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Dieta: como ela age na sua mente

Perder peso seria simples se você não fosse um animal racional. Como não é assim, arranje uma companhia de regime — duas cabeças emagrecem melhor do que uma

Por Claudia Carmello
Atualizado em 22 out 2019, 15h44 - Publicado em 15 set 2016, 18h45

DIETA SEM SEGREDO
CORPO | MENTE | MUNDO | VIDA

(Henrique Gualtieri/Superinteressante)

Se a gente fosse máquina, era só programar: bastava ingerir as calorias necessárias às atividades do corpo e o peso seria mantido. Acontece que comer não é uma ingestão automática de nutrientes. Envolve oportunidade, prazer, socialização, emoções e, claro, nossos hábitos.

Uma dieta que nos afaste totalmente da nossa rotina alimentar, por exemplo, tem pouca chance de ser mantida. “Sempre que você tem um cardápio com alimentos que não fazem parte do seu dia a dia, é claro que você vai largar a dieta”, diz o endocrinologista Márcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica da Faculdade de Medicina da USP. “O que funciona é a reeducação alimentar. Aprender a comer de um jeito que você seja capaz de manter sempre”, diz Mancini.

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Alguns programas esbarram nesse conceito e, por isso, dão resultados melhores. A Dieta dos Pontos (limita a quantidade de calorias atribuindo pontos para cada alimento, prevê ingestão de todos os grupos nutricionais, não proíbe nada); a Vigilantes do Peso (que também usa um sistema de pontos e tem como trunfo reuniões periódicas de motivação entre os participantes); a Dieta do Mediterrâneo (foca nas frutas, legumes, carnes brancas, azeite e castanhas, grãos integrais, consome poucos doces, carnes vermelhas e gordura saturada e traz grande benefício à saúde cardíaca).

Veja bem: ninguém disse que, porque a reeducação alimentar pode dar resultados bons a longo prazo, ela vai funcionar. Tudo vai depender da sua disposição para mudar hábitos, do meio social em que vive, de um acompanhamento médico e nutricional individualizado e de fatores emocionais.

Só se for a dois

Cada vez mais, pesquisadores dos fatores externos que influem na alimentação concluem que o sucesso de uma dieta depende de um fator fundamental: motivação. Aquele grande estudo de Harvard trouxe um resultado interessante nesse campo: os voluntários que compareceram a pelo menos dois terços das reuniões com médicos e outros voluntários emagreceram mais do que os que optaram por seguir no programa sozinhos: 9 quilos em dois anos, mais que o dobro da média. Frank Sacks, o líder do estudo e professor de prevenção de doenças cardiovasculares da Faculdade de Saúde Pública de Harvard, declarou à revista Time: “As pessoas precisam de apoio para manter a motivação e o foco”.

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Conclusão: conseguir um apoio ou um parceiro de dieta é muito mais importante do que escolher qual dieta seguir. Novas pesquisas estão comparando diferentes tipos de acompanhamento em voluntários – reuniões de grupo, interfaces online com médicos, orientação estendida ao resto da família – para saber qual é a melhor estratégia de suporte. Um estudo da Universidade de Yale já mostrou que casais que fazem dieta juntos tendem a perder mais peso do que homens e mulheres que não têm a colaboração do companheiro na empreitada.

Outro fator que pode contar contra é o “ambiente obesogênico”, que empurra o indivíduo rumo aos quilos a mais. Claro, a gente engorda por comer demais e se mexer de menos, mas também porque há uma oferta cada vez maior de comida à nossa disposição. Comparando com a máquina: um carro não aumenta a ingestão de combustível se seus vizinhos de estacionamento estiverem consumindo mais que ele. Você sim. Isso sem falar em questões de autoestima, autoindulgência, autossabotagem. É como se um automóvel esvaziasse o posto ao ver modelos que fazem mais quilômetros por litro.

Justamente por se tratar de uma questão ambiental, a nova tendência das políticas públicas de combate à obesidade é abandonar o foco no indivíduo e criar ações coletivas. No norte da França, as cidades de Fleurbaix e Laventie provaram que funciona. Em 12 anos, com mais áreas públicas para esporte e orientação familiar, a obesidade entre crianças caiu a 8,8%, menos da metade da taxa de cidades vizinhas.

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É proibido proibir

Emagrecer também consiste em se livrar de conceitos de certo e errado. “As dietas costumam se basear na noção de que alguns alimentos são bons e outros são ruins”, diz Carol Munter, autora do best-seller Overcoming Overeating (“Superando a Supercomilança”, sem edição brasileira). Peguemos a dieta da sopa, por exemplo: todas as suas refeições serão um sopão de legumes. Ou a de Ornish: vegetariana e com apenas 10% das calorias vindas da gordura (no Brasil, consumimos em média 27% de gordura, e o limite para uma dieta balanceada seria de 30%). Ou mesmo a de Atkins, que manda dar adeus ao pedaço de pizza, ao prato de massa, aos pães, aos doces. Alguém consegue passar a vida num regime desses?

“Quando uma comida é proibida, torna-se especial e nós a queremos. Já quando ela é permitida, ‘legalizada’, podemos relaxar”, completa. Bom, pode funcionar para várias pessoas, mas como confiar que uma população inteira de obesos vai conseguir aprender a ouvir sua fome e segui-la?

A ressalva não significa que a relação entre comer e sentir seja desprezada pela ciência. Pelo contrário. Já se sabe que alimentos altamente calóricos, especialmente doces, chocolates, injetam dopamina no sangue, um neurotransmissor que manda sinais de recompensa ao cérebro. E que o stress aumenta os níveis dos hormônios que dão fome e dão o alerta para que a gordura abdominal comece a se acumular.

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A ligação entre fome e emoção também tem sido provada por estudos neurológicos. Uma pesquisa publicada na revista Science em 2001, das Universidades Rockefeller, Princeton e da Califórnia, mostrou, por meio de mapeamento das regiões do cérebro de ratos que controlam a decisão da ingestão de comida, que a regulação de apetite responde a outros sinais além da leptina e da grelina, como os vindos de centros de emoção do cérebro – significa que você pode sentir ou deixar de ter fome independentemente do que comeu ou deixou de comer.

Ou seja, há mais entre a fome e a saciedade do que imagina o nosso vão nutricionismo. E tem gente lucrando com isso.

Mitos

1. “Tomar suco natural ajuda no regime”
Não ajuda e pode atrapalhar. O problema dos líquidos que não sejam água (refrigerante, suco, cerveja etc.) é que suas calorias não são devidamente computadas pelo seu corpo. “Nosso organismo não tem a mesma capacidade de identificação de saciedade com líquidos e sólidos”, diz Patrícia Jaime, professora do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP.

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2. “Carboidrato à noite engorda”
Não há fundamento científico que mostre isso. A crença seria de que comendo carboidrato à noite a pessoa armazenaria energia mais facilmente porque vai repousar e o metabolismo cai. Na verdade, o que vale é o balanço das calorias ingeridas e queimadas nas 24 horas anteriores.

3. “Dormir pouco dá fome”
Em tese, a falta de sono diminuiria o nível do hormônio da saciedade (leptina) e aumentaria o da fome (grelina). Mas ainda há muito que se estudar, já que uma das consequências de estar acima do peso é ter sono ruim. Assim, não é dormir pouco que abre o apetite, mas o contrário.

LEIA: Dieta: como ela age no seu mundo

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