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Grandes narradores esportivos contam seus truques

Cléber Machado, Luciano do Valle, Sílvio Luiz e outros narradores dão dicas de como virar um narrador esportivo

Por André Bernardo
Atualizado em 5 abr 2018, 19h02 - Publicado em 6 jan 2010, 22h00

Cléber Machado

“Se o jogo está quente, está quente. Se está morno, está morno. Não dá para mentir para o torcedor. Se você disser que o jogo está pegando fogo, o telespectador vai desacreditar na hora. Eventualmente, você pode chamar a atenção do público de casa para um torcedor mais folclórico nas arquibancadas. Sempre aparece algum. Mas também não pode esquecer do jogo e focar só naquele personagem. O torcedor é um detalhe. Não é o foco principal da transmissão. Você também pode, de vez em quando, contar uma historinha qualquer de bastidor, desde que ela esteja relacionada, de alguma forma, à partida que está sendo televisionada. Se não, você cai no erro de falar de um assunto e o torcedor em casa, coitado, assistir outro na TV. Não tem truque. De repente, você se aproveita de um lance isolado para valorizar a transmissão. ‘Será que agora vai esquentar a partida?’ O torcedor de casa pode até se animar. Agora, se você cai na besteira de falar: ‘É, daí para pior…’. (risos) O sujeito desliga a TV e vai dormir!”.

Luciano do Valle

“Você tem que arrumar assunto para prender a atenção de quem está em casa. Você não pode é desinteressá-lo mais ainda. Uma tática que costuma dar certo é usar os números a seu favor. Experimente fazer uma retrospectiva da partida. Quantas vezes os dois clubes já se enfrentaram? Quem ganhou mais? Qual foi a maior goleada? E assim por diante. Mas tudo relacionado à partida. Quem não está jogando por causa de contusão? Ou, então, quem está voltando de suspensão por cartão amarelo? De informação em informação, você vai preenchendo os buracos da transmissão esportiva. Para falar a verdade, não existe transmissão fácil. Transmitir um jogo de vôlei, por exemplo, não é mais fácil do que um de futebol. Já imaginou quando o Brasil abre uma vantagem muito grande sobre a República Dominicana, por exemplo? Não há quem aguente… Dependendo da partida, é um porre de transmitir. E é um porre de assistir também. Para ser locutor esportivo, tem que nascer locutor esportivo. Eis uma profissão que ninguém ensina. Eu já narrava jogo de futebol de botão aos cinco anos de idade”.

Oliveira Andrade 

“Qualquer modalidade esportiva fica difícil de narrar se o profissional desconhecer as regras do jogo, se ele não tiver um mínimo de conhecimento técnico da coisa. Já aconteceu comigo, por exemplo, de ser convocado para narrar uma determinada competição esportiva sem tempo suficiente para me preparar. Corrida de Fórmula 1, por exemplo. Acho dificílimo. Se o narrador não entender do riscado, só vai ficar dando classificação, número de voltas, etc. E aí, ninguém aguenta… Quando o jogo está morno – e isso serve para outras modalidades também – o segredo é não deixar passar isso para o telespectador. Aí, é um convite para ele mudar de canal. É preciso estar munido do máximo de informações possível para quando o ritmo do jogo estiver morno. Cursos de locução não formam ninguém, apenas moldam. É preciso desenvolver um estilo próprio e fugir da mesmice que tomou conta das transmissões esportivas. São sempre os mesmos “chavões” e “bordões” que você ouve por aí. É preciso estudar e estudar bastante. A faculdade de jornalismo não basta”.

Silvio Luiz

“Quando o jogo estiver chato ou maçante, é preciso desviar a atenção do telespectador para outro assunto. Nestas horas, procuro fazer alguma pergunta inusitada ao comentarista, dar alguma informação que não tem nada a ver com o jogo ou, então, pedir ao diretor de TV que procure alguma figura engraçada na arquibancada para eu poder fazer alguma graça com ela. É preciso ter uma boa voz para se tornar um bom locutor esportivo. E, principalmente, não gritar no ouvido do telespectador. Tem gente por aí que anda berrando muito no ouvido da gente. É importante também buscar o próprio estilo. Não tentem imitar ninguém. Tenham personalidade”.

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Maurício Torres

“Quando um jogo está desinteressante, é importante bater bola com o comentarista. Se um determinado clube abriu 20 pontos de vantagem no basquete, por exemplo, o recomendável é destacar os principais elementos dramáticos da partida. Os principais jogadores estão pendurados? Ok, o que você faria no lugar do treinador? Pouparia os jogadores e mandaria eles para o banco? Manteria os jogadores em quadra e arriscaria estourar o limite de faltas? E quando um time de futebol perde por goleada? O que fazer no lugar do técnico? Manda o time todo para o ataque, reforça a defesa, mexe no meio-campo? Interatividade é fundamental. Não só com o comentarista, mas com o público também. É preciso entreter o público, sem encher linguiça. Hoje em dia, narrar um eventual jogo desinteressante ficou mais fácil porque você tem mais ferramentas à sua disposição. Você tem os demais gols da rodada para exibir a qualquer momento, uma quantidade enorme de câmeras para mostrar o mesmo lance por diversos ângulos e, de quebra, a computação gráfica para tirar dúvida sobre distância da barreira e velocidade da bola, entre outros aspectos. Na hora do aperto, você lança mão destes recursos para dinamizar a partida”.

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