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O que é Labo, a nova invenção da Nintendo – e o que ela representa

A empresa de games acredita que o futuro dos games está em uma placa de papelão

Por Felipe Germano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 18 jan 2018, 16h25 - Publicado em 18 jan 2018, 14h23

A Nintendo está passando por um ótimo momento. Entre março e dezembro de 2017 seu videogame ponta de linha, o Nintendo Switch, vendeu 4,8 milhões de cópias nos EUA, e se tornou o primeiro console a vender tanto em tão pouco tempo. Isso só para os americanos, fora os resultados são ainda melhores. Somando todas as suas vendas (especialmente no Japão, onde o videogame está constantemente esgotado), o aparelho já vendeu mais de 10 milhões de unidades. Bom pro bolso deles e pro gosto dos jogadores. O site Metacritic, que reúne avaliações de críticos e amadores ao redor do mundo, para fazer uma média geral, mostra que os dois melhores games de 2017 foram justamente para a plataforma (The Legend of Zelda: Breath of the Wild e Super Mario Odyssey). Agora, a empresa decidiu apostar em uma nova saída, bem longe da alta tecnologia de seus concorrentes. A Nintendo acha que o que vai revolucionar o mundo dos games a partir de agora é nada menos que o papelão.

Essa é a proposta do Labo a nova iniciativa da empresa. Em uma mistura de origami com Arduíno, a marca de videogames quer que seus jogadores construa seus próprios controles usando apenas papelão fios.

O anúncio oficial revelou dois kits. O primeiro é chamado de Variedade e possibilita a construção de seis brinquedos: uma vara de pescar, uma casinha, uma motocicleta, dois bichinhos que andam por controle remoto e um piano. Tudo isso utilizando 28 placas de papelão,  dois fios coloridos, oito elásticos, três adesivos, três esponjas e  duas roldanas. Todos os brinquedos são acompanhados de um minigame presente no software que também vem junto com o kit. O conjunto será vendido nos EUA por 70 dólares (cerca de R$225) a partir do dia 20 de abril.

O segundo kit, chamado de Robô  é bem autoexplicativo, e tem como objetivo uma única brincadeira: a de fingir ser, bem, um robô. Custando 80 dólares (R$260) e lançado no mesmo dia que o outro conjunto, o conjunto consiste numa armadura encaixada e amarrada no corpo do jogador, conforme o gamer faz movimentos, esses são reproduzidos por um personagem na tela. Para montar o equipamento, o jogador contará com 19 placas de papelão, quatro de cartolina, um adesivo, quatro fios, quatro tiras de tecido e 12 roldanas.

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(Nintendo/Reprodução)

A Nintendo não esconde que seu objetivo aqui é mirar em famílias. Prova disso é que ela está organizando workshops para pais que queriam entender melhor suas propostas (por enquanto foram anunciados dois eventos, um em Nova York e outro em São Francisco). E a ideia tem um histórico bom. O último sucesso da Nintendo, o Wii, apostou justamente nisso – seu material de divulgação fazia questão de mostrar o potencial familiar do game – e acabou se tornando na época de seu lançamento o videogame mais vendido de todos os tempos.

A grande diferença está em saber aliar a jogatina de videogame casual com dois outros fatores que estão impulsionando diversos produtos atualmente, a nostalgia e a importância do elemento físico na utilização de uma tecnologia. Não é atoa que Stranger Things, IT: A Coisa e Bingo: O Rei das Manhãs se tornaram sucessos, por exemplo. Eles se apropriam do mesmo recurso que explica porque é bem provável que você veja muita gente de pochete no carnaval desse ano. O retrô está de volta a moda. E usar papelão para jogar videogame é uma ótima saída para dar um ar antigo para uma tecnologia de ponta. É o passo além dos óculos realidade virtual feitos com o mesmo material, que a Google inventou em 2014, fazendo sucesso na internet. Mais do que isso, a ideia da volta ao analógico também está sendo sintomática. Desde 2006, quando o iPhone foi inventado, o acesso à população ao smartphone tem crescido exponencialmente – o que é ótimo em termos de acesso à tecnologia, mas não necessariamente é tão empolgante quanto era há 10 anos atrás. O melhor exemplo disso talvez seja a indústria fotográfica. Em 2012, a Kodak anunciou que estava saindo do ramo das câmeras. Ninguém mais queria comprar filme fotográfico. É entendível, naquele mesmo ano estava sendo lançado o iPhone 5, que permitia você tirar quantas fotos quisesse. Mas quatro anos depois, em 2016, outra empresa de fotos começou a lucrar justamente com a venda de filmes. A Fujifilm apostou em câmeras com impressão instantânea e explodiu em vendas. As pessoas cansaram do instagram, elas queriam fotos com filtros ao vivo – nem que fosse para, mais tarde, postar no instagram uma foto da foto.

A própria Nintendo já havia sido palco, timidamente, de tecnologias similares. Em 2008 a Sega lançou, exclusivamente para Wii, o game Lets Tap, que pedia para o jogador colocar o controle sob uma caixa de papelão e bater nela para jogar minigames que iam desde corridas de obstáculo até uma versão digital do jogo de tabuleiro Jenga. Também foi um sucesso de crítica, mas não tanto de vendas. Quem sabe dessa vez dá certo. Afinal, para uma empresa que começou vendendo cartas de baralho, nada mais justo do que voltar ao papel.

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