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A Síndrome do Impostor faz 40 anos: saiba se você é vítima do autoboicote

Spoiler: não se restringe a uma questão de gênero e agora tem um tratamento eficaz

Por Ingrid Luisa
11 abr 2018, 16h25

Sabe aquele seu amigo extremamente dedicado e bem sucedido mas que vive falando “só consegui por sorte”, “a concorrência tava baixa, por isso entrei”, “esperam muito de mim, não sou tão bom assim”? Pode parecer humildade a uma primeira ouvida, mas isso pode caracterizar algo mais complexo: a Síndrome do Impostor.

É algo que parece simples, mas essa autossabotagem prejudica quem tem a síndrome em diversos aspectos. Essas pessoas não acreditam que estão onde estão por mérito próprio, atribuem fatores alheios para toda e qualquer tipo de conquista e vivem perturbadas pelo medo de que, um dia, descubram que ela é uma fraude. E, para elas, isso vai acontecer. A ideia central dessa desordem psicológica envolve a forma como os outros o veem e maneira como cada um enxerga a si mesmo, principalmente em relação às conquistas profissionais. Quem é impostor de si próprio não acredita em evidências visíveis de que é competente, já que se considera inferior e incapaz.

Há exatos 40 anos, esse fenômeno da mente foi detectado. As pesquisadoras Pauline Rose Clance e Suzanne Imes, da Universidade do Estado da Geórgia, publicaram, em 1978, o primeiro artigo com a nomenclatura “impostor” usada para designar quem demonstrava sinais de autoboicote. Mas, de lá para cá, o que mudou?

De mulheres para quase toda a sociedade

É interessante observar que o artigo de Rose Clance e Imes era direcionado claramente a mulheres. A dinâmica familiar e todo o machismo que rodeava o sexo feminino na década de 1970 as faziam não crer em suas próprias capacidades. O estudo que deu origem ao artigo examinou cerca de 150 mulheres bem-sucedidas (com grandes títulos acadêmicos, que já eram profissionais em suas áreas ou estudantes do ensino superior com excelente histórico escolar), e o resultado foi claro: todas elas se consideravam impostoras. “Contrariando realizações acadêmicas e profissionais, mulheres que apresentam o fenômeno do impostor insistem em acreditar que elas não são boas o suficiente e que apenas enganam quem pensa o contrário”, diz o artigo.

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Na década de 1980, a psicóloga Gail Matthews, da Universidade Dominicana da Califórnia, se uniu a Clance para novas pesquisas. Dessa vez, descobriram que 80% das pessoas bem sucedidas (tanto mulheres quanto homens) já tiveram episódios de Síndrome do Impostor durante suas carreiras profissionais. Hoje em dia é algo que atinge os dois sexos igualmente e em diversos níveis. Os sintomas são vários, mas os mais frequentes são quatro:

  • Perfeccionismo extremo: quem sofre com a síndrome acha que, mesmo trabalhando muito duro, o esforço não é o suficiente, por isso eles trabalham ainda mais. Com o receio de que sua estupidez vá ser percebida a qualquer momento, são pessoas muito dedicadas e exigentes;
  • Falsidade para agradar: como se sentem inferiores, nunca estão confortáveis para expor as próprias opiniões, fazendo, assim, com que sempre concordem com a opinião dos superiores, até chegando a bajulação;
  • Carisma: para ninguém descobrir que a pessoa é uma “farsa”, ela abusa do carisma e das boas maneiras para conquistar todo mundo.
  • Procrastinação: a pessoa quer demorar cada vez mais para chegar num momento de provação, em que irão avaliar seu trabalho, já que ela tem tem certeza que vai fracassar. Por isso a grande demora para entregar o que é pedido

A psicologia explica – e cura

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A Síndrome do Impostor pertence mais ao campo da psicologia do que ao da psiquiatria. Na verdade, o nome “síndrome” veio apenas por força de expressão, já que ela efetivamente não tem características clínicas para ser denominada assim. O que a marca são as distorções cognitivas (maneiras erradas de interpretar informações, como a realidade) “fundadas em crenças de incompetência, com grande comprometimento da autoestima”, como afirma o psicólogo Mário César Ponte.

É senso comum que basta ter consciência desse problema para se curar. Aceitar defeitos, falhas, respeitar limitações, parecem atitudes simples, mas não para quem se sente profundamente inferior. Ter um mentor profissional, que ajude tanto com feedbacks bons quanto ruins, é uma solução interessante para tentar colocar os pés na realidade, principalmente se esse sentimento for direcionado para carreira. Mas a psicologia tem uma maneira mais efetiva de lidar com o problema: a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC).

“Essas crenças de que as pessoas têm qualidades inferiores às que de fato têm, levando-as a ignorar o ambiente que as valoriza, elogia e reconhece seus valores, são crenças que a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) chama de ‘esquemas’, são princípios duradouros que vêm do início da infância a partir das experiências de vida de cada um. Traumas, sucessos, educação fazem com que desenvolvamos uma série de crenças a respeito de nós mesmos, dos outros e do futuro”, explica Mário.

É papel da TCC, por meio de uma série de técnicas, identificar quais são as crenças do paciente e fazer uma reestruturação cognitiva. A terapia deve questionar aquilo em que a pessoa acredita para que ela própria entenda que está fora da realidade. “Não adianta dizer nada para o sujeito, a melhor forma é fazer com que ele próprio descubra uma distorção na sua visão. Com o tempo deve-se propor que ele pense em conclusões alternativas e, mais para frente, ele será capaz de interpretar melhor os fatos a seu redor”, diz o psicólogo.

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