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As 6 máquinas que vão mudar a medicina

Uma máquina que identifica doenças pelo hálito. Um supercomputador mais inteligente do que qualquer médico. Conheça as seis tecnologias médicas mais avançadas do mundo.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h37 - Publicado em 21 jan 2013, 22h00

Edição: Bruno Garattoni Reportagem: Carol Castro

1. Experiência sensorial
Você provavelmente nunca fez uma ressonância magnética (MRI). É aquele exame em que a pessoa se deita numa maca e sua cabeça entra num círculo gigante. A cena aparece bastante nos filmes – em que o exame sempre é rapidinho e tranquilo. Na vida real, não é assim. Ressonância é um dos exames mais desagradáveis que existem. Você fica até 45 minutos completamente imóvel, preso dentro de um túnel muito apertado, com uma máscara sobre o rosto. Mas e se pudesse esquecer aquilo tudo e pensar em algo agradável? Essa é a ideia do Ambient Experience, um sistema que tenta recriar virtualmente ambientes como praia, floresta e fundo do mar – cujas imagens e cores são projetadas nas paredes da sala de exame. A tecnologia, criada pela empresa holandesa Philips, é usada principalmente com crianças. “Elas chegam assustadas, mas se distraem”, diz Tim Burrill, vice-presidente do Florida Hospital. No Brasil, o sistema está presente nos hospitais Samaritano e Santa Catarina, em São Paulo.
 

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2. A cadeira que lê o cérebro
Nos últimos 20 anos, a neurociência fez bastante progresso. Hoje os cientistas sabem dizer quais regiões do cérebro estão relacionadas a cada aspecto do comportamento humano, como medo e afeto, por exemplo. Sabe como eles fazem isso? Colocando um voluntário deitado numa máquina de ressonância magnética, como aquela do texto anterior, que consegue medir a movimentação do sangue dentro do corpo enquanto a pessoa pensa (e é induzida pelos cientistas a sentir coisas como medo ou afeto). A máquina mede quais áreas cerebrais estão recebendo mais sangue – e, portanto, estão mais ativas. Grande parte da neurociência moderna se limita a isso: olhar o vai-e-vem do sangue.

Mas já existe uma tecnologia que permite ir além, penetrar mais fundo no cérebro e enxergar o que os neurônios propriamente ditos estão fazendo. Ela se chama magnetoencefalograma (MEG), e foi proposta pela primeira vez no final da década de 1960. Em vez de medir o fluxo de sangue, a ideia aqui é detectar os campos magnéticos que o cérebro emite, e com isso calcular em tempo real as descargas elétricas que estão sendo disparadas pelos neurônios. Ou seja: com o MEG, o médico consegue ver exatamente quais neurônios estão conversando. Quando você abre a boca para emitir uma frase, por exemplo, a máquina traça e apresenta o caminho que aquele pensamento fez. É uma ferramenta incrível para estudar o cérebro – e também algumas de suas doenças, como Alzheimer, autismo ou epilepsia. Levou tempo até que o MEG se tornasse viável (as máquinas eram caras e imprecisas demais), mas hoje elas já são realidade. O principal aparelho do tipo se chama Neuromag, e é fabricado pela empresa sueca Elekta. Ele custa aproximadamente US$ 5,3 milhões, e existem 72 unidades instaladas pelo mundo (por enquanto, nenhuma no Brasil).

3. Diagnóstico pelo ar
Câncer de pulmão é o tipo mais comum de câncer: mata 1,38 milhão de pessoas por ano, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. Isso acontece porque muita gente ainda fuma (o tabaco é responsável pela esmagadora maioria dos casos), e também porque a doença raramente é diagnosticada a tempo. Em 85% dos pacientes, ela só é detectada quando o tumor já se espalhou para outros órgãos. Uma novidade promete ajudar a mudar esse quadro. É a Metabolomx, uma máquina que detecta o câncer de pulmão a partir da respiração da pessoa. O paciente vai em jejum para o exame, que consiste em respirar normalmente numa mangueira. O ar que ele exalou é analisado pela máquina em busca de certos tipos de compostos orgânicos voláteis (VOC), um tipo de substância produzida pelo organismo quando há determinadas doenças. Se certos VOCs estiverem presentes, é porque há câncer. A tecnologia foi criada pelo cientista Kenneth Suslick, da Universidade de Illinois, que se baseou num fato curioso e surpreendente: um estudo realizado em 2011 por cientistas alemães mostrou que cães treinados são capazes de detectar câncer de pulmão com 71% de acerto. Isso acontece porque os cachorros, dotados de olfato extremamente apurado, sentem os VOCs que o paciente expira. “É um jeito mais fácil de ver se há doença [câncer]”, diz Suslick. A máquina promete fazer ainda melhor, com índice de acerto de 80% a 93%. Além de câncer de pulmão, o aparelho também é capaz de detectar câncer de cólon, tuberculose e alguns tipos de infecção. A Metabolomx ainda está aguardando aprovação da Food and Drug Administration (órgão do governo americano que regulamenta o setor médico).

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4. Viagem ao centro do coração
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo, e têm nomes familiares – aterosclerose, arritmia, infarto. Mas também existe outra, que você provavelmente não conhece: a estenose aórtica. É um problema na válvula aórtica, que controla o fluxo de sangue no lado esquerdo do coração. É grave e é comum: só nos EUA, 1,5 milhão de pessoas tem. Nos casos mais sérios, a única saída é abrir o coração e trocar a válvula por uma artificial – ou a pessoa morre em no máximo dois anos. Mas essa cirurgia é muito agressiva, e 70% dos pacientes são velhos (e frágeis) demais para sobreviver a ela. E aí? Viver só dois anos, ou se arriscar a morrer na mesa de operação?

A medicina criou uma terceira opção. Colocar uma válvula artificial dentro de um cateter (um tubo fino e longo), que é introduzido por uma artéria da perna ou por um pequeno corte entre as costelas. Os médicos guiam esse tubo por dentro do corpo, com a ajuda de imagens de ultrassom e radioscopia (um raio-x contínuo), até chegar ao coração. Dentro do coração. Quando isso acontece, a peça é inflada – e se encaixa no lugar da válvula danificada. Uma cirurgia cardíaca delicadíssima, sem precisar abrir o peito do paciente. A válvula é feita de metal e pericárdio bovino (tecido extraído do coração de boi), mede 2,3 cm por 1,4 cm e 23 milímetros de diâmetro. Ela é fabricada pelas empresas CoreValve e Edwards Sapien (já aprovada pela FDA), e aumenta em 40% as chances de sobrevivência.

A pessoa evita uma cirurgia de alto risco e prolonga sua vida. Em compensação, a válvula traz um pequeno risco de derrame (13%), e custa caro: só a peça, sem contar as despesas de hospital, sai por US$ 30 mil. No Brasil, os testes com ela tiveram início em 2011, e já existem estudos para fabricá-la por aqui, o que reduziria o custo em 30%. No exterior, a válvula já está sendo usada em operações no lado direito do coração.

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5. O LHC do câncer
O Large Hadron Collider (LHC), um túnel de 27 quilômetros na fronteira entre a França e a Suíça, é o maior acelerador de partículas do mundo. Nele, prótons são acelerados a 99,9999991% da velocidade da luz e se chocam uns contra os outros. O objetivo é quebrá-los em partículas subatômicas e estudar essas partículas. O acelerador de partículas é a grande ferramenta dos físicos para desvendar os segredos da matéria e do Universo. E também a nova arma dos médicos para tratar o câncer.

O Centro de Terapia com Raios Iônicos fica em Heidelberg, na Alemanha, e é um conjunto de prédios construídos em torno de uma máquina gigantesca. Ela se chama Iontris, foi criada pela empresa alemã Siemens, e pesa 670 toneladas – mais do que o Airbus A380, maior avião de passageiros do mundo. É um acelerador de partículas, como o LHC. A diferença é que, em vez acelerar prótons, acelera íons de carbono, e a uma velocidade ligeiramente menor: “apenas” 75% da velocidade da luz, ou 225 mil quilômetros por segundo. E essas partículas não são arremessadas umas contra as outras. Elas são disparadas contra o tumor que está dentro do corpo de uma pessoa.

A vantagem é que o feixe disparado pela máquina é incrivelmente potente, e incrivelmente preciso – atinge apenas o tumor, sem danificar as células que estão em volta. “Quinze minutos depois da sessão, o paciente consegue levantar e tomar um café”, diz Matthias Kraemer, da Siemens. Por isso, a Iontris é indicada para tratar os tipos mais delicados de câncer, como no cérebro. A empresa diz que em seis meses, depois de dez ou 20 sessões, a máquina é capaz de eliminar a maior parte dos tumores. Apesar disso, o sistema é um fracasso comercial. A Siemens investiu US$ 1 bilhão para desenvolver a tecnologia e construir duas máquinas (a de Heidelberg e outra em Xangai, na China), mas teve US$ 521 milhões de prejuízo – e recentemente cancelou duas Iontris que seriam montadas na Alemanha.

6. O supergênio
Já aconteceu com quase todo mundo. Você vai ao médico com algum problema e ele não consegue descobrir o que é ou dá um diagnóstico errado. Acontece. O médico também é um ser humano. Mas e se não fosse? O supercomputador Watson está sendo preparado para ser o primeiro médico artificial do mundo. Watson foi criado pela divisão de pesquisa da IBM, e no ano passado venceu o programa Jeopardy, um game show de perguntas e respostas da televisão americana. Pode parecer bobagem, mas é um feito impressionante. Watson mostrou que era capaz de entender e responder perguntas enunciadas em inglês (não em linguagem de computador) e bastante capciosas, que são a marca do programa. Exemplo: “Um parente deste inventor o descreveu como um moleque que passa horas olhando o chá ferver. Quem é o inventor?” Resposta: James Watt. O supercomputador consegue responder essas coisas porque armazena uma quantidade incrível de dados na memória, e é capaz de raciocinar com inteligência usando esse conhecimento. Agora, a IBM pretende ensiná-lo a fazer diagnósticos. Ele será programado com todas as informações sobre doenças (sintomas, tratamentos, estudos científicos), receberá informações sobre o paciente (“paciente X sente falta de ar e dores”, por exemplo) e irá cruzar as duas coisas para dar um veredicto: “falta de ar e dor nos ossos podem ser sinais de leucemia”, por exemplo. Enquanto faz o cruzamento, Watson analisa qual a probabilidade de acertar – se for menos de 50%, ele não se arrisca a responder. A tarefa de ensinar o computador é árdua, pois uma quantidade enorme de informações médicas terá de ser programada na memória dele. A IBM espera que o processo leve no máximo dez anos.

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