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Atletas de aço do ciclismo

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h08 - Publicado em 31 mar 1996, 22h00

Ana Maria Fiori

Todo ano acontece a Race Across America, uma das mais duras provas de ciclismo do mundo. Durante cinco dias, equipes de corredores pedalam sem parar, revezando-se, e atravessam os Estados Unidos, da costa Oeste à ste. O esforço e o estresse do corpo são tremendos. Tecnologia, mecânica, fisiologia, fisioterapia e nutricionismo são cruciais para a vitória e para a segurança dos atletas – tanto quanto músculos de aço. Veja o que ciclistas brasileiros já aprenderam com a prova.

O impacto sobre o corpo

A Race Across America é considerada a prova ciclística mais difícil do mundo. Existe desde 1982 e ocorre todo ano. Em 1994, brasileiros participaram pela primeira vez. Na corrida de 1995, que saiu da cidade de Irvine, na Califórnia, no dia 30 de julho, e terminou em Savannah, na costa da Geórgia, no dia 5 de agosto, a Team Pepsi Brazil, formada pelos atletas Cid Cardoso Júnior, João Paulo Diniz, José Carlos Secco e Michel Bögli, conquistou o segundo lugar, completando o percurso em 5 dias, 18 horas e 46 minutos, depois de atravessar sete estados. O primeiro lugar ficou com a equipe Kern-Wheelman, da Califórnia, que completou o percurso em 5 dias, 17 horas e 5 minutos.

Os brasileiros levaram uma equipe de apoio de 15 pessoas com fisiologista, nutricionista, fisioterapeuta, mecânicos, motoristas, navegadores e auxiliares. O desgaste, na prova, é intenso e os atletas não podem se preocupar com mais nada além do desempenho nos pedais.

Durante todo o percurso, dois furgões, um na frente e outro atrás, acompanharam os corredores carregando bicicletas, ferramentas e colchonetes para repouso. Em cinco dias eles só tomaram um banho. Mas depois de correr, lavavam-se com toalhas umedecidas. O resto da equipe e dos materiais ia em ônibus motorhome, equipados com cozinha e camas. Teoricamente, enquanto um atleta dormia, três pedalavam, em turnos de meia hora, doze horas por dia. Mas mudanças do relevo na rota e o desgaste físico imprevisível obrigaram a alterações freqüentes nos cronogramas.

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Para o atleta José Carlos Secco, “a prova exige força de vontade, porque ao estresse soma-se o calor e a falta de sono”. Por isso, a massagem cumpre um papel importante, antes e depois do exercício, para ajudar a aquecer e a relaxar, estimulando a circulação e a migração do ácido lático – substância produzida pelos músculos estressados que pode provocar fadiga e impedir o esforço. “A massagem é uma compensação crucial porque você está maltratado e quebrado e ela é uma forma de reparação. Naquele momento você pensa: ‘eu mereço’. Mentalmente ela te deixa novo”, explica Secco.

Para minimizar o desgaste, o fisiologista Antonio Herbert Lancha Jr., da Escola de Educação Física da USP, e a nutricionista Patrícia Bertolucci tiveram que calcular seus efeitos. A prova pode produzir lesões irreversíveis. Trabalha-se sempre no limite do esforço, com risco grande. O desgaste provoca falta de apetite e comer torna-se um problema.

Esforço perigoso

O momento mais difícil foi no Tennessee. A temperatura era de 43 graus Celsius e a umidade relativa do ar de 73%. Os corredores transpiravam muito, mas a água em vez de evaporar e resfriar o corpo, formava uma película, grudada à pele, que transmitia o calor externo, induzindo os atletas a uma “febre” de 39 graus (na verdade, só há febre com processo inflamatório). Eles perdiam água mas não perdiam calor. Lancha insistiu para que bebessem muito, mantendo o corpo hidratado. Se houvesse perda de 7% do peso corporal em água poderia haver colapso cardíaco, pois o próprio sistema circulatório começa a perder água e pode parar. Felizmente, a hidratação intensiva com cloreto e bicarbonato de sódio,

para reter água no corpo e diminuir a quantidade de ácido lático na musculatura, compensou o desgaste.

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Patrícia Bertolucci ficou encarregada de repor o que os atletas perdiam, em líquidos, sais ou energia. Mas o ritmo e os horários irregulares alteraram o plano de refeições. Os atletas não tinham fome e quanto voltavam para os furgões, suados e extenuados, relutavam em aceitar alimentos como batata assada e açúcares. Na prática, comeram pequenos lanches entre os turnos e consumiram doses maçicas de vitaminas e carboidrato em pílulas, pastas e barras energéticas.

Foram ministrados suplementos de vitaminas C, E e muitos aminoácidos, para neutralizar a deficiência de proteína – que, junto com o estresse, acabaram produzindo aftas na boca dos atletas. Sobretudo, consumiu-se muita água, sucos e soluções reidratantes com sais minerais. Não foi fácil. Mas eles já estão ansiosos para participar da corrida de 1996.

Velocidade

35,17 quilômetros por hora, em média, com piques de mais de 50 quilômetros por hora.

Sapatilhas

A sapatilha, feita de fibra de carbono, é leve e tem sola rígida, engatada ao pedal. Não dobra. Concentra energia e força nos pés, mas permite movimentos laterais. Fácil de soltar em caso de queda.

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Estresse muscular

Risco de fadiga com a concentração de ácido lático em músculos superestressados como o quadríceps, o glúteo, a panturrilha (batata da perna), o bíceps crural e o músculo psoas ilíaco, que liga a coxa à coluna.

Roupa

Roupa colada ao corpo, de lycra especial, oferece menos resistência ao ar e libera a transpiração. Antes de pedalar, os ciclistas passam pomada lubrificante nas partes de atrito, para prevenir assaduras.

Perda de peso

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Três quilos por atleta, em média

Alimentação

Pão, batata, massas, suplementos de carboidratos, vitaminas e aminoácidos, em bebidas, pastas, barras e pílulas. Proteínas de leite e derivados. Frutas e frios.

Corpo contraído

A musculatura do tronco é intensamente contraída para concentrar força nas pernas e impulsionar os pedais com eficiência. A rigidez impede a oscilação do corpo com a respiração, mantendo o máximo de equilíbrio.

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Calor

Mochila impermeabilizada, cheia de gelo, para diminuir o calor do corpo.

Efeitos

Nas montanhas do Colorado houve queda na glicose do sangue dos atletas, de 77 miligramas por decilitro (medida em repouso, ao acordar) para 69 miligramas (medida após o exercício), provocando náusea e tonturas.

Lesões

Inflamações na musculatura em decorrência do estresse e do esforço excessivo e repetido. Assaduras. Bolhas. Aftas na bôca por causa do consumo intenso de aminoácidos.

Bike clip

O clip é uma empunhadura no guidom para facilitar o apoio dos braços e a firmeza das mãos. Permite uma posição do corpo que evita o impacto do vento no peito, mantém as costas retas e estimula a respiração.

Câmbio leve

A alavanca de câmbio, instalada no clip, faz mudança de marcha com o movimento de dedos. Evita torções e alterações no equilíbrio do corpo sobre a bicicleta e economiza segundos.

Suor concentrado

No deserto do Tennessee, 43°C a alta umidade do ar, de 73%, impediram a evaporacão do suor, criando uma película de água sobre a pele que transmitia o calor ambiente para o corpo e induziu os atletas a uma “febre” de 39 graus.

Pneus

Pneus finos, tubulares (colados no aro) e com câmara de 19 milímetros, para diminuir o atrito com o solo e aumentar a velocidade.

As rodas

Variam de acordo com o trecho a ser percorrido. A da foto combina roda dianteira de fibra de carbono, com raios menores e menos numerosos, e roda traseira de alumínio, para diminuir a turbulência em terrenos ondulados.

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