolve se casar com o sultão local, Chahriar, para acabar com uma desgraça que ocorria em seu reino. Ao descobrir que sua antiga esposa era infiel, o tal sultão mandara matá-la. Depois disso, ele passou a se casar cada noite com uma nova jovem, que mandava estrangular ao raiar do dia, para evitar novas traições. Para pôr fim à sucessão de mortes, Cheherazade se casa com ele e, na alcova, começa a contar uma história, que ela interrompe antes de seu desfecho, bem quando o dia vai nascer. O sultão poupa, então, sua vida para poder, na noite seguinte, conhecer o final – e Cheherazade repete sua estratégia noite após noite, 1 001 vezes
3 – O GÊNIO DA LÂMPADA
O jovem Aladim vivia num reino da China. Após a morte de seu pai, um tio distante promete ajudá-lo. Um dia, acompanhando o tio em um passeio, Aladim é incumbido de buscar uma lâmpada dentro de um túnel. Quando Aladim acha o objeto, o tio pede que ele a entregue antes de sair do lugar sombrio, mas o sobrinho se recusa. Irado, o vilão, dotado de poderes mágicos, ordena que a terra se feche sobre o rapaz. Depois de três dias no subterrâneo, Aladim consegue escapar e, faminto, resolve vender a lâmpada. Ao esfregá-la, porém, surge um gênio capaz de realizar desejos… e a aventura está apenas começando
4 – MARUJO INVEJADO
Na cidade de Bagdá, um carregador chamado Hindbá descansa ao lado de uma bela casa, quando descobre que ela pertence a um marinheiro chamado Simbá. Hindbá ergue os olhos aos céus e pergunta a Deus o que Simbá havia feito para merecer um destino tão bom, enquanto ele vivia na miséria. Simbá ouve o lamento e convida o carregador a ouvir a história de suas viagens, repletas de aventuras e sofrimentos no Golfo Pérsico