Dor de cabeça, dor de estômago, azia, um pouquinho de febre, uma dor meio estranha aqui do lado.
Sintomas como os descritos acima são apenas algumas das formas que o corpo tem para sinalizar que alguma coisa não está funcionando bem. E, como ninguém gosta de se sentir mal, nosso primeiro instinto é buscar uma solução – e rapidamente. Assim, prevalece o costume de fazer uma pesquisa bem superficial na internet sobre os sintomas na internet.
Mas, o que realmente causou o mal-estar em primeiro lugar? Essa é uma pergunta que costuma passar sem resposta. O hábito de tratar sintomas isolados, sem o diagnóstico preciso de uma doença, continua fazendo parte do nosso dia a dia. Aceitar uma dica da família ou dos amigos para resolver uma tosse ou uma queimação chata no estômago é visto como algo bem mais fácil do que procurar um médico.
Só que tem um problemão aí. A automedicação virou, por si só, uma questão de saúde pública e está no radar da Organização Mundial de Saúde (OMS) desde a década de 1980. Segundo a OMS, as pessoas estão tomando remédios demais, e ainda tomando errado.
Uma pesquisa do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ) divulgada em 2014 mostrou que 76,4% dos entrevistados praticam a automedicação. O número é maior entre jovens de 16 a 24 anos (90,1% se automedica) e entre pessoas com educação superior (84,4%). Ou seja, nem dá para dizer que a culpa é só da falta de informação ou do acesso restrito ao sistema de saúde.
Clínica online
Em 2011, o estudo internacional de saúde Bupa Health Pulse, realizado pela London School of Economics and Political Science (LSE), mostrou que 87% dos brasileiros buscam informações sobre saúde na internet.
Mas a consulta ao Doutor Internet não pode e não deve servir como diagnóstico e, menos ainda, como receituário. Até porque a automedicação tem consequências, como profetiza o aviso sobre a dengue nos anúncios. Entre 2009 e 2014, quase 60 000 internações causadas por automedicação foram registradas no Brasil. E aí uma dorzinha de nada tratada com o comprimido errado acaba incomodando muito mais do que um telefonema jamais feito para o consultório médico.
Em maio de 2017, a NZN Intelligence divulgou algumas informações sobre automedicação no Brasil. Segundo a plataforma de pesquisas, os remédios que as pessoas mais compram por conta própria são os analgésicos, resposta de 88% das pessoas que participaram do estudo. Em segundo lugar, vêm os anti-inflamatórios (67%) e, em terceiro, os antiácidos (48%). Cada remédio errado afeta o corpo de uma maneira específica. No caso dos antiácidos, usados para acalmar desconfortos estomacais, o uso indiscriminado pode acabar maquiando problemas de saúde mais graves.
A importância de se consultar com especialista
Queimação no estômago, sensação de inchaço abdominal, dores e refluxo são sintomas que afetam cerca de 44% da população, de acordo com um estudo conduzido no Rio Grande do Sul. Dos quase 4 000 indivíduos que participaram da pesquisa, 27% relataram ter essas sensações de forma frequente, mais de seis vezes ao mês.
O desfecho mais natural para um quadro de queimação ou desconforto estomacal é ir até a farmácia. Mas pode não ser tão simples assim. Queimação, sensação de empachamento, refluxo e dores estomacais podem ser a expressão da presença de alguma bactéria em seu organismo.
A melhor coisa, portanto, é procurar por um especialista. É comum, por exemplo, sentir um desconforto depois de um fim de semana de churrasco com a turma. Mas, se os sintomas começarem a impactar na qualidade de vida, é bom tomar uma providência. Pessoas com histórico familiar de câncer no estômago também devem marcar uma consulta preventiva, mesmo que não tenham sintomas.
“Quando o paciente começa a ter uma sintomatologia frequente – se tem os sintomas uma ou duas vezes por semana, se os desconfortos começam a atrapalhar os momentos de lazer ou a própria alimentação –, deve procurar um médico”, orienta o professor Jaime Zaladek Gil.
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