Assine SUPER por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Ciladas de farmácia

Consumidos sem critério no Brasil, remédios como as anfetaminas e os tranqüilizantes viciam, matam e alimentam um vasto tráfico.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h38 - Publicado em 31 ago 1998, 22h00

Claudio Angelo

Você está ansioso? Tome um comprimido para relaxar. Está cansado? Engula uma pílula de ânimo. Esses “milagres” sintéticos estão à disposição em qualquer farmácia. Têm nomes estranhos, como diazepam, anfetamina e metanfetamina. São remédios perigosos, que viciam e podem até matar se misturados a outras drogas. Nos anos 60 e 70 eram tão populares quanto a aspirina. Depois de comprovados os malefícios de seu uso descontrolado, a venda passou a sofrer restrições. Mas ainda hoje são consumidos sem critério no Brasil.

E seus derivados são vendidos por traficantes nas ruas do mundo inteiro. Fuja deles.

Os perigos do armário do banheiro

Anfetaminas e tranqüilizantes têm efeitos opostos, mas muito em comum: são medicamentos viciantes, de venda oficialmente controlada, mas de uso indiscriminado. Fáceis de encontrar em farmácias e armários de banheiro, eles têm nas mulheres seus maiores consumidores.

Anfetaminas são estimulantes de ação semelhante à da cocaína, porém mais prolongada. Criadas na década de 30, são usadas como remédios para emagrecimento, devido à sua capacidade de inibir o centro do apetite no cérebro. Viraram drogas de abuso na Segunda Guerra Mundial. Hoje, enlouquecem pacientes obesos dos Estados Unidos, Chile, Argentina e Brasil. Muitas mulheres, obcecadas pelo padrão de beleza das esqueléticas top models, alimentam suas esperanças com anfetamina. “São remédios receitados legalmente, mas sem critério”, diz à SUPER a pesquisadora Solange Nappo, do Cebrid. Um levantamento feito por ela indica que 80% dessas “obesas” não estão acima do peso ideal.

Continua após a publicidade

No outro lado da prateleira estão os calmantes como Valium e Lexotan. Depressores do sistema nervoso, são indicados para pacientes ansiosos – daí serem conhecidos como ansiolíticos. Os tranqüilizantes estão entre as três drogas mais consumidas entre os estudantes brasileiros, especialmente mulheres. “Às vezes o consumo é iniciado em casa, onde a droga está presente”, explica Solange. Ao contrário do que ocorre com as anfetaminas, a venda dos ansiolíticos geralmente é ilegal. O mercado negro é alimentado pelas chamadas “receitas azuis”, que só alguns médicos podem emitir. Cada uma dá direito a até três caixas de medicamento. Se o cliente compra menos do que isso, muitas farmácias se aproveitam da receita para criar um estoque paralelo com o que sobra.

As sósias que aprontam na cabeça

Esta imagem mostra a semelhança entre a estrutura molecular de uma anfetamina e do transmissor dopamina

As drogas, em geral, atuam imitando neurotransmissores, os mensageiros químicos do cérebro. A anfetamina se aproveita da semelhança com a dopamina para ocupar seus receptores, causando euforia.

A vovó das anfetaminas vai à boate

A droga da moda dos anos 90 é, na verdade, uma octogenária. Ela foi sintetizada em 1912, sob o impronunciável nome de metile-nodioximetanfetamina (MDMA). Mas a senha usada para designar a droga nas boates do mundo inteiro é uma única letra, uma vogal. E, de ecstasy.

Continua após a publicidade

O apelido foi dado por um tra-ficante americano em 1984. A idéia era vender a droga sob o nome de empathy (“empatia”, em inglês), pois um de seus efeitos mais notáveis era o aumento da sociabilidade dos usuários. Mas o traficante achou que ecstasy tinha mais apelo comercial. Acertou na mosca.

A MDMA foi elaborada nos laboratórios Merck, na Alemanha, para ser um moderador de apetite, muito antes da descoberta das anfetaminas. Mas as alucinações provocadas nos primeiros pacientes tiraram a droga das prateleiras. Ela só voltaria à cena seis décadas depois, nos anos 80, nas danceterias dos Estados Unidos e Europa. Em catorze anos de uso, tornou-se símbolo da chamada Geração X, os jovens dos anos 90 ligados em música eletrônica, o techno, e em raves (em inglês, “agitos”), festas que duram madrugadas inteiras. “Danço sem parar por 4 ou 5 horas”, disse à SUPER a artista gráfica paulistana F., de 25 anos, que afirma consumir ocasionalmente ecstasy em danceterias.

A MDMA é uma droga peculiar. Ela é aparentada quimicamente com as anfetaminas e com o LSD ao mesmo tempo. Ou seja, é estimulante e alucinógeno.

Como as primeiras, aumenta a quantidade de dopamina e norepinefrina no cérebro. Como o último, mexe nos níveis de serotonina, alterando o funcionamento do córtex sensorial. Isso faz com que os sentidos do usuário, em especial o tato, fiquem mais aguçados. “Dá vontade de tocar nas pessoas”, afirmou F. Essa estimulação do tato fez com que o ecstasy ficasse conhecido como a “droga do amor”. Não é bem assim. A MDMA induz a relações sexuais 25% dos usuários – um índice alto, se comparado ao de outras drogas. Mas eles ficam tão distraídos que dificilmente atingem o orgasmo.

Ficha técnica

Nome

Continua após a publicidade

Ecstasy, MDMA, XTC, Adam, X, E.

Classificação

Estimulante com propriedades alucinógenas.

De onde se extrai

Produto sintético. Compostos semelhantes são encontrados em plantas como a noz-moscada.

Origem

Laboratórios Merck, Alemanha.

Forma de uso

Comprimidos.

Continua após a publicidade

Fervendo a noite inteira

O ecstasy aumenta a temperatura do corpo.

Efeitos imediatos

1. Sensação de bem-estar. Elevação do humor. Desinibição. Pode provocar crises de pânico e depressão após o uso.

2. Aumento da freqüência cardíaca e da pressão arterial.

3. Náuseas.

4. Suor intenso, desidratação. A temperatura do corpo pode ultrapassar 42 graus celsius (hipertermia), causando a morte.

Continua após a publicidade

5. Estimulação.

6. Bruxismo (contração da mandíbula).

7. Aumento da percepção visual e auditiva.

Efeitos a longo prazo

Embora a MDMA seja quimicamente aparentada com as anfetaminas, ainda não há provas de que ela cause dependência forte.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.