E se o Brasil não organizar a Copa a tempo?
O Mundial aconteceria de qualquer jeito. A Fifa e os patrocinadores não teriam muitos prejuízos. Quem sofreria mesmo seria o País
Ismael dos Anjos
Desde 2007, quando a Fifa confirmou que o Brasil sediaria a Copa de 2014, a ladainha ficou tão popular que virou bordão: “Quero ver na Copa!”. Pois é. E se…? A Fifa e o comitê organizador prontificaram-se a declarar: “Não há razão para qualquer tipo de especulação relativa ao cumprimento de requerimentos e à organização da Copa”. Mas, se o Brasil realmente fracassasse, muita coisa mudaria por aqui. A começar pelo espírito de potência emergente dos últimos anos, alimentado pelo enriquecimento da população. “Mostraríamos total incompetência. Além disso, seria frustrante para os negócios ligados à marca Brasil”, diz Rafael Zanette, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Marketing Esportivo. “E isso atingiria todas as classes – não só aqueles ligados aos esportes, mas o próprio povo brasileiro.”
Se a bola não rolasse em 2014, poderíamos ter uma nova década perdida
DINHEIRO EM FALTA
Estudos estimam que a Copa faria a economia brasileira produzir R$ 142 bilhões a mais que o normal. Sem o evento, este valor cairia, mas não inteiramente, porque o Brasil está colhendo frutos mesmo antes do Mundial. “Empresários já fecharam cerca de R$ 50 milhões em negócios com a Copa”, diz Marcos Nicolas, da consultoria Ernst & Young Terco.
BAIXA NO TURISMO
Com a Copa, cerca de 600 mil estrangeiros (e 3 milhões de brasileiros) são esperados. Eles devem gastar R$ 800 milhões em compras. Mas, sem o evento, perderíamos este dinheiro. “Precisaríamos gerenciar esta crise para fazer com que as pessoas esquecessem tudo isso e retornassem no futuro. Demoraria muito e ainda teríamos uma grande cicatriz”, afirma Zanette.
NOVO ENDEREÇO
Se o Brasil desistisse de sediar a Copa, ela aconteceria de qualquer jeito, mas em outro lugar. Basta lembrar da Colômbia, que, devido a uma crise econômica, transferiu a Copa de 1986 para o México. No nosso caso, como nenhum país vizinho teria tempo de construir as instalações exigidas, uma antiga sede, como Estados Unidos ou Alemanha, salvaria a Fifa do mico.
CANARINHO FERIDO
Se hoje amargamos um 18º lugar no ranking da Fifa e faz tempo que a seleção não empolga, a situação poderia ficar pior. “Com a imagem negativa, seria mais difícil juntar recursos”, explica Zanette. “E se a seleção não está bem, perdemos o referencial. Quantos moleques poderiam deixar de jogar futebol por causa disso?”
AEROPORTOS DE PÉ
Algumas obras impulsionadas pelo Mundial seriam abandonadas. Mas, segundo a Infraero, isso não ocorreria com os aeroportos. O argumento da companhia é que as obras respondem a uma necessidade anterior à Copa. O evento teria apenas acelerado a demanda.
MARACANAZO FORA DE CAMPO
Com investimentos e desenvolvimento fora de campo, há quem espere que a Copa ajude a melhorar a autoestima do brasileiro. Mas, se isso não acontecer, a nossa derrota fora de campo pode ser mais doída do que aquela para o Uruguai, na final da Copa de 1950. Talvez perdêssemos de vez o título de país do futebol.
Fontes Rafael Zanette, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Marketing Esportivo, e Marcos Nicolas, diretor-executivo da consultoria Ernst & Young Terco.