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Clube dos 110: conheça os segredos de quem passa dos 110 anos

Os supercentenários estão sendo cada vez mais estudados por chegarem onde poucos chegam: 110 anos. O que a ciência descobriu sobre eles pode ajudar você a viver muito mais

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h40 - Publicado em 10 abr 2011, 22h00

Débora Nogueira

“Deus deve ter se esquecido de mim”, brincava sempre a francesa Jeanne Calment, que morreu aos 122 anos em 1997. Jeanne foi a pessoa que mais viveu no mundo até hoje e, se Deus deu uma força, agora a ciência está descobrindo motivos menos divinos para longevidades como a dela. Ela faz parte dos supercentenários, o grupo seleto e cada vez mais estudado daqueles que passam de 110 anos.

Os fiscais extraoficiais desse clube são os médicos do Gerontology Research Group, que mantêm uma lista atualizada dos supercentenários vivos. Em março deste ano, eram contabilizados 83 senhoras e 5 senhores – ou 1 a cada 80 milhões de seres humanos (ver quadro na página seguinte). Todos estão no hemisfério norte, mas isso tem mais a ver com a precariedade dos cartórios de 1900 na América do Sul, África e Oceania, o que dificulta a confirmação de idade. A pergunta que fica é: o que os faz especiais? E o que podemos fazer para ao menos nos aproximarmos deles?

Alguma coisa em comum

Segundo um estudo da Boston University School of Medicine, os supercentenários variam muito educação, renda, religião, etnia e até nos padrões de dieta – há desde vegetarianos longevos até anciões do churrasco. Mas eles também têm muita coisa em comum: poucos são obesos, nenhum é ou foi fumante, a maioria lida bem com situações estressantes.

Os bons hábitos são tão determinantes que, quando são adotados por todos, criam-se bolsões de longevidade. Talvez o melhor exemplo seja Loma Linda, na Califórnia, onde um grupo de adventistas vegetarianos não fuma, faz exercícios regularmente, dedica muito tempo à família – basicamente a receita da longevidade. Como consequência, eles têm uma expectativa de vida de 85 anos, 10 anos a mais que a média americana.

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Além disso, o que é notável em se tratando de 11 décadas queimando neurônios, só 20% tiveram perdas neurológicas – 80% estão totalmente lúcidos.

Baseados em testes de personalidade, os médicos de Boston apontam ainda que poucos são neuróticos e a maior parte é extrovertida. Taí a Jeanne Calment para provar. Eu seu 110º aniversário, a francesa declarou: “Eu só tenho uma ruga, e estou sentada em cima dela”.

Sim, senhoras

Brincadeiras à parte, Jeanne tinha outro fator em seu favor: era mulher. Segundo o geriatra Eduardo Ferrioli, da Faculdade de Medicina da USP, as fêmeas humanas “vivem mais desde o útero”, já que entre os nascidos vivos a maioria é mulher. Além disso, a proteção hormonal até a menopausa dificulta as doenças cardiovasculares em mulheres.

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Outro fator que pode explicar essa sobrevida maior das mulheres é a época em que essas supercentenárias viveram. Elas são de uma geração em que a mulher quase não saía de casa e não era exposta à violência urbana e aos riscos da rua. Segundo Anderson Della Torre, o geriatra da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, outra possível causa para termos uma longevidade maior em mulheres é que elas fazem um maior acompanhamento periódico de saúde, enquanto os homens acabam abusando mais do álcool, tabaco e estresse e quase nunca vão ao médico fazer exames de prevenção.

Para Della Torre, isso deve mudar no médio e longo prazo, uma vez que hoje as mulheres estão tão expostas aos inimigos da longevidade quanto os homens.

Fórmula do envelhecimento

Sim, longevidade também vem de berço: mais da metade dos centenários têm parentes que atingiram os 100 anos ou mais. Mas bons hábitos como nutrição de qualidade, atividade física regular e uma boa quantidade de sono podem até mudar a estrutura genética. Sério: a forma como se vive pode atrapalhar ou ajudar na replicação de células e até encurtar ou alongar telômeros – estruturas que formam as extremidades dos cromossomos e são essenciais na replicação de células.

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Estudos em camundongos mostraram que uma dieta equilibrada, com redução de calorias em 30%, faz eles viverem o dobro do tempo e os torna quase imunes a diabetes e câncer. A máxima “quanto mais velho você está, mais doente você é” deveria ser adaptada para “quanto mais velho você está, mais saudável você foi”.

Se é para apontar uma regra para se viver mais, os geriatras fazem coro: o importante mesmo é se manter ativo física e mentalmente. Os mais velhos devem evitar o sedentarismo e, mesmo que a pessoa pare de trabalhar, nunca pode deixar de exercitar o raciocínio, a mente, seja participando de projetos, seja lendo livros ou fazendo quebra-cabeças. Até o acompanhamento psicológico é importante para evitar doenças como depressão, que também pode ser uma porta de entrada para outras patologias.

No best-seller Living to 100 (“Vivendo até os 100”), o médico americano Thomas Perls chama atenção para outros fatores que podem acrescentar anos de vida. Fio dental, inclusive. Perls diz: “Há relação direta entre inflamação da gengiva e doença do coração: passe fio dental todos os dias e adicione um ano à sua vida”.

Mesmo com todo o fio dental do mundo, o fim sempre chega. Mas há boas notícias: segundo o Gerontology Research Group, a superlongevidade vai crescer. Esses cientistas acreditam que somos testemunhas de uma expansão do limite biológico, uma vez que a qualidade de vida melhorou muito. Bom, então é isso: nos vemos no nosso 110º aniversário.

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