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Câncer infantil: corrida pela vida

O maior trunfo e o maior risco para as crianças é a rápida divisão das células: ajuda a espalhar o câncer, mas também facilita o tratamento, já que a medicação ataca justamente esse descontrole celular.

Por Márcia Schuler
Atualizado em 31 out 2016, 19h08 - Publicado em 26 jun 2015, 15h15

câncer infantojuvenil, que atinge crianças e adolescentes dos zero aos 19 anos, é considerado uma doença rara. Ele corresponde a algo entre 1% e 3% dos tumores malignos na maioria das populações mundiais, incluindo o Brasil. Além da faixa etária e da frequência, são muitas as diferenças que separam os tumores pediátricos dos adultos.

As crianças estão em fase de crescimento, e as células ainda estão se desenvolvendo e formando órgãos e tecidos. Por isso, a divisão celular é mais frequente e rápida do que em pessoas mais velhas, e isso significa que as células tumorosas também se multiplicam em grande velocidade. O período de latência (tempo de desenvolvimento do tumor) é menor, e os cânceres infantojuvenis formam metástases com mais facilidade. O maior trunfo e o maior risco dos tumores pediátricos estão nessa divisão acelerada. Ao mesmo tempo em que o câncer evolui mais rapidamente e é mais agressivo, o tratamento é mais eficaz pelo mesmo motivo. A quimioterapia ataca as células em divisão descontrolada e, como nas crianças elas estão se multiplicando rapidamente, se tornam alvos fáceis para as drogas. Além disso, as células saudáveis que sofrem com a quimioterapia também tendem a se regenerar rapidamente.

Os tumores pediátricos mais comuns se originam em células indiferenciadas – aquelas ainda sem função definida e com capacidade de autorrenovação, o que também determina uma boa resposta às terapias. Diferentemente dos adultos, as causas do câncer infantil passam longe de fatores ambientais ligados ao estilo de vida. Ainda que algumas condições antes e durante a gravidez possam contribuir para o surgimento do câncer – como, no caso das mães, o uso de drogas no período gestacional – os estudos não chegam a conclusões definitivas sobre esses fatores, e costuma-se dizer que os tumores pediátricos surgem a partir de uma mutação genética na vida pós-parto – ou seja, não existe prevenção para o câncer infantil. O diagnóstico precoce é o principal aliado em qualquer luta contra a doença. Para crianças, porém, ele é imprescindível, já que o tumor evolui rapidamente. Por outro lado, ele é também um desafio. Por ser uma doença rara, a identificação de um tumor pediátrico pode ser difícil. Os sintomas na infância são muitos semelhantes aos de doenças benignas e comuns, como febres, aumento de gânglios, perda de apetite, dores de cabeça, entre outros. Quando esses sintomas persistem, a ida ao médico é essencial.

Estabelecida a suspeita, o pediatra deve encaminhar o paciente ao centro especializado – no caso do câncer infantil, o tratamento geralmente é feito em hospitais de referência, por médicos especialistas em tumores pediátricos e uma equipe multidisciplinar. Confirmada a doença, um novo desafio vem pela frente: o tratamento.

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Crianças reagem bem à quimioterapia

Existem tratamentos padronizados para praticamente todos os cânceres infantis, dos mais comuns aos mais raros. Durante o tratamento, pode ou não haver internação – para adultos, isso é raro, e geralmente a quimioterapia é exclusivamente ambulatorial.

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O tripé quimioterapia, radioterapia e cirurgia é a principal ferramenta no tratamento do câncer infantil. Geralmente, as crianças reagem bem e são mais tolerantes à quimioterapia do que os adultos. Já as cirurgias são mais utilizadas para tratar dos tumores ósseos.

O tratamento mais comum é a quimioterapia sistêmica, a utilização de um grupo de drogas combinadas estabelecidas no protocolo específico de cadacâncer. Na leucemia linfoide aguda (LLA), o tratamento é, em geral, dividido em três partes. A indução, que busca a remissão do tumor – no primeiro mês de tratamento, cerca de 95% pacientes de LLA alcançam a remissão, o que significa que as células de leucemia não serão encontradas em amostras da medula óssea, e as contagens do sangue voltam ao normal.

A segunda fase é chamada consolidação e dura dois meses, em geral. É utilizado um novo grupo de drogas para consolidar a remissão e destruir células cancerosas remanescentes. Permanecendo a remissão, entra-se na terceira etapa, a manutenção, em que costumam ser administrados medicamentos por via oral – até então, o paciente recebe drogas por via intravenosa – por mais ou menos um ano e meio. Nos primeiros meses, é comum a reindução, uma intensificação do tratamento semelhante à primeira fase. Nos primeiros meses, especialmente durante a indução, é realizada também a quimioterapia intratecal, com injeções na lombar, para atingir células cancerosas que podem ter se escondido no cérebro ou medula espinhal, e que a quimio pela veia não atinge – por isso o sistema nervoso é conhecido como “santuário leucêmico”.

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Terminado o tratamento, a criança segue sendo acompanhada de perto pela equipe médica – em alguns casos, até a vida adulta. Nos primeiros seis meses, as visitas são pelo menos mensais. Depois, de acordo com o desenvolvimento de cada caso, as consultas vão sendo espaçadas. Em cinco anos, se o paciente não apresenta evidências de recidiva, ou seja, que a doença vai voltar, é considerado curado, mas o acompanhamento segue para avaliar a possibilidade de efeitos tóxicos.

Em curto prazo, os efeitos colaterais são os mesmos dos adultos – náusea, vômito, maior predisposição a infecções. Em longo prazo, a medicação pode afetar o crescimento e a fertilidade e, mais tarde, desencadear o surgimento de outros cânceres. Na radioterapia, o risco é de atrofiar o desenvolvimento de algumas células e danificar órgãos, uma vez que ela atua para frear o desenvolvimento das células tumorais.

Ainda que crianças sejam relativamente tolerantes aos efeitos da quimio, e que a radioterapia venha evoluindo e se tornando mais direcionada, cerca de 60% de todos os sobreviventes desenvolvem pelo menos um problema crônico de saúde, e quase 30% são acometidos por uma doença com risco de vida.

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O colo

As questões psicossociais também são muito diferentes para crianças e adolescentes. Não é só à quimioterapia que a criança tende a ser mais resistente. Em muitos casos, ela também recebe a notícia do câncer com mais tranquilidade do que um adulto, pois não tem preconceitos formados sobre a doença.

Com o adolescente, nem sempre é assim. Ao mesmo tempo em que ele já teve contato com a doença de outras formas – por um familiar, por exemplo – e sabe suas consequências, ele também é desafiador, e pode ser difícil fazê-lo seguir o tratamento à risca. Os efeitos colaterais que afetam a estética, como a perda de cabelo, também tendem a ser mais impactantes nessa fase de autoafirmação. Por isso, as equipes nos centros de referência em câncerinfantojuvenil contam com uma equipe multidisciplinar, e os psicólogos acompanham todo o processo com o paciente e a família, do diagnóstico à cura.

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É importante que o paciente esteja ciente do que vai acontecer com ele, e pais e médicos devem explicar sempre de maneira acessível. Quando internada, a criança fica sempre sob a responsabilidade de um cuidador – que pode ser pai, mãe, avó ou outro responsável. O suporte também se estende a ele, que tem de se adaptar ao novo momento da criança, muitas vezes, longe de casa e do restante da família. Durante o tratamento, a criança entra em contato com outros pacientes que estarão sofrendo os efeitos – por isso, não adianta tentar esconder. A parte boa é que o sofrimento da criança é momentâneo. Isso significa que aquela dor chata que ela sentiu na sessão de quimioterapia em seguida vai ser esquecida ao encontrar um brinquedo novo pelo caminho.

Dados

* Entre crianças e adolescentes, o câncer infantil é a 2ª causa de morte e isso representa 7% do total de mortes nessa faixa etária.

*A chance de cura em tumores pediátricos pode chegar a 80%

*11.840 novos casos de câncer em crianças foram registrados em 2014. Desses casos, a leucemia representa mais de 30%

*Texto originalmente publicado no dossiê da SUPER Câncer

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